8 de fev. de 2008

O ministro secreto

A viagem do ministro da Defesa e do professor Mangabeira Unger ao exterior, em busca de doutrinas militares na Europa, faz supor incômoda dependência intelectual. O Brasil não é mais - se em algum tempo foi - impúbere, que necessite de orientação dos outros para sua defesa diante das intempéries políticas do mundo. A História mostra que sempre demos conta de nossa responsabilidade, a partir da gesta dos Guararapes, quando, com André Vidal de Negreiros, João Fernandes Vieira, Felipe Camarão, Henrique Dias e Antonio Dias Cardoso - o Mestre das Emboscadas - criamos o Exército que expulsou os holandeses de Pernambuco.
Ainda que o senhor Unger fosse um dos 10 sábios de Mileto e um dos oito filósofos de Florença, não lhe caberia pensar por uma nação de quase 200 milhões de habitantes. Para isso não bastam seus títulos: ter nascido no Brasil e ser professor em Harvard, onde há mais de 2 mil mestres, muitos não-americanos. Além disso, a secular instituição não tem o monopólio do saber universal. Mangabeira Unger é professor de direito e bem sucedido advogado de grandes clientes; não consta que seja como Giovanni Pico de La Mirandola (já que falamos nos oito de Florença), que, segundo seus contemporâneos, era capaz de discorrer sobre todos os assuntos - e mais alguns. Pico de La Mirandola, prudentemente, não se encarregou de questões bélicas. Na Itália do Renascimento, disso cuidavam os chefes militares, os condottieri. Preferiu tratar da dignidade do homem.
As Forças Armadas do Brasil contam com oficiais dotados dos conhecimentos necessários e de inteligência para elaborar e gerir uma política nacional de defesa, sem falar nos civis que se têm dedicado a estudar os problemas geopolíticos. Desde os colégios militares, até os estudos e exercícios de Estado-Maior, a oficialidade se empenha em pensar a realidade nacional - que conhece mais do que ninguém. Se, durante algum tempo, os militares brasileiros foram compelidos a sofrer a doutrinação norte-americana e a desviar-se de sua diretriz nacional, esse tempo já passou.

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