A festa

Por Ralph J. Hofmann

Está todo mundo borocochô. A turma está com medo e com raiva. Quem converteu para gás o carro sente que embarcou em canoa furada, assim como quem passou ao álcool em meados dos anos 80, quem converteu sua indústria para gás também está maldizendo a hora, não sabe se todo seu planejamento estratégico não foi por água abaixo, anuncia-se um apagão, a área técnica da Petrobrás está levando um chute após ou outro apesar de só ter feito seu trabalho e resistido à tentação de se defender.
Então o festeiro, o caipira de festa de São João decide. Vamos fazer uma festa.
Junta pinhão e mandolate, pipoca, guaraná e quentão, reúne a imprensa e brada:
“O pai velho lá de cima nos deu um mar de petróleo! A pátria está salva!”
São 72 horas de euforia. As bolsas sobem. Quem sabia da festa deve ter se locupletado. “Deus ainda é brasileiro!”; gritam uns, “Deus não! É a sabia ação do Grande Timoneiro que fez a Petrobrás furar os poços no lugar certo!”; dizem outros.

E aparecem aqueles de longa memória. Esta novidade é velha. E dão hora e data um ou dois anos atrás quando uma discreta notícia falava de estudos sobre esse mar de petróleo.
Hoje as bolsas caíram. Os especuladores realizaram os lucros. Os entusiasmados caíram em si.
Sim, a Pátria está salva. Nunca esteve perdida. Mas é porque o pessoal da Petrobrás ainda consegue trabalhar à margem das patriotadas. Não devido aos arroubos de grandeza dos executivos da empresa e do Poder Executivo da nação.
Nunca dou razão ao Hugo Chavez. Mas esta vez a ironizada do energúmeno para com o Lula foi merecida. Lula agiu como um homem de sessenta e dois anos que, se morrer seu primo de trinta anos herdará uma fortuna. E o primo goza de uma saúde férrea e não é bicha nem desgosta de mulher, portanto poderá gerar filhos.
Todos os fabricantes de equipamento de exploração, plataformas, etc. estão com as carteiras de pedidos repletas. Ocorrendo imprevistos num poço a Petrobrás as vezes tem de improvisar porque os equipamentos necessários à manutenção a serem locados estão com a programação de atendimento a clientes cheia até 2010. As vezes não dá para improvisar.
Tudo isto a Petrobrás, se lhe apresentassem um plano ou lhes deixassem criar um plano, contratar seus fornecedores poderia ter administrado.
Mas desde 2003 os peritos lutam contra os ungidos. O sujeito recebe uma alta atribuição na Petrobrás, assume o cargo, e por estar numa posição de mando crê que entende, que pode tomar decisões. “Afinal, o chefe aqui sou eu ou és tu?”
Pois é. A festa foi boa. Mas tomaram muito quentão. Que era de vinho ruim. Cheio de sulfetos. Agora? Agora vem a ressaca.