3 de abr. de 2008

A um passo de fazer a Constituição de papel higiênico

A partir de agora, será esperar mais uma etapa na trama, mais um capítulo nessa novela de horror, provavelmente saber qual dos institutos de pesquisa de opinião eleitoral sairá na frente, fazendo a mais simples pergunta da atualidade: "Concorda com um terceiro mandato para o presidente Lula?" Ou outra mais direta ainda: "O presidente Lula deve continuar no governo?"
Pode ser o Ibope, pode ser o Sensus, quem sabe será o Datafolha, que no final do ano passado formulou a indagação por via transversa e confundiu os consultados, perguntando sobre mudanças na lei. Porque não dá mais para negar que os atuais detentores do poder chegaram à conclusão de não haver outra saída, se desejam preservá-lo.
Para não entregar o ouro aos tucanos, só o Lula ficando. Os institutos de pesquisa vinham, nos últimos meses, fazendo o jogo dos continuístas, que é de não tocar no assunto antes de 2009. A natureza das coisas, porém, acaba de prevalecer outra vez. A competição entre as empresas fará o resto.

Por Carlos Chagas
O vice-presidente José Alencar acaba de botar o pescoço de fora, como é de seu estilo desabrido. Defendeu abertamente o terceiro mandato, em entrevista à Rádio Bandeirantes. Sua voz contém mil vezes mais decibéis do que a palavra dos deputados já empenhados na operação. Precipitou-se o vice-presidente? E agora, José, a festa acabou?
Ignora-se a reação do próprio, quer dizer, do presidente Lula, com a precipitação da estratégia prevista para o ano que vem. Terá telefonado para Alencar, admoestando-o? Ou ficou quieto, lavando as mãos?
Tanto faz, porque Lula está sendo sincero ao proclamar que não deseja continuar. O problema é que à sua retaguarda consolida-se a evidência: ou os companheiros, seus aliados e penduricalhos conformam-se em voltar a ser oposição, perdendo as variadas benesses, favores, cartões e nomeações ao seu dispor ou... Ou tratam de criar condições para o presidente Lula permanecer por mais um período.
Faz um ano que estamos alertando para essa possibilidade de golpe de estado. Porque há um ano ficou claro carecer o PT de um nome eleitoralmente viável. José Dirceu e Antônio Palocci evaporaram, Dilma Rousseff anda em rota para a estratosfera, Patrus Ananias, Tarso Genro e Marta Suplicy serão as bolas da vez. Pensar na candidatura de um aliado será promover fundamental racha no PT, além de perigosa aventura, pois, na hipótese improvável da vitória de Ciro Gomes ou de Aécio Neves vestido com uniforme do PMDB, quem garante a lealdade deles aos caprichos dos companheiros?
"Lembrai-vos de Fernando Henrique" pode ser um alerta, já que o ex-presidente aplicou o mesmo golpe nas instituições. Levou o Congresso a votar emenda constitucional permitindo sua reeleição sem mesmo desincompatibilizar-se.
Mudar as regras do jogo depois do jogo começado tem sido uma constante em nossa crônica política, desde os tempos em que Floriano Peixoto ignorou a diretriz constitucional de convocar novas eleições e ficou no lugar de Deodoro da Fonseca até o final do mandato, assinando-se "vice-presidente em exercício". Getúlio Vargas permaneceu quinze anos no governo, presidente provisório, presidente constitucional e, depois, ditador, sem fazer caso dos próprios ucasses por ele baixados.
Nos governos militares, mudava-se a lei ao sabor das conveniências, surgindo até o termo "casuísmo" para justificar as truculências contra a Constituição. Eleições indiretas, prorrogação de mandatos, extensão dos períodos administrativos, fechamento do Congresso e exclusão de apreciação judicial dos atos dos generais-presidentes. Fernando Henrique demonstrou que tudo pode ser feito sem violência, apenas com esperteza.
E agora? Agora, será assistir ao crescimento gradual mas seguro da fórmula que manterá todos onde estão, como alternativa para a chegada da oposição. Mesmo sob a cobertura das negativas de Lula e de suas tentativas de emplacar candidatos que, de antemão, sabe derrotados. Nesse particular, suas campanhas semanais pelo País podem não estar ajudando Dilma Rousseff, mas servem maravilhosamente para sedimentar sua própria liderança exclusiva.
Quando chegar a hora, com plebiscito ou sem plebiscito, será fácil começar a operação pelo último fator: para acabar com a reeleição, execrável experiência, a saída seria aumentar os mandatos presidenciais de quatro para cinco ou seis anos. Começaria uma nova fase do regime, com o apagador passado no quadro-negro. Todos os cidadãos na posse de seus direitos políticos poderiam candidatar-se, sem inelegibilidades. Inclusive ele...

2 comentários:

Chacon disse...

Papel Higiênico... usado

ma gu disse...

Alô, Giulio.

Como é que o Chagas pode dizer que o sapo está sendo sincero? Isso é um absurdo, um contrasenso absoluto, tendo-se em conta que as afirmações de um mendaz contumaz devem sempre ser levadas à conta da inversão da pretensão.
Pô. O cineasta Sarney já fez esse filme antes, e foi muito ruim. Se fizerem uma refilmagem, vamos voltar ao tempo das chanchadas. Já estamos quase lá mesmo...