10 de out. de 2007

No desespero a culinária

Cooking is by me a physiotherapyO cozinhar para mim é uma fisioterapia (frase de personagem do musical Blitz dos anos 60)

Por Ralph J. Hofmann

De repente reparo que estou escrevendo (gerúndio) tanto sobre regimes e comida? Gula? Fome? Nada disto. Não estou comendo acima do normal. Estou escrevendo sobre comida.
Mas o motivo parece ser exatamente o mesmo que levaria muitos de nós a comer demais, inclusive eu em outras épocas. É a fuga, o stress e o desespero.
Vemos um Renan Calheiros absolutamente despreocupadamente, desavergonhadamente, acintosamente atacar homens honrados, segurando-se de unhas e dentes num cargo que desmerece, ou que no mínimo mesmo que houvesse dúvidas, deveria abandonar a bem da imagem do senado.
Vemos um presidente que alega que abarrotar os quadros de funcionários públicos e salgar os impostos é saudável, isto ante as palavras de seu amigo bissexto, Antônio Delfim Neto que finalmente concordou que os impostos atravessaram a estratosfera.
Vemos números claros de que de todo CPMF recolhido nesses dez anos, não chega a cinqüenta porcento o valor efetivamente aplicado em saúde. Isso era previsível já quando inocentemente Jatene defendeu essa contribuição, mas agora vemos claramente o engodo que foi.
E ainda nos resta uma percepção de que mesmo as pessoas que estão tentando alijar Renan Calheiros do poder até certo ponto estão essencialmente tentando “vestir o rei”, ou seja, remover um praticante descarado dos saques ao erário, para que as coisas possam seguir como sempre, sem escândalos públicos constantes.
Já não nos cabe reclamar. O que estamos ganhando até agora com reclamações? Qualquer Zuanazzi consegue ficar no seu cargo apesar de já estar cheirando a gangrena. Consegue andar na rua sem ser alvo de ovos podres ou tomates.
Um Jobim, que pode ser classificado como autor de molecagens (roubo de sinos, introdução de enxertos na Constituição) anda para cima e para baixo como se fosse um George C. Scott no papel de Patton (consigam um par de revólveres de cabo de madreérola para ele afim de completar a imagem) e se ilude ou nos tenta iludir com essa pose vazia.
Uma Dilma Roussef, indubitavelmente mais eficiente que a média, que monta mil planos que são o que? Papel. Eficiência não é eficácia. Como executar planos com escalões de execução aparelhados pelo partido. Com mãos bobas recolhendo grande massa de recursos pelo caminho como se fosse um caminhão pipa de água que se evapora antes de chegar às bocas dos sedentos. Dilma Roussef para fazer valer sua competência teria de deixar o PT de lado. Teria de gerir em nome da eficácia e não da glória e hegemonia do partido.
Um partido que deveria ser processado pela venda de cargos devido à arrecadação do dízimo que não passa de uma contribuição forçada de todos os contribuintes ao caixa do PT.
Não, ainda neste artigo vou ter de falar de comida. Evita o desespero.
Aos porto-alegrenses lembro o Renânia e o Lawson dos anos sessenta, com as bistequinhas de porco à milanesa, com salada de bata e chucrute. Aos cariocas lembro uma paella e uma sangria naquele restaurante quase ao lado do hotel Luxor Regente em Copacabana. Aos paulistas lembro os antipasti da Família Mancini. Aos Joinvillenses lembro a picanha do velho Rex, como era em 1980. Aos naturais de Caxias do Sul lembro os tortei de abóbora do Gianella, do velho Gianella, da década de setenta.
Comidas simples, essenciais, curativos para a alma.

3 comentários:

ma gu disse...

Alô, meu caro Ralph

Vou 'estar comentando' sua postagem (se não viu, veja o artigo do Arruda - Demiti o Gerúndio - http://www.terra.com.br/istoe/).
Com a sua permissão de abusar do espaço aqui, amigo bissexto, aventado para um ministério, foi ótimo.
Me parece que, quando você senta para escrever no computador, ocorre algum surto ou é visitado por musas diferentes. Sua capacidade, como no início do 'post', de enfiar o dedo em nossas feridas, remexendo-o para doer mais, aproxima-o de Sade.
Em algum momento, a grande massa de recursos para serem recolhidos pelo caminhão pipa vai acabar. Vão ter que tirar 'na marra' dos ricos, porque nossa capacidade de contribuição (?) está acabando.
E pode incluir na sua lista o próximo candidato a sucessor do Maggi. Ora, todas as vezes que um presidente pegou um daqueles 300 a que o molusco se referiu quando esteve no congresso, deu no que deu.
Depois, abeirando-se de Masoch, fala de comida. O Mancini, em SP, dos poucos que sobraram daquele época, hoje é parada obrigatória de ônibus para turistas.
Para concluir, acho que você é mesmo um sacana, por trazer à memória os curativos para a alma que não dispomos mais.

ma gu disse...

Em tempo: Faltou comentar que, se o senado tivesse uma imagem a que você se refere, cada vez que seu presidente se sentasse naquela cadeira, todos os presentes deveriam se levantar e abandonar o recinto. Mas acho que isso é desejar o impossível.

Ralph J. Hofmann disse...

A questão se resolve de certa forma com comida e esporte.
Específicamente com ovos e tomates.
Por ingestão externa dos deputados e senadores.
Pena que no Brasil haja tão poucos lançadores de "baseball". Precisa-se de um bom braço para lançar um ovo podre ou um tomate passado por cima dos seguranças e atingir qas perfumadas vestes dos políticos.
Já Renan Calheiros deveria ser atingido pelo rebatedor. O efeito de um golpe de taco, ainda de "baseball", no indivíduo deveria trazê-lo rápidamente de volta para as esferas terrestres.
Pena que "brasileiro é tão bomzinho"!