7 de abr. de 2008

Lula se sente o próprio Messias

A Armação do Poste
Gudêncio Torquato em O Estado de São Paulo

A interrogação jorra abundante em ambientes fechados e abertos: Lula fará o sucessor?
Por que antecipa a campanha de 2010 ao subir em palanques nos Estados apresentando a "mãe do PAC" e "capitã do time" Dilma Rousseff, que veste com crescente desenvoltura o figurino de pré-candidata preferencial do presidente? Ao abrir o jogo sucessório, o dono da bola não comete o desatino de provocar com antecedência atritos na própria base, acirrar as oposições e, conseqüentemente, queimar reservas estratégicas que poderão comprometer a dinâmica administrativa nos longos meses pela frente até às margens eleitorais? Afinal, o que poderia justificar tanta efervescência no ânimo presidencial, a ponto de provocar adversários com a ênfase: "Se a oposição pensa que vai fazer o sucessor, pode tirar o cavalinho da chuva."
Em se tratando de um governante cada vez mais ciente de que é um enviado dos céus para salvar o Brasil, a resposta às questões acima foge da lógica para se abrigar na intrincada malha da psicologia. Para começo de conversa, a cada nova pesquisa que confere crescimento à sua popularidade, Lula transmite a convicção de que é capaz de tudo. Inclusive de eleger um poste. O simbolismo implícito na eleição de um perfil inodoro, insípido e incolor é o estado máximo do poder, a onipotência. Como se isso não bastasse, seu sistema cognitivo se adorna com uma aura de onisciência, o conhecimento pleno das coisas. Quem tudo pode tudo sabe. Elevado ao Olimpo, espaço das divindades, Lula contempla as artes da nossa política com ar superior.

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