31 de out. de 2007

Festa no céu para o sapo barbudo

Houve uma festa no céu – conta uma história infantil - mas era só para as aves pois estas podiam chegar voando. Todavia o sapo era doido para ir a essa festa, assim escondeu-se dentro do violão do urubu e assim chegou na festa.
Divertiu-se muito, comeu, bebeu e dançou, mas cansado deu uma paradinha e pegou no sono, nesse ínterim a festa acabou e o urubu foi embora deixando-o no local.
No dia seguinte, quando São Pedro estava arrumando a “casa”, encontrou o sapo que ainda não tinha acordado e irritou-se muito com a invasão da festa por um não volátil. À vassouradas foi levando-o até a porta para jogá-lo fora, mas o sapo tanto implorou que São Pedro resolveu dar-lhe uma opção.
- Sapo, você quer que te jogue no fogo, numa pedra ou na água, - perguntou o porteiro do céu.
O sapo percebeu que havia algo de estranho na pergunta, que seria jogado exatamente onde não queria, assim disse:
- Por favor São Pedro me jogue onde quiser, Só não faça na água porque é o pior para mim.
Assim o santo para castigá-lo o jogou na água, justamente onde ele disse não querer.
O sapo ao ver-se em seu ambiente, ainda agradeceu São Pedro e riu por ter-lhe passado a perna.
Mais ou menos é o que Lula está fazendo com o terceiro mandato, diz que não o quer de forma alguma, mas age como se não quisesse outra coisa na vida. (G.S.)
Sobre o fato escreve Dora Kramer: No âmbito de governo, é preciso ter claro, nada se faz contra a vontade do presidente. Muito menos em se tratando de um presidente voluntarioso como Lula
Até agora, as negativas do presidente Luiz Inácio da Silva sobre o desejo de disputar um terceiro mandato já na próxima eleição soavam convincentes. Menos pela pregação em favor da alternância de poder e mais pela falta de condições objetivas para fazer uma mudança dessa natureza na Constituição.
Mas a entrada do deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) em cena, defendendo clara e objetivamente a proposta sem ser desestimulado pelo maior (em tese) desinteressado, convenhamos, altera a crença na sinceridade presidencial.
Para usar uma expressão do agrado de Lula, o dado concreto é que o presidente não deixa esse samba morrer. Primeiro, fala de sucessão e eleição dia sim, outro também. Segundo, se não quisesse mesmo conversa sobre o assunto simplesmente diria ao amigo dos tempos de sindicalista no ABC para deixar isso para lá
Lula tem intimidade e autoridade mais que suficientes para isso. Se nem adversários – ou contrariados como aqueles empresários que na semana passada entraram numa reunião com ele falando grosso e saíram falando fino – têm coragem de enfrentar Lula, que dirá um fiel camarada como Devanir Ribeiro.
No âmbito de governo, é preciso ter claro, nada se faz contra a vontade do presidente. Muito menos em se tratando de um presidente voluntarioso como Lula. É a notória frase de José Dirceu: "Nada fiz sem o conhecimento do presidente".
É assim que a banda toca lá pelos lados do Planalto. Tocou assim quando o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, defendia a tese da reeleição, enquanto Fernando Henrique negava, e continua tocando assim, até em ritmo mais acentuado. Não que Lula já tenha na cabeça o roteiro da tentativa de prosseguir na Presidência nem que dê sinais de empenho pessoal para levar adiante uma proposta institucionalmente indefensável.
Mas está claro que não desestimula. Parece agir na base do se colar, colou. Não colando, pode sempre dizer que não tem nada a ver com isso, como de resto está dizendo. Mas, e se por uma ínfima chance, prosperar? Se acontecer, já está ficando fora de dúvida, o presidente surfará nessa onda.
Note-se o seguinte: o PT e Lula, tão pródigos na denúncia de golpes e conspirações, não aplicam o mesmo conceito à tese do terceiro mandato. Fosse outro o presidente e a proposta viesse de um aliado assim tão próximo, o que estariam dizendo os petistas? É golpe!
No entanto, o que se ouve do presidente Lula é a vontade inescapável de voltar a "fazer um coelhinho assado", são alertas de que democracia não é brinquedo.
Postas na balança onde no outro prato se põe a proposta e a origem de seu autor, as declarações soam leves, prontas a se desmanchar, voláteis, no ar.

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