18 de out. de 2007

Vale perguntar?

Por Adriana Vandoni

As cenas transmitidas durante a tarde de ontem (dia 17) no programa do Datena e a noite no Jornal Nacional, do confronto entre traficantes e a polícia no Rio foram chocantes. Primeiro uma mãe com a filha, feitas baratas tontas, sem saber onde se esconder, exposta no meio do fogo cruzado. Depois a caçada animal a dois garotos, bandidos, vá lá, mas foi uma cena grotesca, animalesca. Senti-me assistindo um safári no canal Animal Planet.
Se isso não é uma guerra, isso é o quê?
Anos atrás estávamos, como de costume no final do ano, visitando a avó no Rio. Meu filho, na época com 4 ou 5 anos, amanheceu com febre. Fomos a um médico em Botafogo. Na volta o motorista do táxi disse: - É melhor abaixarem, está tendo um tiroteio.
No banco de trás, instintivamente deitei meu filho e o cobri com meu corpo, é bem verdade que quase o matei sufocado, mas a minha vontade era de colocá-lo de volta no útero. Um rapaz que não devia ter mais de 20 anos, sem camisa, descalço e com uma bermuda jeans desfiada na barra, cena que de tão marcante jamais esqueci, passou pelo nosso lado com o revólver em punho. Ele tinha acabado de matar dois homens e estava indo, calmamente, para algum lugar seguro.
O que mais me chamou atenção nem foi a expressão do garoto matador, mas a falta de expressão das pessoas. Ao virarmos a rua, menos de duas quadras onde dois corpos estavam caídos, a vida continuava como se nada, absolutamente nada, estivesse acontecendo naquele lugar.
Quinze anos se passaram. Mudou alguma coisa? Sim, a violência agora é transmitida ao vivo. A naturalidade como se mata é devastadora.
Naquele episódio de Botafogo eu me perguntei: o que falta acontecer? O que ainda vamos ter que assistir?
Hoje, em mais um corriqueiro dia de confronto, doze pessoas foram mortas, dentre elas, um menino de quatro anos, que estava em casa e foi atingido com um tiro no coração.
Será que vale a pena hoje, repetir as perguntas que me fiz quinze anos atrás? Acho que não. A resposta pode ser aterradora.

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