
Manuel Fiel Filho (foto). Quais os critérios que concederam à viúva do operário morto nos porões da ditadura a pensão de 900 reais, enquanto intelectuais vivos recebem pensão vitalícia e indenização?
Um dos grandes problemas das religiões – o esquerdismo burro, inclusive – está na grande quantidade de embusteiros e aproveitadores que se misturam entre os crentes. Do catolicismo com seus dogmas estúpidos e anacrônicos, passando pelo dinheirismo dos evangélicos, pelas promessas de virgens ilimitadas em rios de leite e mel para o muçulmano que se explode, até o kardecismo com seus ilusionistas, é cada vez mais difícil separar o joio do trigo. São poucos aqueles em que se pode ter algum tipo de confiança.
A evolução da tecnologia tem ajudado cada vez mais no obscurecimento da verdade, quando deveria realizar exatamente o contrário – estabelecer com maior certeza a mentira, para que todos se afastassem dela. Esse é um fato mundial, e no fazendão globalizado não poderia ser diferente.
Por aqui, a ilusão de um “esquerdismo” como forma de governo (um conceito obsoleto mas ainda altamente valorizado) demorou mais do que em outras plagas para se tornar realidade.
Nem assim, com a possibilidade de uma visão crítica mais aguçada a partir de outras experiências, o povo do fazendão deixou de colocar os “esquerdistas” no altar, como se fossem eles os salvadores da pátria, a última vodka da enregelada estepe (para contrastar com o sabor capitalista da última Coca-Cola do deserto).
Só que houve um pequeno desvio de percurso nesse processo. Por meio de um esperto esquema perpetrado silenciosamente durante anos – silenciosamente porque você sabe, leitor(a), que o debate democrático e aberto não é exatamente o forte das “esquerdas” – os verdadeiros esquerdistas acabaram deixados de lado, e os embusteiros, os aproveitadores, os pilantras, os dogmáticos, os dinheiristas, os mentirosos e os ilusionistas ocuparam o vácuo do poder, criado quando a “direita” se revelou incompetente para resolver os problemas do fazendão, mesmo levando seus costumeiros dez por cento.
Depois do fato consumado, as revelações aparecem a conta-gotas. A mais recente está numa das manchetes de O Globo deste domingo. A notícia diz que, enquanto os cartunistas Ziraldo e Jaguar faturaram mais de um milhão de reais cada um, fora uma pensão mensal de quase cinco mil reais até o fim de suas criativas existências, a viúva do operário Manuel Fiel Filho, torturado e morto nos porões da ditadura militar, recebe apenas novecentos reais por mês.
Páre e pense: Ziraldo e Jaguar estão vivos. Seus familiares ainda os têm por perto. Durante o tempo em que foram perseguidos (ou oprimidos, como todo o resto da população naqueles tempos escuros) por causa de seus pontos de vista, nunca deixaram de trabalhar. Ziraldo fez até campanha publicitária para a Caixa Econômica durante a ditadura. Já Manuel Fiel Filho era um operário qualquer, um zebedeu que, romanticamente, acreditava na “causa”. Apanhado com a boca na botija, foi torturado até morrer na prisão. Você já parou para pensar em como deve ter sido a vida da mulher e dos familiares de Manuel, que dependiam de Manuel, depois que ele foi morto? Você já imaginou quantos pastéis com cabelo eles tiveram que engolir esses anos todos, sem ter para onde correr, a quem apelar, sem ter talvez o que comer?
No fundo, no fundo, “esquerda” e “direita” são esterco do mesmo pasto. Quer um exemplo? Nos EUA, sempre ávidos por uma guerrinha, os soldados – especialmente na era Vietnã – eram chamados de “expendables” (“descartáveis”). Eram o mosquito em cima do cocô do cavalo do bandido. Ninguém no Pentágono se importava com eles, apesar de toda a propaganda, de todas as bandeiras, de todos os hinos e cerimônias lacrimejantes. Igualzinho a Manuel Fiel Filho, no processo revolucionário da esquerda burra brasileira. Ele era um “expendable”. Como se diz isso (“descartável”) no jargão sovietizado dos atuais aproveitadores e embusteiros, da mesma forma que se diferenciavam “astronautas” e “cosmonautas” durante a Guerra Fria?
Quem sobrou para contar estória, e é eleito e reeleito, ganha pensão, é aclamado? Os embusteiros. Carregam dólares na cueca, compram parlamentares por meio de mensalidades, dão as mãos a quem antes chamavam de ladrão, mentem deslavadamente sobre o que disseram no dia anterior… e a multidão aplaude, quer mais. Para quem gosta, é prato cheio. Pão e circo! Eu sinceramente duvido que a família de Manuel Fiel Filho esteja nessa platéia.
Só que houve um pequeno desvio de percurso nesse processo. Por meio de um esperto esquema perpetrado silenciosamente durante anos – silenciosamente porque você sabe, leitor(a), que o debate democrático e aberto não é exatamente o forte das “esquerdas” – os verdadeiros esquerdistas acabaram deixados de lado, e os embusteiros, os aproveitadores, os pilantras, os dogmáticos, os dinheiristas, os mentirosos e os ilusionistas ocuparam o vácuo do poder, criado quando a “direita” se revelou incompetente para resolver os problemas do fazendão, mesmo levando seus costumeiros dez por cento.
Depois do fato consumado, as revelações aparecem a conta-gotas. A mais recente está numa das manchetes de O Globo deste domingo. A notícia diz que, enquanto os cartunistas Ziraldo e Jaguar faturaram mais de um milhão de reais cada um, fora uma pensão mensal de quase cinco mil reais até o fim de suas criativas existências, a viúva do operário Manuel Fiel Filho, torturado e morto nos porões da ditadura militar, recebe apenas novecentos reais por mês.
Páre e pense: Ziraldo e Jaguar estão vivos. Seus familiares ainda os têm por perto. Durante o tempo em que foram perseguidos (ou oprimidos, como todo o resto da população naqueles tempos escuros) por causa de seus pontos de vista, nunca deixaram de trabalhar. Ziraldo fez até campanha publicitária para a Caixa Econômica durante a ditadura. Já Manuel Fiel Filho era um operário qualquer, um zebedeu que, romanticamente, acreditava na “causa”. Apanhado com a boca na botija, foi torturado até morrer na prisão. Você já parou para pensar em como deve ter sido a vida da mulher e dos familiares de Manuel, que dependiam de Manuel, depois que ele foi morto? Você já imaginou quantos pastéis com cabelo eles tiveram que engolir esses anos todos, sem ter para onde correr, a quem apelar, sem ter talvez o que comer?
No fundo, no fundo, “esquerda” e “direita” são esterco do mesmo pasto. Quer um exemplo? Nos EUA, sempre ávidos por uma guerrinha, os soldados – especialmente na era Vietnã – eram chamados de “expendables” (“descartáveis”). Eram o mosquito em cima do cocô do cavalo do bandido. Ninguém no Pentágono se importava com eles, apesar de toda a propaganda, de todas as bandeiras, de todos os hinos e cerimônias lacrimejantes. Igualzinho a Manuel Fiel Filho, no processo revolucionário da esquerda burra brasileira. Ele era um “expendable”. Como se diz isso (“descartável”) no jargão sovietizado dos atuais aproveitadores e embusteiros, da mesma forma que se diferenciavam “astronautas” e “cosmonautas” durante a Guerra Fria?
Quem sobrou para contar estória, e é eleito e reeleito, ganha pensão, é aclamado? Os embusteiros. Carregam dólares na cueca, compram parlamentares por meio de mensalidades, dão as mãos a quem antes chamavam de ladrão, mentem deslavadamente sobre o que disseram no dia anterior… e a multidão aplaude, quer mais. Para quem gosta, é prato cheio. Pão e circo! Eu sinceramente duvido que a família de Manuel Fiel Filho esteja nessa platéia.
3 comentários:
Viva o Claudio Lessa, eu vou mais longe, misturo a esquerda calhorda e velhaca com a direita dos dez por cento também aproveitadora e safada,e no lugar do esterco do mesmo pasto, eu fico com "estrume do mesmo curral".
Quanto as guerras, digo que quem vai para morrer não são os filhos dos magnatas do capitalismo,nem os filhos dos dirigentes do alto comissariado comunista.
A direita com a grana terceiriza mercenários e a esquerda se apóia em terrorismo movido por fanatismo ideológico.
Quem é melhor?
Alô, Giulio.
O texto de Lessa é simples e verdadeiro. Para não esticar o assunto, que já comentei acima, digo que o único erro da viúva do Fiel foi não contratar o Greenhargh (escrito desse jeito mesmo) como advogado dela. Estaria nadando em dinheiro, hoje, como os cartunistas (perdão, Róq).
Mas por que duvidar que qualquer família esteja na platéia? É esta uma exceção, você conhece?
A lavagem mental das esmolas (ou bolsas, se preferir) lava tudo. Consciências, dinheiro, memórias...
Lavagem não é sempre o que limpa. Aquela coisa perfumada que os porcos comiam antigamente também se chama lavagem. E um procedimento médico muito desagradável idem.
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