12 de mar. de 2008

Racismo

Por Peter Wilm Rosenfeld

Mais uma vez me sinto compelido a escrever sobre o assunto acima. Começo a fazê-lo transcrevendo uma carta que enviei ao Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro (que a publicou), em 12/04/2004, sob o título “Cotas, Direito e Democracia”, comentando entrevista de página inteira do então Ministro da Educação da administração do Sr. da Silva, Tarso Genro:
-O Brasil é um País em que não há, geralmente falando, qualquer problema de racismo. É possível que alguns brancos não gostem de negros, e vice versa, porém, não é o que predomina.
-As chamadas ações (ou políticas) “positivas” terão o condão de criar o racismo entre nós, o que é lamentável.
-Apesar de todos os pesares, a chamada Constituição Cidadã teve o mérito de determinar que “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: promover o bem de todos, sem preconceitos de raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”(Art. 3º, Inciso IV).
-A menos que o inciso seja alterado ou eliminado, nenhum projeto de lei poderá se sobrepor a ele (qualquer pessoa que saiba um pouco de direito sabe disso).
-Logo, o que o Ministro Tarso Genro escreve no artigo publicado hoje é ou tolice ou jogo para a platéia, ou ambos, quando diz que o Governo enviará projeto de lei ao Congresso para estabelecer cotas para os afro-descendentes.
-Além disso, é mais do que sabido que o ensino superior requer de seus estudantes preparação superior e intelecto superior. Na ausência de qualquer um dos dois, o estudante não conseguirá acompanhar o que estiver sendo ensinado. Se, com devoção especial, os professores resolverem ensinar, tentar novamente, e mais vezes, aquilo que o aluno não consegue aprender, todos seus colegas serão prejudicados porque o ensino andará muito devagar.
- Aí estão dois males que devem ser evitados: racismo e decréscimo de qualidade do ensino.
-E são exatamente esses dois males que o atual Governo Federal quer introduzir de qualquer forma, ao que parece.
-Seria muito bom se nossa sociedade em geral se apercebesse disso e lutasse para que o ensino primário e o secundário fossem primorosos, através de escolas públicas de boa qualidade, (como já tivemos nesse País) gratuitas, como também o foram no passado.
-Não esqueçamos quantos afro-descendentes se destacaram em todos os ramos de atividade no Brasil: para ficarmos apenas em dois, cito Machado de Assis e Daiane dos Santos.
-Não façamos deste nosso sofrido Brasil uma República Federativa racista!
Em conseqüência do que vem acontecendo no Brasil nos últimos anos, um relatório da ONU publicado recentemente incluiu (o que não acontecia anteriormente) o racismo entre nossos males atuais. É claro que podem ser questionadas a legitimidade e a isenção das fontes consultadas; não só podem como devem, eis que em muitos casos as fontes são ONGs. sem a menor qualificação para comentar ou informar sobre o que ocorre aqui.
Em matéria publicada no caderno Cultura do jornal Zero Hora de Porto Alegre no sábado, 1º de março pp., há um artigo do Sr. Carlos André Moreira sob o título “O Brasil e o racismo” , o Sr. Ali Kamel, jornalista e sociólogo comenta:
“Não pude examinar com atenção o relatório ainda, mas posso adiantar com certeza que a sua divulgação vai reforçar a campanha para racializar as relações sociais no Brasil. No início do século 21, quando deveríamos nos orgulhar de ser uma nação miscigenada e lutar por um país em que a raça não importa, cada vez mais assistimos a ações oficiais que reforçam a noção de raça, o que só pode reforçar o racismo”.
Devo dizer que tenho o Sr. Kamel na mais alta conta, quando trata (e o faz há tempos em artigos e livros) do racismo no Brasil. Ele, como todas as pessoas de bem e isentas neste País, entendem que não há racismo no Brasil de uma forma geral.
Os maiores e melhores exemplos nos são dados pelo povo: em qualquer bairro de qualquer cidade vemos meninos, jovens e adultos jogando as famosas “peladas” de futebol, algumas com bolas de verdade, outras com u’a meia recheada de papel servindo como bola. A coisa mais comum que se nota é que os participantes são de todas as raças e etnias, sem qualquer discriminação(a única que conheço é a praticada pelo dono da bola; quando seu time está perdendo, retira a bola de campo e com isso termina o jogo...)
Nos dias recentes, tivemos alguns exemplos gritantes de que a raça nada tem a ver com a natureza das pessoas: um menino deficiente físico, com algo como seis ou oito anos de idade, de tez escura, é um mestre em matemática avançada; outro menino, também de tenra idade, foi aprovado em um vestibular de universidade renomada, em que seus pais conseguiram inscrevê-lo (só não será admitido porque não tem o curso básico completo....
Em meu artigo de 2004, citei como exemplos de que a cor da pele nada tinha a ver com o intelecto ou a capacidade física apenas duas pessoas. Agora, ocorre-me adicionalmente citar o Ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, cuja inteligência e cultura são altamente elogiados por todos. Entre atletas, penso que citar Pelé é mais do que suficiente.
Por tudo o que antecede, seria absolutamente necessário que o Sr. da Silva lesse nossa Constituição (apesar de sua ojeriza pela leitura), em especial o artigo que citei no início, e proibisse os membros de seu governo de fomentar ideais racistas.
Penso que ele não gostará de ser lembrado como o Presidente da República que fomentou o racismo no Brasil.

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