26 de fev. de 2008

Os que sabem e os que não sabem

Por Cláudio Lessa

Não adianta. Estamos condenados a um mundo dividido entre aqueles que sabem e aqueles que não sabem. Informação é a "commodity" mais importante, e educação o pilar fundamental.
É por isso que dói saber que o magnífico reitor da UnB, de sobrenome "mulhôland", come "uôper" do Burger King.
No fazendão que instituiu o inglês de e para brasileiros, o que vale é falar (ou escrever) o Português de maneira errada e meter uma palavrinha aqui, outra ali, no idioma de George, o Néscio, para fazer charme. Falar a palavra estrangeira direito fica, é claro, em décimo plano.
No caso acima, o nosso herói, mais conhecido pelas lixeiras de mil reais que equipam seu apartamento funcional, tem o "ó" do seu sobrenome aberto, assim como o sanduíche do Burger King. Uma dica para os eternos preguiçosos que deram sorte de cair diante de um microfone: uma vogal antes de uma consoante dobrada é, na maior parte dos casos, pronunciada aberta. É o reitor Mulholland (ó + LL), é o sanduíche whopper (ó + PP).
Dói também sentir que a maior rede de televisão brasileira parece contribuir ativamente para a mediocrização do populacho. É a tal estória: se você está diante de um microfone, é preciso que você saiba o que vai dizer para, pelo menos, minimizar o potencial estrago de informar (e formar) erradamente uma multidão que está ligada no seu programa e tem você como referencial de cultura.
Desde que teve início a corrida pela presidência dos EUA, repórteres e apresentadores platinados, mesmo os correspondentes na terra de Tio Sam, parecem ter sido orientados a incluir a letra "s" quando dizem o nome do estado norte-americano de Illinois.
Qualquer cursinho de Inglês, por mais fuleiro que seja, ensina já no primeiro semestre que a letra "s" desse nome não é pronunciada. Então, para quê o consciente esforço mediocrizante? Para sublinhar o perfil daqueles que sabem e aqueles que não sabem? Para criar uma pronúncia "brasiliana" das palavras estrangeiras que realce a nossa "independência"?
Às vezes, surgem honrosas exceções. O megainvestidor Warren foi chamado de "bifê", mas isso parece ter sido demais. Uma correção foi feita e o nome dele voltou a ser "Buffett" - com a pronúncia "bâfet". Como se vê, uma exceção para a regra lá de cima.
A coisa não pára por aí. Além do assassinato gramatical mais comezinho da língua pátria, tanto escrito quanto falado - tipo "Proibido a Entrada", etc - há também os ataques do tipo "supertição", ou "trangênico", onde a letra "s" é deixada de lado.
A situação é grave, e não é de hoje. Já no longínquo ano de 2002, ouvi de uma figurinha carimbada no Distrito Federal que se fazia passar por apresentadora um pedido no mínimo exótico: "Por favor, tente deixar de lado a letra "s" o mais que você puder nos textos escritos para eu ler. Não me dou bem com essa letra." Eu ainda tentei lembrá-la de seu compromisso profissional e afetivo para com todas as letras do alfabeto, dizendo que "como locutora, você precisa se relacionar bem com todas as letrinhas, sem deixar o "s" de lado."
Não adiantou. De lá para cá, pelo visto, as coisas só parecem piorar. E com a ênfase dada à educação no fazendão, não podia ser de outra forma.

(*) Foto do Reitor da UnB reitor Timothy Mulholland

Um comentário:

Ralph J. Hofmann disse...

Sinto muito Giulio mas em Sam o "s"é pronunciado sim. Os outros cpomentários procedem.
Ha cdenas em filmes dublados em que um protagonista pronuncia corretamente algum nome ou coisa e o outrpo não.
Assistir Oscar é impossível. A gente sente que a Globo usa tradutores incompetentes (ha competentes no Brasil) e percebe-se coisas interessantes que ficam estranhas na mão d epessoas que não tem talento para traduzir.