30 de dez. de 2007

Trabalhar Eu Não

Josias de Souza
O signatário do blog anuncia aos seus 22 leitores que é um novo homem. Às portas de 2008, se deu conta de que quem ele era não estava preparado para enfrentar os desafios de um novo ano. Foi bom enquanto durou. Mas agora chega.
Quem lhes escreve é outro. Manteve o mesmo nome. Trocar os documentos daria muita dor de cabeça. Mas é uma pessoa inteiramente diferente. Para começar, desistiu do trabalho. Abraçou o ócio.
Até meados de janeiro, numa espécie de projeto piloto de sua nova identidade, o repórter vai desfrutar de um velho privilégio: verá os proventos ingressarem na conta bancária sem despejar uma gota de suor. De resto, abandonará todas as antigas convicções.
Das memórias do homem que foi até aqui restará pouco. Politicamente, continuará situando-se à direta de Lula ou à esquerda de Lula, dependendo da época. Mas preferirá ser essa metamorfose ambulante.
Os gostos serão mutantes. Oscilarão entre os ‘Bs’ e os ‘Cs’ essenciais. Para ouvir: Beethoven e Cole Porter. Para beber: beaujolais e café. Para espairecer: bordejar e cadeira de balanço. Para reler: Bandeira e Cervantes.
Se sobrar tempo, evoluirá para os ‘Ms’ básicos: Miles Davis, Marguerita e Machado (o de Assis, bem entendido). Caberia uma ida ao Masp. Mas, do jeito que a coisa anda, melhor visitar a mãe-de-santo.
Embora seja agnóstico, o repórter prestará redobrada atenção à coleta da megasena. Se acumular, jogará. E oferecerá a Deus uma chance de provar que existe. Se Ele não der o ar da graça, o blog voltará a ter, a partir de 15 de janeiro, aquela velha opinião formada sobre tudo.
Estará provado que, fora da política, a metamorfose tem um limite. O limite das dívidas que vencem no final do mês. Não restará senão retomar o senso prático e voltar a encharcar a camisa para reencher a geladeira. Portanto, fique atento. Se o repórter não retornar em poucos dias, é porque recebeu um sinal divino.
PS.: aferrado ao velho e imutável ceticismo, o novo homem passará por aqui vez por outra, nos intervalos entre os ‘Bs’ e os ‘Cs’ essenciais –talvez os 'Ms' básicos. Liberará os comentários e atualizará as manchetes do dia. Como diz Marcelo Tas, blog é como delegacia de polícia. Não fecha nunca. Nem quando está em processo de metamorfose. Até a volta. Isso, claro, se Deus não conseguir demonstrar que existe.

Um comentário:

Anônimo disse...

É isso aí: em 2008 também vou me aposentar de trinta e cinco anos como professora. Já comprei até uma tela e tintas pra iniciar minha nova carreira de pintora. Já estou pesquisando meus novos cursos, meus novos gostos, minhas novas viagens, tudo regado a reconhecimento dos meus erros e acretos do passado e de muita esperança na vida. Bom ano. Adriana, vi seu artigo no alertatoral hoje. Já tinha lido aqui. Muito belo. Às vezes difiro de suas idéias, mas amo muito você e seu blog. Parabéns.