14 de jan. de 2008

Quem chegar primeiro

Por Carlos Chagas

As eleições presidenciais acontecerão em 2010, mas é sempre bom repetir o provérbio árabe, de que bebe água limpa quem chega primeiro na fonte. O ano que começa agora não será de decisões finais a respeito das candidaturas, mas quem perder um dia sequer dos dispostos à sua frente poderá arrepender-se mais tarde.
Se não está completamente limpo, o horizonte poderá abrir-se para todos. Começando pelo PT: as pesquisas recentes indicam o fracasso de qualquer companheiro que não seja o Lula. Dilma Rousseff, Marta Suplicy, Tarso Genro, Patrus Ananias, Jacques Wagner e outros não disporiam, hoje, das menores condições para eleger-se.
As duas hipótese antes viáveis para o PT viraram fumaça, porque José Dirceu e Antônio Palocci não existem mais como candidatos. Adianta muito pouco o ex-chefe da Casa Civil fazer implante de cabelos ou o ex-ministro da Fazenda pontificar, na sombra, como aquele que melhores soluções encontra para a economia.
Daqui até 2010, porém, quem garante que alguém no PT poderá crescer e recuperar a desgastada imagem do partido? Qualquer um dos acima referidos ou até outro não citado, desde que não percam o ânimo e a esperança.
Sempre haverá, no partido, a corrente cada vez mais forte do "plano B", ou seja, daqueles que, indignados com a perspectiva da perda do poder, sustentarão o terceiro mandato para o presidente Lula. Essa possibilidade, no entanto, é complicada e só aconteceria no bojo de uma crise, artificial ou verdadeira, mas jamais este ano. Nova reeleição do Lula ficará na prateleira, assustando uns e alimentando a esperança de outros.
Ainda pelas pesquisas, e vale a ressalva de que pesquisas não ganham eleição, manter-se-á nos percentuais a serem divulgados semana que vem o favoritismo de José Serra, do PSDB. Muito porque já foi candidato e seu nome ficou na memória do eleitor, como, também, por conta da frustração da classe média diante do governo do PT. Coisa que não significa favas contadas, até porque o atual governador de São Paulo e a empatia eleitoral são antípodas.
No ninho dos tucanos agasalha-se também o governador de Minas, Aécio Neves, prejudicado pelo domínio paulista na direção do partido, mas sempre uma alternativa poderosa. Aecinho já deixou claro não aceitar a vice-presidência na chapa de Serra e deverá, no correr deste ano, dar passos fundamentais no rumo da concretização de sua candidatura. Na frente dos demais, percebeu não haver para o Brasil, faz muito, um plano diretor, um elenco de metas e objetivos a alcançar acima e além das obrigações partidárias. Já tem gente ligada a ele trabalhando na matéria.
Constituirá sonho de noite de verão em plena tempestade de inverno supor mais algum tucano nas cogitações, para desespero de Fernando Henrique Cardoso e acomodação de Geraldo Alckmin.
O maior partido nacional sempre será uma opção teórica, ainda que, na prática, os fatos desmintam as evidências. Ulysses Guimarães e Orestes Quércia sofreram derrotas humilhantes, depois disso o partido virou apêndice desimportante de outros candidatos. Apoiou Fernando Henrique Cardoso e o Lula.
Quem garante que desta vez não será diferente? Que o PMDB não apresentará candidato? Isso, é claro, se o grupo fisiológico não interferir, porque anos atrás Itamar Franco poderia ter voltado ao Palácio do Planalto como candidato absoluto, mas foi torpedeado por Jader Barbalho, Joaquim Roriz e outras péssimas companhias. Hoje, Itamar deixou de ser alternativa, mas há quem pense no governador Roberto Requião, do Paraná, e até no ministro da Defesa, Nelson Jobim.
Mesmo mudando de nome, o antigo PFL, agora DEM, continua sem opções eleitoralmente viáveis. Claro que Marco Maciel dispõe de todas as condições para presidir o País, como já presidiu interinamente ao longo dos oito anos de FHC, mas falta-lhe apoio interno. Não deu certo a tentativa anterior de fixar César Maia, como será precipitação apostar em José Roberto Arruda. Aos democratas abre-se a mesma viela tortuosa de sempre: servir de linha auxiliar dos tucanos.
Os partidos menores agitam-se mais ou menos como as esquerdas no tempo do regime militar: só se unem na cadeia. O PSB já definiu que não apoiará qualquer candidato do PT, porque já tem o seu: Ciro Gomes. Pelo contrário, os socialistas esperam que o partido oficial, sem alternativas, venha a apoiar o ex-governador do Ceará. O diabo é que o PPS, ex-Partido Comunista Brasileiro, foge de Ciro como o diabo da cruz, ao tempo em que o PC do B parece mais leal a Lula.
O Psol sairá de Heloísa Helena, outra vez, e o PDT, órfão de Leonel Brizola, ainda pensa. Quanto ao PTB de Roberto Jefferson, encontra-se às vésperas da implosão. Com seu atual presidente, o partido não poderá seguir Lula para onde quer que ele vá, a não ser que se fixe em Ciro Gomes e abra, no PT, a maior de suas crises.
Em suma, se não estamos diante do dilema cruel de escolher entre Hillary e Barack, nem por isso surgem definidas as hipótese futuras. Mas, vale repetir, será trabalhando em torno delas que se chegará a algum resultado.

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