28 de abr. de 2008

Vigiando a Amazônia

Por Cláudio Lessa

Domingo, dia de decisão Botafogo X Flamengo, e como diria aquele especialista em criminologia (se não sabe quem é, continue lendo; se já sabe, continue também.), futebol é bola na rede. Mais do que isso: quem não faz gol, leva.
É o caso da "política indigenista" posta em prática hoje em dia, que o Globo de hoje diz ser "terceirizada". É uma equação razoavelmente simples, se você seguir direitinho o raciocínio. "Veja bem", como gosta de dizer o criminologista, a palavra-chave atual é "preguiça". Nada de tomar à frente, nada de inventar, nada de proatividade. Como toda regra tem uma exceção, as iniciativas são sempre tomadas quando o fim precípuo da medida proposta seja uma "ação entre amigos", ou seja, os beneficiados você já sabe quem são.
No caso da política indigenista, como no caso do Ibama e de outros órgãos, os sucessivos desgovernos - e este, em particular - já chegaram à doce conclusão de que é muito difícil e custoso controlar toda uma fronteira, tanto mato, tanto mosquito, tanta cobra, tanta gente falando línguas estranhas.
Assumir a condição de civilização "vencedora" e promover a integração ordeira e serena das civilizações "perdedoras" sem que isso signifique a perda de suas respectivas identidades é muito complicado. Além disso, não aparece. Não tem resultado prático imediato. Não dá votos. É como fazer obras de saneamento básico. De que adianta enterrar manilhas? Eleitor que é eleitor não
se lembra de cano nem de esgoto.
Assim, incorporando o conceito de "quem quer faz; quem não quer, manda", o mais fácil e bem menos barulhento é entregar a tarefa para as ONGs, que com sua aura de bem-intencionadas e éticas, darão conta do recado e serão aplaudidas por todos. Todo mundo sai ganhando, inclusive a imagem do Brasil lá fora, que receberá aplausos por sua "política indigenista".
Hmmmm. o diabo é que não é bem assim. As ONGs que se habilitam vêm com o que os gringos chamam de "strings attached", expressão que o nosso expert em criminologia, "en passant", não entenderia de imediato. Elas obedecem a outros donos, possuem outros interesses. Como sua ação fica facilitada a partir da preguiça desgovernamental, esse "deixa-pra-lá" é mais do que bem vindo. Elas fazem o que querem. Conseguem até impedir que cidadãos, ou mesmo autoridades de alto escalão do fazendão, coloquem os pés em determinadas áreas do país - o que, diga- se de passagem, é visto com muita naturalidade, até entusiasmo, pelos defensores do "deixa-pra-lá".
Acontece que tem gente lá fora que vê com muita preocupação a maneira com que o fazendão trata a sua maior gleba. Ela é incendiada, violentada, trucidada. Ninguém se preocupa em estudar suas riquezas, pesquisar as possibilidades de cura a partir de princípios ativos que podem se encontrar ali e sequer foram descobertos - e, se permitida a devastação, jamais o serão, mesmo. "Tough luck!" não é a resposta displicente que muita gente quer ouvir da turma do "deixa-pra-lá" para tratamentos de câncer, esclerose múltipla, Alzheimer's, Parkinson's e outros males.
Resumo da ópera: se você não toma conta de seus índios, a gente toma. Se você não toma conta da sua terra e das suas riquezas, a gente toma. Se você não explora o potencial genético, energético, de flora, fauna e etc, a gente explora. Como escreveu um brilhante esquerdista de boutique, "deixe a menina com a gente, deixa a menina sambar em paz." Ou, como diria o especialista em criminologia que adora futebol, "quem não faz gol, leva."
Uma coisa é certa: toda essa pilantropia tem um custo. Essa massa gigantesca de território certamente não ficará à mercê do eterno descaso preguiçoso por muito mais tempo. Tem muita gente de olho nela.
E você. ainda não descobriu quem é o expert em criminologia? Outro dia ele deu entrevista na tevê para malhar a imprensa na cobertura do caso Isabella, que ele chamou de "pirotecnia". Isso, claro, a despeito da avalanche de provas reunidas pela polícia contra o casal Nardoni- Jatobá. Essa preocupação é natural, quando o assunto é dar guarida a quem pratica o mal-feito. Disso ele entende.

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