8 de mar. de 2008

Nasceu onde?

Por Fabiana Sanmartini

Vamos deixar de uma vez por todas uma coisa bem clara ao Ilustríssimo Sr. Presidente da Desordem e da Desinformação do Brasil, Comunidade, Favela ou lá o que quer chamar, nada tem haver com a moral de quem vive nestes lugares.
Me parece, depois de alguns anos trabalhando como recreadora na Caixa DÁgua no morro do São Carlos, no Estácio, e na Cachopa, na Rocinha, na mesma função, que existe uma grande confusão. Nem sempre quem mora nas comunidades é narcotraficante, ladrão de galinha, bêbado, drogado, tarado... Existem pessoas que fazem parte da história local, como parentes diretos da primeira pessoa a fazer o loteamento da Rocinha, quem vendeu os primeiros lotes do que hoje é a maior favela da América Latina, uma cidade, um Estado com vida própria, comércio, bancos e por ai vai. É bem verdade que existe o narcotráfico, as milícias a lei que rege as favelas.
É melhor que se saiba que é o governo do medo onde muitas vezes a própria polícia se faz valer dele, basta apenas um pequeno atraso nas ditas contribuições que o trafico paga. É mesmo assim para que o comércio funcione não são só os bandidos sabidos que ganham, ganham também os que deveriam estar mantendo a segurança da população qualquer que seja sua classe social. Aliás, classe social e mau caratismo, banditismo nada ter em comum com a conta bancária. As manchetes estão recheadas de jovens das classes média alta que são igualmente traficantes. Filhos que foram criados cheios de anteparos, protegidos das mazelas do mundo, em escolas particulares repletas de jovens de igual poder aquisitivo, que não se misturam enquanto seus pais os protegem da vida real.
Quando se vêem soltos estampam seus rostos bem tratados nas capas dos jornais junto com os rostos que são figuras conhecidas das ditas comunidades. Onde as crianças tem aula quando os professores conseguem chegar, merendam quando o estado repassa a verba ou quando sobram sobre-cu nos abatedouros locais que sedem para as escolas num mutirão para que a única refeição, muitas vezes, possa ser mantida.
Disso tudo, vale o seguinte, cidadãos vivem em todo lugar, os direitos devem existir desde as coberturas da Av. Sernambetiba, na Barra da Tijuca, até a curva do S, visitada pelo Presidente, na Rocinha. Com isso fica bem claro que gente bom caráter, de caráter duvidoso, ou mesmo os sem nenhum caráter nascem em qualquer lugar e o que vale mesmo ainda é a formação familiar, o que se tem de exemplo. Um grama deste vale mais do que qualquer tonelada de consultas a terapeutas. Coisa que virou moda e que não substitui e nunca vai substituir a convivência familiar, que forma em nossos filhos ainda pequenos, o cidadão consciente de amanhã.

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