4 de nov. de 2007

Um homem sério

O Deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), pode ter um monte de defeitos. Alguns lhe são atribuídos e outros existem realmente, todavia não se pode negar a coerência de seus pensamento até quando os mudas, a outra característica do deputado é a honestidade incontestável. Ele escreve o artigo abaixo, que foi publicado por Josias de Souza.
“Há um verso de Drummond que diz: ‘Também sou brasileiro, moreno como vocês’. Continuo moreno, mas às vezes duvido se sou mesmo brasileiro. Talvez pelos longos anos de exílio, ou pela ausência de um equipamento mental adequado, o fato é que fico perplexo no momento em que todos parecem eufóricos.
Acho estranho que governo e oposição briguem tanto em torno das verbas de saúde e sejam tão unanimemente festivos quando se comprometem a gastar com futebol. Não condeno gastos com a Copa, apenas lamento que essa ruidosa concordância não se dê em torno de outros temas essenciais.
Mais curioso ainda é o deslocamento de governadores para Zurique. Será que nenhum deles tinha algo mais importante a fazer? Em outras palavras: nenhum deles teve a coragem de dizer aos seus eleitores que a viagem, em termos de custo-benefício, não compensava?
Com tantos aspones, marqueteiros e puxa-sacos, certamente pesaram seus passos e acharam que sim, compensava, em termos eleitorais, participar da caravana internacional. Sempre nos acusam de espírito de vira-latas quando criticamos esse espalhafato. Mas não seria espírito de vira-lata toda essa ansiedade e oba-oba quando somos candidatos únicos? E essa história de escritores com metáforas duvidosas, essa mania de aplaudir entrevista coletiva, como fizeram como a de Ricardo Teixeira?
Será que os aspones acham que impressionam os repórteres? Teixeira usou na entrevista um recurso, momentaneamente, típico no Brasil. Questionado sobre a violência, afirmou que ela existe também nos EUA e na Inglaterra. Tirem EUA e Inglaterra e coloquem "governo passado" e terão a fórmula mágica.
Pior que, na caravana, estavam governo presente, passado e, possivelmente, futuro. Lembro-me de que, quando jovem repórter, fiz, numa coletiva em Portugal, pergunta sobre a ambigüidade brasileira na ONU em relação à independência dos países africanos. O então chanceler Juracy Magalhães respondeu irritado: como é possível torcer contra o Brasil? Considerava as dúvidas como antibrasileiras.
Quando todos celebravam, amargava minhas dúvidas, não sobre a Copa, mas sobre essa trajetória de provincianos ruidosos em Zurique. Entre aplaudir a entrevista de Ricardo Teixeira e vaiar até minuto de silêncio, há margem de manobra. Continuarei vaiando os governos do passado, do presente e do futuro próximo. Certamente vão perguntar: como é possível torcer contra o Brasil? De certa forma, é minha especialidade. Se ser brasileiro é isso, não contem comigo.”

2 comentários:

Anônimo disse...

Respeito o Gabeira embora com muitas diferenças, especialmente nas opções de vida.
E sou totalmente contra os gastos com a Copa!
Aceitaria esses gastos, com naturalidade, se a saúde estivesse em condições de aliviar a dor dos brasileiros mais necessitados!

É absurdo e falta de responsabilidade, dignidade e sensibilidade, enfiar alguns bilhões de reais no futebol (como o conhecemos...), enquanto se vive a fantasia "de que" a saúde está "perto da perfeição".

É...
Não se pode esperar mais que isso de figuras que usam o "Bolsa Fahumilha" para ganhar os votos que não teriam de maneira consciente.

Lúcio Lopes disse...

Nesta caravana à Suíça só não entendi o que José Serra fazia no meio daquela ralé.
Sobre Gabeira, é um dos, provavelmente, dez nomes que se salvam do mar de corrupção que é a Câmara Federal.