12 de fev. de 2008

Mentiras/justificativas

Por Peter Wilm Rosenfeld

O atual governo vem se utilizando mais e mais de deslavadas mentiras, repetindo-as “ad nauseam”, talvez para seguir a máxima de Joseph Goebbels, ministro de propaganda do hitlerismo: “mentiras repetidas inúmeras vezes acabam se transformando em verdades”!.
Os casos são inúmeros: “mensalão”, “saúde quase perfeita”, “operação tapa-buracos”, “apagão”, etc. A bola da vez é a relacionada com os cartões corporativos, que foi o tema de meu artigo anterior.
Talvez essas campanhas, agora orquestradas pelo Goebbels brasileiro, Min. Franklin Martins, consigam iludir as pessoas menos instruídas que, ademais, só sabem o que acontece no país via rádio e TV, já que não sabem ler e, se soubessem, não entenderiam, como demonstram todos os testes feitos com os estudantes brasileiros.
Para adicionar, as mentiras vão mais longe: as novidades mais recentes dizem respeito à “segurança nacional”. Os que viveram nos anos da Redentora, sabem muito bem que o argumento de segurança nacional foi invocado para não divulgar, via proibição aos veículos de comunicação, certos segredos que nada tinham que ver com “segurança”; “in extremis”, mesmo a cor das cuecas de um dos figurões da vez era assunto que não podia ser revelado....
No caso atual, repetirei aqui um conceito emitido pelo Min. Marco Aurélio Mello, membro do STF e penso que ainda Presidente do TSE: “Se a Presidência da República tem gastos, esses gastos devem ser revelados. Não há preceito na Constituição Federal que, interpretado e aplicado, direcione a esse sigilo quanto aos gastos do poder público”
Outra declaração, essa diametralmente oposta, vem do Gal. Jorge Felix, chefe do Gabinete de Segurança Institucional do Presidente (e Presidente precisa de “Segurança Institucional”, pergunto eu ?). Serão resquícios da era de presidentes militares ? E a frase é: “Para nós, quanto menor a transparência, maior é o grau de segurança”
Voltando às mentiras, a Ministra Dilma Rousseff teve a cara de pau de declarar, em entrevista transmitida em cadeia nacional de TV, não só que deve continuar o sigilo envolvendo os gastos da Presidência da República como, também, que o sistema de cartões corporativos, incluindo os saques em dinheiro, permitia um maior controle das despesas...
Será que ela, como boa petista que é (guerrilheira Estela), pensa que só o PT sabe das coisas? Que só o PT sabe o que é mais (ou menos) correto ?
O mérito do PT (sim, o PT também tem méritos) foi o de criar o portal Transparência, o que permitiu que qualquer pessoa tenha acesso aos gastos do governo.
Como não há crédito sem débito, ao mesmo tempo foram criados os saques em dinheiro e as contas sigilosas... Os primeiros serão extintos (?) a partir de março. Os segundos, aparentemente, continuarão.
No tocante às justificativas – Invoca-se como sendo absolutamente normal o que está acontecendo com o uso dos cartões corporativos pois já vinham funcionando há mais tempo, cria que eram do governo FHC. Verdade.
Só não vi, ainda, qualquer alusão ao fato de no governo anterior ter havido tanto abuso na utilização desse sistema.
Além do mais, e mais importante, ninguém tem o direito de justificar uma ação sua sob o argumento de que isso tinha sido criado por outro ou de que o outro também fazia isso. Em outras palavras, um crime não justifica outro crime, ainda que por vingança.
Será que, insistindo em que a CPI a ser criada (talvez já o tenha sido quando o presente artigo for publicado) no Congresso para verificar e coibir o sistema de uso do cartão corporativo retroceda até 1998 e com isso alcançar o que aconteceu no governo FHC vá levar à punição daquele governo? Ou justificará as barbaridades cometidas neste governo? Como diriam nossos amigos de língua espanhola (com o perdão do Dep. Aldo Rebelo quanto ao uso do idioma espanhol...): “No lo creo”.
Até porque o sistema foi criado em 1998 ou 1999, mas só foi efetivamente posto em prática em 2001. Não obstante, o atual Governo do Sr. da Silva tentará demonstrar por a+b que a culpa da existência e dos desmandos no uso dos cartões corporativos é do governo FHC. É de lamentar a falta de inteligência (com tristes tentativas de escondê-la por espertezas) dos membros do atual governo.
Até a contratação de uma Chefe de Cozinha renomada, Roberta Sudbrack, para cuidar das panelas e dos fogões do Palácio Alvorada, amplamente divulgada pela imprensa, está sendo tomada como exemplo dos desperdícios (ou abusos) do Governo FHC. Que tristeza essa falta de espírito, façam-me o favor...
Se o que aconteceu com o uso e abuso dos cartões corporativos tivesse acontecido em qualquer empresa privada (e é usado por muitas), o empregado, do nível que fosse, seria despedido imediatamente por justa causa.
No caso do governo do Sr. da Silva, como não houve o necessário cuidado na qualificação moral e profissional dos ocupantes de muitos cargos, a justificativa certamente será a de sempre: EU NÃO SABIA !

Um comentário:

ma gu disse...

Alô, Adriana.

Peter apresentou outra análise muito limpa. Uma na comparação goebbelmartiniana, porque o atual tem história, duas porque a afoiteza da CPI pelo governo tem a ver com a relatoria e a presidência da CPI, para que o resultado seja como as das outras que o glorioso partido dirigiu: nenhum...
E isso não é o que nos interessa!