20 de nov. de 2007

O que move Renan

Por Chico Bruno

Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB no Senado, escolhido para relatar na CCJ, o segundo processo de cassação do presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros, descobriu a pólvora.
Ele acha que o julgamento na próxima quinta-feira (22) só interessa a Renan, pois o alagoano está trocando sua absolvição por votos favoráveis a prorrogação da CPMF.
O raciocínio de Virgílio segue o que já foi exposto pelos analistas políticos. Se o julgamento ficar para depois da votação da PEC da CPMF, os senadores petistas não se sentirão mais obrigados a absolver Renan com receio de perder os votos da tropa de choque do alagoano para aprovar a CPMF.
O que reforça a tese do adiamento é o fato de Renan ter solicitado a Tião Viana que a sessão plenária, que vai apreciar a sua cassação, se realizasse bem antes da que irá votar a prorrogação da CPMF em primeiro turno.
Renan acena, ainda, em seu périplo pela absolvição, com a renúncia a presidência do Senado em definitivo na véspera ou no dia da sessão. Com esse gesto, Renan imagina que irá quebrar resistências na oposição e entre os governistas desejosos de vê-lo longe do Senado.
Ao cair à ficha de Virgílio, ele vislumbra uma situação esdrúxula. Adiar o julgamento de Renan, para depois da votação da CPMF é ruim para ele, mas votar na quinta-feira (22) pode ser um desastre para o governo, pois em cinco dias tem que ser escolhido o novo presidente da Casa, o que colocará em segundo plano a votação da CPMF. Eis a questão para Virgílio. Ser ou não ser. Pelo sim pelo não, ele preferiu, usando a prerrogativa de relator, adiar seu parecer para a semana que vem.
O gesto de Virgílio é como um tiro ao pombo. Atinge Renan, que estava pronto para renunciar a presidência do Senado em troca da absolvição. Lula, que barganhava a absolvição em troca da aprovação da CPMF e José Sarney (PMDB-AP), que por debaixo dos panos empurrava o discípulo e novo peemedebista Edison Lobão (MA) para substituir Renan na presidência do Senado.
Mudando de conversa. Muita gente se pergunta sobre o que move o apego de Renan ao mandato. Uns acham isso, outros aquilo, mas ninguém imagina que o que está por trás da luta de Renan pelo mandato é algo que o atormenta e não tem nada a ver com a política.
Com certeza não é o ostracismo político pregado na defesa do senador Almeida Lima (PMDB-SE), de que a cassação representa a morte política do alagoano, que ficaria 15 anos sem mandato.
O apego de Renan ao mandato é ditado por uma questão que não tem nada a ver com o que parece. O mandato ameniza essa situação, pois com poder e prestígio ele a contorna. Aliás, é graças ao mandato, que ele tem conseguido manter essa questão distante do foco da mídia, um desconforto que o persegue dia e noite. Muito maior do que o caso com a jornalista.
É por isso, que os senadores que conhecem a situação pendem a absolvê-lo, pois ninguém pode dizer que está livre de um calvário dessa magnitude.

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