11 de fev. de 2008

Os bufões da América Latina

“Quanto mais esperto o político, em mais coisas ele acredita – e menos acredita em qualquer delas”. H. L. Mencken

A atividade política na América Latina, ao contrário do que se praticava na antiguidade clássica, tornou-se uma espécie de chanchada grotesca. Os gregos pretendiam que a política se consolidava na cidade-estado como a arte de bem governar - uma ciência voltada para orientar com a soberania dos cidadãos livres os negócios públicos.
Entre nós, latino-americanos, principalmente no Brasil atual, a política assumiu contornos de uma comédia barata, mas extremamente rendosa, onde predominam os ingredientes típicos do gênero debochado: o caráter histriônico dos protagonistas, as eternas trapaças costurando o enredo e, na forma, a mecânica vulgar da ação contínua sustentando a narrativa chula.
Os personagens principais da trama não comportam nuanças e, com efeito, são caricatos: há o líder sindical de origem humilde e de baixa instrução, sempre falante, empenhado em encarnar tout court o papel do Pai dos Pobres, via hipertrofia do Estado; há o coronel truculento, com ares de vilão insurgente, disposto a impor o “socialismo boliavariano” na base do palavrão e da porrada; há o índio de queixo duro que estima lutar pela igualdade da tribo injustiçada se apropriando da riqueza privada; há ainda a mocinha pouco ingênua, mas obediente, interposta no papel principal pela vontade do marido socialista e vesgo – todos, entre tantos espécimes do mesmo gênero, servidos sem exceção por um elenco de coadjuvantes engajados que entram e saem da cena de conformidade com o interesse dos protagonistas. São os sargentos Garcia da trama.
Na política-chanchada latino-americana não há tempo para reflexão ou maturação de idéias, salvo as que vêm empacotadas. A política como atividade superior do homem pouco importa. Negativa ou positiva, tanto faz. O negócio é deixar a população zonza com a saturação de propostas, projetos, planos, programas, prognósticos, obras, declarações bombásticas e promessas fabulosas – todos comprometidos com a “transformação social”. Trata-se, aqui, de agitar uma política de efeito rápido, impactante e imediato, capaz de obstruir o senso crítico do cidadão comum, debilitar o seu raciocínio, dificultar o uso da razão – em suma, envolvê-lo emocionalmente para camuflar os fins totalitários traçados pelos protagonistas da política-chanchada.

Leia a matéria de Ipojuca Pontes em Mídia sem Máscara

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