8 de out. de 2007

O Senado estuprado!

O jogo sujo de um Parlamento podre para salvar Renan Calheiros

Por Pedro Oliveira Jornalista e presidente do Instituto Cidadão

Os anais do Senado Federal poderão registrar a data de 4 de outubro de 2007 como uma das mais vergonhosas para a história da política brasileira.Em mais uma manobra dos aliados da podridão e da imoralidade tendo à frente o serviçal do Planalto Valdir Raupp, protótipo de líder de marginais, destituiu os senadores Pedro Simon (PMDB/RS) e Jarbas Vasconcelos (PMDB/PE) da Comissão de Constituição e Justiça da Casa.
A manobra suja com o objetivo de proteger o presidente do Senado, Renan Calheiros, atinge não somente duas das figuras mais dignas e conceituadas do Parlamento brasileiro, mas fere de morte o que resta do conceito desgastado de uma instituição à beira da morte, sufocada na própria lama provocada por seus integrantes.
A atitude foi covarde, vil e afrontosa. O presidente do Congresso, com denúncias graves ainda a enfrentar por quebra de decoro no exercício do cargo, deu mais uma manifestação de força, ao "expulsar" da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, dois dos maiores críticos da permanência dele no comando do Senado. A ousadia de Renan e sua base podre foi além: foram designados para substituir as duas expressivas figuras na CCJ nada menos que o abominoso Almeida Lima(PMDB/SE) e Paulo Duque (PMDB/RJ) ambos aliados do acusado.
Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon têm defendido publicamente o afastamento de Renan da presidência do Senado, além de adotarem postura crítica ao governo federal.
O fato foi tão execrável que o presidente da Comissão, o sempre ponderado Marco Maciel declarou estar surpreso com a manobra e que, em sua opinião, o procedimento não está em harmonia com a Casa. "Fiquei surpreso com a decisão do líder do PMDB de afastar os ilustres e operosos senadores. Minha estranheza é tanto maior quando se sabe que tal procedimento não está em harmonia com as tradições da Casa, caracterizada pelo respeito com a opinião dos parlamentares”. Jarbas atribuiu o seu afastamento, "sem dúvidas", a uma articulação orquestrada por Renan. "Estou numa luta que já pressentia. O real PMDB somos nós, estava preparado para o pior. Não posso me surpreender. Passaram dos limites", criticou.
O senado Pedro Simon declarou chocado que nem na ditadura militar sofreu um golpe tão duro como o proferido pelo seu partido. "A ditadura não conseguiu me cassar, e agora me acontece isso. Passei por ela sem ter uma violência como esta. Isso é coisa do grupo deles, Sarney e Renan".
Em nota dura o PSDB solidarizou-se com os colegas do PMDB, que também receberam solidariedade até de senadores da base do governo. O texto assinado pelo presidente Tasso Jereissati diz que “Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos são marcas de dignidade, coragem e honestidade, exemplo para as novas gerações, como homens que não se curvaram nem traíram seus princípios, mesmo no período mais negro do arbítrio”.
A atitude marginal comandada pelos aliados de Renan pode ter causado uma crise sem precedentes que se anuncia para esta semana. Existe a ameaça real de uma renúncia coletiva dos membros da Comissão de Constituição e Justiça, reunindo senadores da oposição e também do governo.
“Cansei de discursos, temos que fazer alguma coisa. A destituição de Simon e Vasconcelos foi determinada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros”, anunciou o senador Cristóvam Buarque, que teve a solidariedade do petista Eduardo Suplicy.
O suspeitíssimo senador Renan Calheiros dá demonstração que mesmo nos estertores de sua morte política ainda tem forças suficientes para afrontar a Nação e atemorizar seus colegas de Sanado, como se a maioria estivesse sob sua “vara de tanger gado”. Estariam todos “com o rabo preso”? Ou dispostos a participar do jogo sujo do “é dando que se recebe”? A lama está no pescoço, resta aos senadores a opção de mergulhar ou emergir. O Brasil vai esperar mesmo no limite de sua tolerância.

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