20 de fev. de 2008

Em Brasília: pós-graduação em pilantragem

Quando são condôminos do poder - governantes, legisladores, ministros e secretários, dirigentes de órgãos da administração direta e indireta - os acusados de esbórnias com recursos públicos, a opinião pública fica indignada, mas não exatamente surpresa.
O acúmulo de escândalos ao longo do tempo no fundo habituou a sociedade a esperar o pior de todos quantos gravitam na órbita estatal. O mensalão, estilhaçando a imagem impoluta difundida desde sempre pelo partido que o criou, terá removido as últimas ilusões sobre a integridade dos políticos: o que espanta o comum das pessoas são as evidências de mãos limpas entre eles, não o seu contrário.
É o que torna especialmente chocantes as revelações de que, além dos suspeitos de costume no caso do uso abusivo dos cartões de crédito do governo, também membros presumivelmente austeros da comunidade acadêmica brasileira fizeram farra com o dinheiro alheio.
Perto do que a imprensa vem divulgando sobre gastos espúrios na Universidade de Brasília (UnB), denunciados pelo Ministério Público do Distrito Federal, os 'erros administrativos' que custaram o cargo à ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, empalidecem. Ela usou o cartão corporativo para pagar uma compra de R$ 461 num free shop e gastou R$ 175 mil com locação de carros. A Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), entidade de fomento à pesquisa ligada à UnB, que recebe recursos estatais e particulares, gastou R$ 470 mil na reforma e decoração do apartamento de propriedade da instituição, onde residia seu reitor, Timothy Mulholland, até o vexame vir à tona. Ele manifestamente não viu nada de mais, nem na flagrante malversação de fundos, que deveriam promover a ciência e a tecnologia, nem nos detalhes mais acintosos do dispêndio, como a compra de um saca-rolhas de R$ 859 e de três lixeiras de até R$ 990 cada.

(*) Ilustração: Logomarca da UnB

2 comentários:

ma gu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ma gu disse...

Alô, Giulio.

Aproveitando seu post, que fala em remover ilusões sobre a integridade, abriu um espaço para contar uma pequena historinha:
Tenho um amigo que não é petista, apesar de metalúrgico nos tempos idos do 'baiano' (apelido do presimente naquele tempo). Ele conseguiu acumular mais de 10 amigos petistas (um verdadeiro santo!).
Outro dia, numa longa conversa regada a vinho e queijo, ele me contou que todos eles não são mais petistas, exatamento por terem se decepcionado ao verem as atitudes no poder contra os princípios anteriormente declarados.
Assim como aqueles, espero que isso tenha ocorrido muito mais, pelo menos entre os pensantes.
Por isso é que acho que as pesquisas de popularidade do sapo são feitas apenas entre os 'bursáteis', no dizer de Jayme Guedes (por falar nele, cadê?). Enquanto estiverem recebendo a bolsa, o sapo está lá em cima.