Ha vinte e muitos anos meu amigo Halem Nery batalha contra a Farra do Boi em Santa Catarina. Não está sozinho. Há muitos voluntários nesta empreitada. Sofrem todo o tipo de pressão. Já teve de se mudar para um lugar recôndito. Seus telefones não são listados.
A verdade é que a Farra do Boi é horrível. Trata-se de um espetáculo ignominioso. Os animais são perseguidos sob pauladas e pedradas até cansarem. Depois são mortos, ainda a pauladas e pedradas. Em nome de velhas tradições açorianas.
A verdade é que a Farra do Boi é horrível. Trata-se de um espetáculo ignominioso. Os animais são perseguidos sob pauladas e pedradas até cansarem. Depois são mortos, ainda a pauladas e pedradas. Em nome de velhas tradições açorianas.
Halem e seus amigos são acusados de serem forasteiros, e de fato muitos são gaúchos transplantados. Mas a sociedade gaúcha é uma sociedade açoriana. E de cultura muito forte. Uma geração após sua chegada no Brasil, teuto-descendentes, ítalo-descendentes, descendentes de judeus migrados do Ucraine, da Bessarábia, Polônia e Rússia se sentem à vontade de bombacha e chiripá, chapéu com barbicacho ou boina, prateada na cintura, botas ou alpargatas nos pés. Já vi um engenheiro nisei chegar de São Paulo para trabalhar e um ano depois estava pilchado dançando a chula num Centro de tradições.
Na realidade, como açorianos, ou proto açorianos esclarecidos, apenas podemos lamentar a inflexibilidade que leve certas populações de Santa Catarina a resistir contra o fim da Farra do Boi, hoje crime federal.
Há tribos no norte da América do Sul que possuíam o rito de matar um inimigo, remover a pele com couro cabeludo e tudo e montar a pele sobre um porongo pequeno. O conjunto de pele e cabelos encolhia sobre o porongo e se tornava uma pequena cabeça preservada. Era um rito de passagem.
Na Nova Guiné o rito de passagem era um combate entre tribos vizinhas. O combate hoje é simulado, mas ainda em grande parte do século era verdadeiro e os vencedores se banqueteavam com a carne dos vencidos.
Em muitos lugares do mundo o enforcamento era um ato público. As pessoas se reuniam para verem os criminosos serem executados, com direito a banquinha de pipoca e tudo. As pessoas levavam os filhos pequenos e os seguravam sobre a multidão para que pudessem ver melhor. O mesmo ocorreu até cem anos atrás com o guilhotinamento na França.
Os açorianos tem muitas tradições lúdicas, extremamente atraentes e divertidas, absolutamente vivas no Estado de Santa Catarina. Por que insistir num ritual cruel, inaceitável para pessoas de boa índole?
Essencialmente creio que não aceitem uma mera “malhação do Judas”, que tem sua contraparte na Inglaterra no opróbrio do “Guy”, um boneco representando o conspirador Guy Fawkes que tentou explodir o Câmara do Lordes no século dezessete, porque há nisso uma ânsia de sangue e de ver dor.
Santa Catarina não é nenhuma terra escondida atrás de montanhas e florestas, em que os costumes não possam ou devam migrar. Está no miolo do Mercosul. A Ilha do Desterro (Florianópolis hoje) está bem no miolo do MERCOSUL. Suas universidades têm intercâmbio com algumas das mais respeitáveis instituições do mundo.
Impossível aceitar que certas autoridades batalhem para preservar tradições já alteradas até nas Ilhas do Açores, seu local de origem.
É como se disséssemos: - Em tal época do ano os grupos inimigos podem enfrentar-se com carabinas e os vencidos serão moqueados e consumidos no dia seguinte numa confraternização – ou; - Uma vez na vida, um jovem, ao fazer quinze anos, poderá caçar alguém e reduzir sua cabeça.
Não podemos admitir isto. Hoje exigimos que os matadouros usem as formas menos cruéis possíveis para abater gado, frangos ou porcos. É uma aculturação. Antes das denúncias de Upton Sinclair sobre os matadouros de Chicago no seu livro “The Jungle” de 1906, ninguém se preocupava. Levou muitos anos, mas a aceitação tácita de certos desmandos sumiu. São hoje inconcebíveis.
Por que os cultores da Farra do Boi não podem reformular seus hábitos também? São uma classe especial?
Lembramos que a crueldade ao animal é a marca registrada de psicopatas e sociopatas. A atração por este tipo de chacina, a resistência à migração para formas de celebração sem dor é um sinal preocupante.
Na realidade, como açorianos, ou proto açorianos esclarecidos, apenas podemos lamentar a inflexibilidade que leve certas populações de Santa Catarina a resistir contra o fim da Farra do Boi, hoje crime federal.
Há tribos no norte da América do Sul que possuíam o rito de matar um inimigo, remover a pele com couro cabeludo e tudo e montar a pele sobre um porongo pequeno. O conjunto de pele e cabelos encolhia sobre o porongo e se tornava uma pequena cabeça preservada. Era um rito de passagem.
Na Nova Guiné o rito de passagem era um combate entre tribos vizinhas. O combate hoje é simulado, mas ainda em grande parte do século era verdadeiro e os vencedores se banqueteavam com a carne dos vencidos.
Em muitos lugares do mundo o enforcamento era um ato público. As pessoas se reuniam para verem os criminosos serem executados, com direito a banquinha de pipoca e tudo. As pessoas levavam os filhos pequenos e os seguravam sobre a multidão para que pudessem ver melhor. O mesmo ocorreu até cem anos atrás com o guilhotinamento na França.
Os açorianos tem muitas tradições lúdicas, extremamente atraentes e divertidas, absolutamente vivas no Estado de Santa Catarina. Por que insistir num ritual cruel, inaceitável para pessoas de boa índole?
Essencialmente creio que não aceitem uma mera “malhação do Judas”, que tem sua contraparte na Inglaterra no opróbrio do “Guy”, um boneco representando o conspirador Guy Fawkes que tentou explodir o Câmara do Lordes no século dezessete, porque há nisso uma ânsia de sangue e de ver dor.
Santa Catarina não é nenhuma terra escondida atrás de montanhas e florestas, em que os costumes não possam ou devam migrar. Está no miolo do Mercosul. A Ilha do Desterro (Florianópolis hoje) está bem no miolo do MERCOSUL. Suas universidades têm intercâmbio com algumas das mais respeitáveis instituições do mundo.
Impossível aceitar que certas autoridades batalhem para preservar tradições já alteradas até nas Ilhas do Açores, seu local de origem.
É como se disséssemos: - Em tal época do ano os grupos inimigos podem enfrentar-se com carabinas e os vencidos serão moqueados e consumidos no dia seguinte numa confraternização – ou; - Uma vez na vida, um jovem, ao fazer quinze anos, poderá caçar alguém e reduzir sua cabeça.
Não podemos admitir isto. Hoje exigimos que os matadouros usem as formas menos cruéis possíveis para abater gado, frangos ou porcos. É uma aculturação. Antes das denúncias de Upton Sinclair sobre os matadouros de Chicago no seu livro “The Jungle” de 1906, ninguém se preocupava. Levou muitos anos, mas a aceitação tácita de certos desmandos sumiu. São hoje inconcebíveis.
Por que os cultores da Farra do Boi não podem reformular seus hábitos também? São uma classe especial?
Lembramos que a crueldade ao animal é a marca registrada de psicopatas e sociopatas. A atração por este tipo de chacina, a resistência à migração para formas de celebração sem dor é um sinal preocupante.
3 comentários:
Prezado Ralph,
Neste paíz tudo é possível. Veja as rinhas de galo (com Dudas e tudo mais). É o retrato do descaso, da impunidade. Nunca neste paíz se viu tanta sem-vergonhice e a farra do boi não está excluída. É de matar Sta. Catarina de vergonha!!!!No fundo, gostaria de ver a Ideli na arena....
Começou a guerrilha rural
http://www.averdadesufocada.com/
O problema da "Farra do Boi" só persiste por absoluta inação da polícia. Fossem aplicadas as leis com rigor máximo, o problema desapareceria em três tempos.
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