21 de jan. de 2008

Literaturas

Por Laurence Bittencourt Leite, jornalista

Li o livro do historiador local, Lenine Pinto “O Reino das bestas feras”. Terminei de reler o melhor conto escrito por Kafka “O veredicto” e recebi de Vicente Serejo (que ainda não li, mas lerei esta semana) “Mefisto”, um romance escrito por Klaus Mann, o filho de Thomas Mann, livro pouquíssimo conhecido, mas que é considerado um clássico, por pegar carona na esteira do velho e também clássico de Goethe (a famosa peça de teatro) “Fausto”, mas concebido (o livro de Klaus Mann) através da história real do seu cunhado Gustaf Gründgens, que durante o nazismo encontra o apogeu de sua carreira de ator.
Literatura e artes em geral são o máximo, segundo Freud (ao lado da Ciência) onde o ser humano pode ir, como um recurso para fugir da animalidade primeira ou primitiva. Concordo com o pai da psicanálise. O livro de Lenine teve “orelha” de Dalton Melo que eu considero uma das melhores cabeças do nosso estado (RN) e um privilégio para todos aqueles que podem desfrutar da leitura semanal de seus textos no Jornal de Hoje, textos sempre profundamente esclarecedores. O prefácio é do jornalista Vicente Serejo que dispensa comentários. Já foi dito que Serejo é o nosso maior cronista. Acho pouco diante do seu talento.
Bom, mas quando o livro de Lenine foi lançado pelo que li nas folhas, pareciam mais, pequenos perfis sobre os principais atores da Segunda Grande Guerra. Ledo engano. Lenine é um historiador nato, um escritor de mão cheia e dedicado, e principalmente um conhecedor. Há sim, no livro, uma espécie de pequenas biografias dos principais atores como também dos secundários que viveram e fizeram a 2ª Guerra. Mas o livro traz muito mais que isso. Bem mais.
No “Reino das bestas feras” começa alargando os horizontes para todo aquele que se interessa sobre o que ocorreu e o que se passou durante aqueles anos fatídicos, a contar da ascenção de Hitler ao poder em 1933 na Alemanha até a derrocada final do nazismo em 1945. Lenine chama a esse inicio de “O começo do começo”, inclusive fazendo um paralelo interessantíssimo (onde podemos medir o que é uma mente totalitária e uma mente democrata) com a chegada ao poder nos EUA de Franklin Delano Roosevelt. O paralelo é interessante porque tanto Hitler quanto Roosevelt tinham assumido países que estavam emocionalmente abalados. A Alemanha ainda ressentida com a derrota na Primeira Guerra e a imposição dos aliados do Tratado de Versalhes e os Estados Unidos com o crack na Bolsa de Nova York em 1929 levando o país a um período negro em sua historia econômica.
Diante do quadro, Hitler vai para um totalitarismo mundial, e Roosevelt para a recuperação econômica do país do norte. Mas Lenine traz à tona todo o anti-semitismo nazista, a encenação política (sempre a política) do partido nazista ao atear fogo no Reichstag e depois por a culpa nos socialistas, tudo com o objetivo de desencadear a perseguição, passando pela queima de livros (o que mostra como a sublimação freudiana estava ausente do pensamento de Hitler e seus asseclas, só pensavam em política), até o massacre final explicando o Holocausto. Lenine nos dá minuciosamente uma cronologia do conflito explicando passo como tudo sucedeu. É um livro impar, e um acréscimo genuíno ao que já se tinha escrito sobre o grande conflito mundial que dizimou mais de 60 milhões de pessoas em todo o mundo.
Já o livro-conto de Kafka escrito em uma noite, chamado “O veredicto” (que incrivelmente alguns historiadores querem antever a chegada do nazismo) mostra com força indelével todo o gênio do escritor que mudou para sempre a literatura mundial. O livro conto (curtinho) conta a história de Georg Bendemann em sua luta contra o pai tirânico e aprisionador que o impede de libertar-se de suas garras e de casar-se (Kafka teve três noivados mas não consumados em nenhum casamento). O conto é impecável e foi dedicado a sua noiva na época Felice Bauer. Do ponto de vista estilístico é um primor e traz nele todo humor grotesco de sua prosa e seu realismo sóbrio e elegante. O final do livro é exemplar e digno da literatura kafkiana. Dois meses depois de escrever “O veredicto” Kafka se debruça e escreve sua obra-prima “A metamoforse”.
Quanto ao livro de Klaus Mann assim que terminar de lê-lo comentarei sobre o mesmo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vou parar de ler o Brasil, vem o impulso de violar normas e o stress... Considerando que MS tem muito de MT, veja o que li em CHumberto: "A morte de Maria de Lourdes Fernandes, 66, em Dourados (MS), é um mistério. O Ministério da Agricultura nega que tenha sido vítima do "mal da vaca louca" e descarta a variante humana da doença de Creutzfeldt-Jacob , de sintomas idênticos, provocada por carne de bovinos alimentados com "cama de frango", ração proibida no País. O atestado de óbito aponta a doença de Creutzfeldt-Jacob ou "doença priônica", raríssima em humanos." Lembrei o texto de Ralph (aquele da aeronave e estrangeiros). E agora? Estamos abandonados...