4 de abr. de 2008

Entrevista com Roberto Romano – 2ª parte

Por Adriana Vandoni

Quais as conseqüências da concentração dos impostos e de poderes nas mãos do governo federal?
Roberto Romano: Nós vemos a corrupção nas instâncias mais baixas que são as prefeituras. Em Ribeirão Preto, por exemplo, Palocci está respondendo até hoje a processo de corrupção. Em Santo André o prefeito foi assassinado.

Como está esse caso?
Roberto Romano: Nada foi feito até agora. Inclusive o ‘Sombra’, acusado de ser o mandante, entrou com uma representação no Supremo Tribunal, dizendo que o Ministério Público não tem poderes de investigação, e pode prejudicar toda a investigação feita até agora. Como a polícia paulista muito apressadamente decidiu que o crime era comum e como os promotores de SP, do Gaeco, mostraram com provas que não se tratava de um crime comum, mas político e de corrupção e indicavam a ele (o sombra) como mandante, ele entrou com a alegação que o ministério público não teria poderes, que isso seria usurpação de poderes. Se o supremo decidir pela representação, nós teremos o fim das investigações.

Porque a população aceita todas essas aberrações?
Roberto Romano: Existe algo recorrente na política brasileira que é o machismo e a masculinidade exacerbada. Isso foi uma característica de todo nosso passado, sobretudo do período pré-ditadura. O Lula, dias depois de tomar posse, em um comício em Porto Alegre, disse, inclusive rebaixando o estatuto de sua esposa, ‘aqui está a galega, eu emprenhei porque pernambucano não faz por menos’. É uma visão social masculinizante e isso remete ao lado valente, forte, daquele que faz as coisas porque quer. Esse é o caldo de cultura para uma ditadura.

Então a população busca um líder que seja mais forte que ela?
Roberto Romano: Exato, até do ponto de vista da sofistica. Aquele João Santana (Marqueteiro petista), ele na propaganda, acentuava que Lula estava sendo massacrado por fortes, pela elite branca, rica, etc. Quando os outros estavam sendo atacados, ele era o fortão. Então Lula é um carisma fabricado por técnicas de propaganda sofisticadíssimas, por pessoas altamente qualificadas, como é o caso do João Santana. É uma manipulação tecnicamente muito bem fundamentada. Quer dizer, não basta reduzir o estatuto do personagem Lula ao elemento folclore. A figura dele é tecnologicamente bem construída.

Esses escândalos todos causaram uma visível apatia nos jovens, será essa herança do PT?
Roberto Romano: Infelizmente sim porque o mimetismo dos fatos culturais é dos mais ambivalentes. Você tem o mimetismo que pode levar para o bem e o mimetismo que pode levar para o péssimo. Isso ninguém pode explicar de maneira mais ampla do que Platão em A República. Os jovens mimetizam o que vêem os adultos fazendo. Então, se você tem uma política que além de ceder à corrupção, quebra a palavra, veja, quando Lula diz que era bravata tudo que ele dizia antes, muita gente acreditou nessa bravata e essas pessoas se sentem enganadas. O que a esquerda quase sempre faz, desde a Revolução de 17 e agora novamente é isso. Ela oferece um figurino e depois diz “olha, esse figurino sempre foi jeca, fora de moda e você que compraram erraram”. Ou seja, ninguém se sente seguro depois de ter sido enganado por alguém que tinha um padrão de excelência.
Eu sempre adverti o PT, em especial os militantes que vinham com aquele discurso de que o PT era ético e os outros eram farinha do mesmo saco contra essa arrogância que é própria da ignorância. Qualquer agremiação política, dada que é composta por seres humanos é falível, evidente de dentro do PT indivíduos ou grupos poderiam ter a mesma marca, portanto, dizer de boca cheia que todos dentro do PT eram éticos, era uma temeridade, no mínimo, mas eles fizeram isso. Então eles se venderam como imaculados, como o exército dos anjos, a falange angélica, quando na verdade o que eles faziam era aquela brincadeira que o Oscar Wide coloca no retrato de “Dorian Gray”, quer dizer, eles ofereciam o retrato jovem, bonito, saudável, maravilhoso, mas lá no funda da casa um monstro imundo e horrendo estava sendo produzido. Eles esconderam o monstro horrendo enquanto puderam. Agora o que eles estão querendo dizer é que todo mundo é um monstro horrendo e ninguém pode ter um retrato bonito.

Diante desse Lula egocrata, qual seria o discurso da oposição?
Roberto Romano: É muito difícil. Há um livro de um autor soviético analisando a propaganda nazista, mostrando o que poderia ter sido feito pela social-democracia para neutralizar a propaganda nazista. O problema é que nem sempre você pode dispor de intelectuais para produzir um discurso contrário que seja ao mesmo tempo eficaz. Quer dizer, de um lado você tem as pessoas que estão no poder, que tem essa capacidade nata de demagogia e contam com consultores como João Santana, altamente sofisticados. Por outro lado, na política econômica a oposição fica imobilizada porque ela não pode contra-atacar uma política que foi feita por ela mesma. Na política social, boa parte do que Lula tem feito, reitera o que começou no governo anterior. Além disso, no caso dos tucanos, tem aquilo que chamo de parentesco, eles são primos dos petistas. Inclusive tem relações de ordem afetiva, de amizade. Boa parte dessas pessoas foi pro exílio e viveram juntos. Não eram nem petistas nem tucanos, eram a esquerda com suas várias agremiações. Veja, o Marco Aurélio Garcia viveu muito tempo à sombra do Paulo Renato de Souza. Foi Paulo Renato que o arrumou emprego, bolsa. Assim como esses dois, muitos tucanos e petistas que dividiram as agruras do exílio e que formaram laços. Então fica muito difícil se transformar numa oposição.

Resta então a oposição exercida pelo DEM?
Roberto Romano: O DEM tem uma característica muito interessante porque na sua gênese ele é ligado à oligarquia, por outro lado ele tem a expressão intelectual da UDN que tinha um perfil anti-estatista e liberal. Então nessa medida o DEM, quando entrou para a sustentação do FHC, primeiro que foi uma relação muito tensa com os tucanos, perdeu um pouco a característica. Agora ele está se descobrindo e descobriu um filão que é muito promissor, que é o dos impostos. O DEM está batendo muito mais na carga tributária e com essa postura ele vai se firmar e conseguir boa dose de audiência.

Como fica o discurso do acadêmico de esquerda que pregava o anti-liberalismo?
Roberto Romano: Ai eu ataco a incultura da própria esquerda. O que é neoliberalismo? Se você perguntar a cem militantes e mesmo intelectuais renomados da esquerda, sobretudo do PT, quantos livros eles leram do Hayek, você verá que eles não leram nenhum. Quer dizer, o que era neoliberalismo? Era um conjunto de slogans que tinham como conteúdo velhas doutrinas como o anti-capitalismo, o anti-imperialismo norte americano, quer dizer era quase como uma palavra mágica. Então tudo passou a ser neoliberalismo. E não houve um esforço para analisar mais profundamente o que era neoliberalismo, inclusive nas suas vertentes várias desde as mais autoritárias até as menos. Não houve esforço de analisar a emergência.
Então, esse discurso dos termos e conceitos frágeis que circulavam pelos textos e pelas opiniões petistas e da esquerda, é dos mais lamentáveis, porque quando se pergunta a um militante o que é liberalismo, ele vai dar toda a resposta do que não é, mas ele não sabe o que é.

10 comentários:

Anônimo disse...

Acabei de postar comentário de que não falava mais que entrevistava e agora me depara com uma tal de entrevista, já me arrependi de achar que a sra. tinha adquirido um pouquinho de sensatez.
Que pena que não tenha aprendido que não pode exercer profissão sem ser habilitada nada na "conversa" que teve com o Romano.
Ass. Sr. Banana.

Anônimo disse...

Meu Deus, esse homem é tudo! Essas são palavras para se meditarem, saborearem, não são palavras para serem consumidas. É a primeira expressão da intelectualidade que vejo sobre o discurso eficaz, capaz de enterrar o mimetismo esquerdista. Para meditar. Você, Adriana, sua equipe, nós, os leitores, não podemos estar alienados do valor de nossas ações, já que somos uma pequena resistência. O que Magu falou ontem foi como que uma profecia: sedia, a cathedra de autoridade encontra seu valor em estar acima de fatos. É preciso mergulhar na análise. Eles enrolam seu discurso paralelamente a um inconsciente coletivo até que tudo se torne Partido, Estado. Temos de desenrolar esse novelo ao contrário. Aliás, eles são ao contrário, com seus símbolos esotéricos invertidos. Nós estamos de pé, mesmo pobres. E, quando sentados, somos da cathedra.
Interessante também quando ele fala de Prefeituras. Lembra que sempre falei que de um pequeno desvio cheguei, por pesquisas, à máfia internacional? Taí. Detalhes deste outro braço da corrupção, a local, não comentarei para não me alongar, pois me entusiasmei demais. Mas essa entrevista foi definitiva. Ela não cairá no vazio. Se queria trazer mais gente para este blog, não é para encherem o saco. É que tenho visto muita gente sedenta por aí. Quando chega a primavera, as andorinhas se unem em bandos.

Anônimo disse...

Nossa Senhora, enquanto eu redigia, o bananão entrou com suas bobagens e eu falei embaixo: esse homem é tudo! Não é o banana. É o professor Roberto Romano. Pelamordideus! Hoje fica decretada a desmoralização total da frutinha. A ENTREVISTA vai estourar a a boca do balão!!!! (e como a fruta é atenta, hein? Não deixa passar uma. Parece até a Ideli).

Anônimo disse...

Adriana, Não é entrevista, é conversa com notas (entre risos). Alguns pontos sempre tem que considerar o não ir além das sandálias - tipo questão tributária, algo muito específico e não se confunde o agir da Receita sobre os assalariados. Não devia ingressar, a meu sentir, no aspecto dos ilícitos nos Municípios, nas suas sedes conhecidas como Prefeituras. A Prefeitura não é o ente, é uma espaço administrativo. Deixa para outro dia, no nomento ler a boa cavaqueira. Ro, caríssima, não é mimetismo, é camuflagem (sem polêmica, mas uma conduta difere da outra - confira, uma sugestão de admirador). Inegável a conclusão: recama o Blog, ornamenta a inteligência dos visitantes. Muito bom!

Ralph J. Hofmann disse...

BANANA (MURCHA, PRETEADA E CHEIA DE INSETINHOS)

Você é a essência do sujeito que nada tem de construtivo a dizer.
Se prende na aberração do cartorialismo em lugar de criticar o conteúdo, ou um trabalho bem feito.
Você é um cara dstrutivo, não é proativo.
Discorde, respeitamos que discordem conosco, faça uma entrevista com o SEU guru, ponha suas opiniões claramente.
Mas até agora só pudemos constatar uma extrema inveja de quem gostaria de ocupar um estaço equivalente ao que a Adriana, Giulio e seus colaboradores criaram. Construa algo um dia. Nem que seja um artigo bem embasado.
Parafraseando o Patolino: You're pathetic! - Você é patético.

ma gu disse...

Alô, Ralph.

What's up, Doc? (O que é que há, velhinho?)
Para que alguém possa criticar um conteúdo, é preciso que o próprio possa ter algum conteúdo. Não é o caso. É um caso acabado de ter apenas a casca, só lustrada por um papel inútil expedido por uma faculdade(?).

Ralph J. Hofmann disse...

Magoo

Cáspite, tu e eu ainda vamos ter de criar uma seção de citações mais esotéricas do mundo dos quadrinhos.
Algo como Nietsche de ilustrador do jornalista Kriptoniano favorito.

ma gu disse...

Alô, Ralph.

Já que você o lembrou, e aproveitando a presença da frutinha de feira-livre aqui, vai mais uma do Friedrich, que morreu em 1900 mas sabia das coisas:

"Os leitores extraem dos livros, consoante o seu carácter, a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das flores retiram, uma o mel, a outra o veneno".

Abraço

Anônimo disse...

Começou a aparecer no blog surrealistas que compõem fauna e flora daninhas.
Eles deviam perceber que este espaço, não serve de valhacouto para os fanáticos seguidores do "Emprenhador de Galegas".
Eu já tinha observado a similaridade do emprenhador com o retrato de Dorian Gray "o sempre jovem" não saiu no CH mas saiu no RA.
Ocorreu-me agora um pensamento sobre Diógenes.
"Um corredor fanfarrão vivia se vangloriando de suas vitórias,divulgava todo acontecimento que lhe aumentasse a glória pessoal ( Duda ou João Santana?).
Para aumentar sua popularidade foi ter com Diógenes, ali o bravo desfiou sua arrogância e falou até cansar de sua superioridade. Diógenes que a tudo ouvia calado arrematou a conversa com " Você vence escravos, eu venço homens".

Ralph J. Hofmann disse...

Magoo

Andaste pelo jeito vendo os hologramas de Jor-El