17 de mai. de 2008

Carlos Minc, o marquetiero do meio ambiente

Por Kennedy Alencar

Quem conhece de perto Carlos Minc diz que ele é muito mais pragmático do que Marina Silva. No cargo de secretário do Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, ele viabilizou grandes projetos econômicos exigindo compensações ambientais, como replantio de árvores, recuperação de áreas devastadas, de lagoas e por aí foi.
Ganhou a simpatia de grandes empresas. Em troca, ele obteve investimentos privados em projetos ambientais.
Beleza pura.
Pode ser uma boa política para o Estado do Rio de Janeiro.
Essa política servirá à Amazônia?
Quem entende da floresta mais importante do mundo acredita que não. A autorização de uma exploração econômica "sustentável" (palavrinha bem surrada e que serve de Blairo Maggi ao Greenpeace) tende a comer a floresta. Pode ir comendo aos poucos, mas vai comendo.
O ideal seria uma espécie de congelamento da Amazônia no tamanho atual. Alguns grandes projetos estratégicos, para geração de energia, por exemplo, deveriam ser autorizados. Mas não existe exploração que combine pecuária e soja com mata em pé. E a grande pressão sobre a Amazônia vem dessas duas atividades. Hoje, a pecuária seria uma ameaça maior.
O desafio de Minc é gigantesco. Ele mesmo já assumiu que é marqueteiro. Falou que vai prender desmatador em helicóptero da PF (Polícia Federal). Uma bola tão cantada assim tende a virar caricatura. Soou falso, por exemplo, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ser fotografado vestido de farda com uma sucuri nos braços.
Obviamente, uma dose de pragmatismo fará bem ao governo. Mas, em termos de marketing, Minc tem pouco a ensinar a Lula e à própria Marina Silva, que não poderia ter escolhido melhor hora para deixar o posto.
A saída de Marina acuou o governo, que está subestimando o impacto nativo e internacional de sua queda. As pressões ambientais sobre o Brasil vão aumentar. A derrota de uma defensora da Amazônia foi e continua sendo notícia no mundo inteiro.
Lula e Minc terão de fazer mais do que prender desmatador nos helicópteros da PF. Piada o presidente já anda fazendo: deixar Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) na gestão do PAS (Programa Amazônia Sustentável) é de matar de rir. Ou será que é de chorar?
Queimado
Minc pode esquecer essa idéia de colocar o ex-governador do Acre Jorge Viana para coordenar o PAS (Plano Amazônia Sustentável) em substituição a Mangabeira Unger. Lula não quer nem ouvir falar do ex-governador do Acre.
O presidente fez de Minc a segunda opção para substituir Marina por pressão de ministros e auxiliares próximos. Todos com a correta avaliação de que Viana amenizaria o impacto da saída de Marina. O ex-governador pegou um avião para dizer a Lula que não topava.
Lula registrou que não foi a primeira vez que Viana hesitou numa hora de crise. No escândalo do mensalão, o presidente achava que as sugestões de Viana para enfrentar a tormenta resultariam numa rendição aos tucanos e pefelistas (estes hoje demistas). Na época, Lula chegou a dizer que faltava a Viana empenho na defesa do governo.

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