11 de jan. de 2008

Katchánga

Por Ralph J. Hofmann

Um grupo de empresários conseguiu a concessão única para abrir cassinos em certo país.
Construíram um belíssimo hotel temático o “Piratas de Caribe”, levaram para lá as mais sofisticadas instalações para o lazer, trouxeram os mais famosos cantores, orquestras e humoristas, hospedaram gratuitamente as mais lindas modelos, e importaram para complementar o talento local as mais requintadas garotas de programa do mundo.
Eis que um dia mudou o governo, seja por eleição, golpe de estado ou revolução. O cassino não sentiu diferença alguma. Sempre contribuíra para os que exerciam cargos no governo anterior, mas nunca negligenciara alguma coisa para as oposições, fossem partidos, fossem revolucionários escondidos nas florestas tropicais. Simplesmente corrigiu para cima o óbolo os que passaram a ocupar o poder, e para baixo aquele relativo aos que haviam perdido o poder.
Estas organizações costumam ter um indivíduo que costuma monitorar quem são as pessoas que desembarcam de seus carros na porta do estabelecimento.
Um dia o diretor executivo foi procurado por este funcionário que lhe informou que havia chegado um certo major, cercado de seguranças armados, que era o filho do general que naquele momento estava no poder.
Imediatamente o diretor desceu à sala principal do cassino e recebeu formalmente o jovem major, mandou servir uma taça de Crystal e colocou o cassino à disposição do mesmo.
Ainda instruiu aos funcionários que deixassem o rapaz jogar qualquer coisa que quisesse, e aceitassem qualquer aposta que fizesse.
O major passou algum tempo na mesa de bacará, jogou dados, visitou a roleta e jogou um pouco de pôquer. Ganhava e perdia modestamente. Nada demais. Um bom cliente.
Contudo de taça em taça, imperceptivelmente o jovem foi se embriagando. Mas com toda a dignidade do mundo.
Lá pelas duas horas da manhã o diretor recebeu uma ligação interna do encarregado da mesa de pôquer. – Doutor ele agora quer jogar Katchánga!
-Pois então jogue essa Katch-qualquer-coisa com ele!
- Mas não sei que jogo é este. Até consultei a Internet e não achei nada.
- Bom meu rapaz, este sujeito é muito importante para nós, pergunte a ele como se começa e vá tocando de ouvido.
Ficou monitorando pelo vídeo de segurança. O carteador distribui para si e para o jogador uma série de cartas com a face para baixo. Começou a virar a primeira quando o major mais que depressa virou todas as suas cartas e gritou: Katchánga! E passou todas as fichas do jogo para seu lado da mesa.
Foram dadas as cartas novamente. Novamente mal as cartas haviam sido viradas o jovem gritou Katchánga e arrebanhou as fichas.
Assim aconteceu sucessivamente por algumas horas. O Cassino já estava no vermelho em relação ao lucro de vários dias.
Finalmente o diretor, que a tudo assistia pelo monitor interno ligou para o carteador; - Acho que já entendi.As cartas não fazem sentido, você tem de desvirar as cartas mais rápido que ele e gritar Katchánga bem alto e com ênfase.
O funcionário fez o mandado. Pela primeira vez gritou Katchánga enquanto desvirava as cartas.
Mas não adiantou nada. O cliente fez um movimento negativo com o indicador, fez um tsk-tsk-tsk com a boca, apontou para suas cartas, que não faziam qualquer sentido e gritou: - Katchánga Real ! E arrebatou as fichas de novo.
Essa piada pode não ser muito engraçada. Mas espelha claramente as relações do atual governo com a sociedade brasileira.
Sempre que nos animamos ao ver a rejeição de um abuso contra a sociedade o governo Lula grita: Katchánga Real!
E nós ficamos a ver navios.

2 comentários:

tunico disse...

Hehehe, essa eu conhecia como "panatcha" e panatchas somos nós, né?

Ralph J. Hofmann disse...

Katchánga tem o som de um ferrolho de carabina. Muito mais impactante.