10 de nov. de 2007

Testemunhas equivocadas e o caminho para o patíbulo

Por Pedro Oliveira Jornalista e presidente do Instituto Cidadão.

(Brasília) Circulando pelos corredores do Senado, conversando com alguns senadores e ouvindo conversas no “cafezinho”, estou convencido de que Renan Calheiros vai mesmo perder o seu mandato ao ser julgado no terceiro processo por quebra de decoro parlamentar, no Conselho de Ética. Na verdade tudo pode acontecer, pois ninguém é doido em acreditar em conversa de político, mas até em setores da base aliada do governo a expectativa é pela cassação.
O afastamento da presidência do Senado e uma manjada “licença de faz de conta” não ajudaram em nada para acalmar os ânimos contra Renan.
Esta semana sofreu várias derrotas. Armou muito mal um rol de testemunhas em sua defesa que só lhe trouxeram prejuízos. A começar pelo juiz Marcelo Tadeu, da Vara de Execuções Criminais de Alagoas, cujo papel era desqualificar o ex-deputado João Lyra que é acusado de ser o mandante da morte de um tributarista. Tadeu nada sabia de compras suspeitas de rádios, de laranjas, nem de “transações tenebrosas”. Causou péssima impressão diante do relator do processo, senador Jefferson Peres, que não estava ali para ouvir futricas regionais, nem acusações de crime de mando. Ao final declarou: “foi um depoimento inócuo, sem sentido e absolutamente nada acrescentou”. Em, alguns momentos do depoimento do juiz Peres chegou a demonstrar irritação. Tadeu afirmava na oportunidade: "Meu depoimento foi uma oportunidade para relatar aos senadores a gravidade do crime organizado em Alagoas”. Tudo um jogo de cena mal elaborado.
Ainda em sua tática de se defender acusando, Renan não permitiu o depoimento daquele que é tido como o seu principal “laranja” na compra das rádios e órgãos de imprensa, o empresário Ildefonso Tito Uchoa. O acusado de testa-de-ferro recebeu apenas um questionário enviado pelo relator. E todos ficaram a se perguntar: por que Tito Uchoa se recusou a depor? Receio de cair em contradições? Medo de enfrentar a perspicácia do respeitado senador Jefferson Peres? Só eles sabem os verdadeiros motivos.
Das testemunhas de Renan falta ser ouvido o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho que deverá depor no dia 13 próximo, mas ouvi do próprio Jefferson Peres que: “será um depoimento que também nada deverá acrescentar, por isso mesmo já marquei para o dia seguinte a entrega do relatório”.
Se desejar, o relator tem muita gente qualificada para ouvir e certamente estes depoimentos não serão inócuos. O radialista França Moura, que afirma ter sido contratado pelo próprio Renan para trabalhar em sua emissora de rádio, ouvir os profissionais que atuavam ou atuam nos veículos de comunicação que pertenceriam ao senador e o próprio presidente do Sindicato dos Radialistas à época, Marcos Guimarães, que devem ter muito que dizer. O relator tem história de honra para contar e acredito que seu voto será incontestável, mas precisa, sem dúvida, esgotar uma pauta de investigação que pode fazer falta em seu relatório. Não precisa tanta pressa.
Dizia-me uma das maiores lideranças do PSDB no Senado: “Com sua primeira absolvição no plenário Renan ganhou e logo perdeu a sua liberdade condicional. Preferiu render tributo à soberba, imaginou que conseguiria dobrar a Casa. Mas do que a petulância é a mentira recorrente que vai o levar à derrota. O Senado não vai mais uma vez afrontar a sociedade e mergulhar seus princípios na lama”.
Pelo que pude observar, ver e ouvir estes dias em Brasília, Renan está condenado e mesmo que por milagre ou manobra consiga escapar da cassação, terá no Senado a trajetória de um “zumbi”, um cadáver insepulto.

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