11 de mai. de 2008

Está abusando do direito de se exibir

O presidente extrapolou, sua atitude de todo poderoso caiu no ridículo e ele, com sua rudeza, sua esperteza, que é confundida com inteligência não entendeu essa situação. Villas-Bôas Corrêa põe dedo nessa ferida sem dó nem piedade. Abaixo alguns trechos de seu artigo, “A dose mínima de Simplicidade” para ler na íntegra, clique em “Leia mais”. (G.S,)
"A tisana do êxito excita o exibicionismo do inquieto e impaciente, que abomina as tediosas conversas políticas e as intragáveis reuniões administrativas para tratar assunto em geral já decidido mas que empacam na engrenagem burocrática. Solta-se à vontade, nas viagens a pretexto de lançar projeto de obras, acompanhar o seu andamento ou a suprema ventura da inauguração. Sempre com o palanque armado, assistência a favor garantida e o microfone a postos para o improviso da sua facúndia de excepcional comunicador popular, capaz de dois, três e mais discursos no giro de um dia.
Com tais incentivos, cutucado pela aprovação da sociedade, Lula passou da medida. E, agora, como que perdeu as estribeiras e a noção da conveniência. Emenda, uma atrás da outra, as caneladas nos desafetos e os elogios mais descabidos e absolutamente incompreensíveis a antigos inimigos. E baixou o nível na linguagem chula que chega a pornografia. (...)
Se o estoque de sentenças está desfalcado pelo excesso de uso, cutucando os escassos neurônios, sempre se encontra o cascalho amontoado no canto. Lembro a curta máxima do saudoso Paulo Francis: Quem não lê, não pensa. Ou, lá fundo, no buraco da memória, o provérbio de áspera advertência: Elogio em boca própria é vitupério. Vitupério é um substantivo feio, que soa como xingamento. E é quase: insulto, injúria, ato vergonhoso, infame ou criminoso."
( Foto: Lula faz "comício" em Ilheus)

A dose mínima de simplcidade.
Por Villas-Bôas Correa

Na repolhuda equipe que ocupa os espaços nobres do governo do presidente Lula falta o amigo de confiança, com a autoridade da longa convivência além da ousadia para avançar o sinal e falar com a rude franqueza no momento certo, no contraponto do chorrilho de elogios merecidos pelo muito que está dando certo.
Lula é um temperamento que pega no tranco e dispara ao primeiro sinal de que o caminho está livre. A sua biografia acompanha a trajetória que começa no sertão de Garanhuns, na tórrida zona da seca, e muda o rumo com a coragem de dona Lindu ao levar a filharada no pau-de-arara para Paulo. Aqui Lula é alfabetizado no troca-troca de três escolas públicas, tira o seu certificado profissional no Senai, trabalha em várias empresas e alça vôo na fulminante ascensão como líder sindical que funda o PT, coleciona três derrotas como candidato a presidente da República e se elege na quarta tentativa, para o bis da reeleição.
A tisana do êxito excita o exibicionismo do inquieto e impaciente, que abomina as tediosas conversas políticas e as intragáveis reuniões administrativas para tratar assunto em geral já decidido mas que empacam na engrenagem burocrática. Solta-se à vontade, nas viagens a pretexto de lançar projeto de obras, acompanhar o seu andamento ou a suprema ventura da inauguração. Sempre com o palanque armado, assistência a favor garantida e o microfone a postos para o improviso da sua facúndia de excepcional comunicador popular, capaz de dois, três e mais discursos no giro de um dia.
Com tais incentivos, cutucado pela aprovação da sociedade, Lula passou da medida. E, agora, como que perdeu as estribeiras e a noção da conveniência. Emenda, uma atrás da outra, as caneladas nos desafetos e os elogios mais descabidos e absolutamente incompreensíveis a antigos inimigos. E baixou o nível na linguagem chula que chega a pornografia. Dá para entender, apesar do erro tático, a sua implicância com o antecessor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, depois da transição civilizada, com salamaleques e promessas de amizade eterna. Como o "aqui você deixa um amigo", à porta do Palácio Alvorada, depois do longo jantar íntimo dos casais presidenciais.
Liberto das cautelas, livre como o pássaro que escapa da gaiola, o presidente dirigiu a sua maratona de reconciliação com os desafetos do passado recente com o ímpeto de derrubar todas as cercas de arame farpado. Numa das sessões de descarrego, elogiou em dose dupla os ex-generais-presidentes Emílio Médici e Ernesto Geisel, numa penitência de comover o mais empedernido coração. Do ex-presidente Geisel se salva a intervenção no DOI -Codi de São Paulo, depois de duas mortes sob tortura do jornalista Wladimir Herzog e do operário Fiel Filho.
Do mandato do presidente Médici não há notícia de um gesto, de uma palavra de apoio ao retorno da normalidade democrática. Só agora, andando de costas, o presidente Lula reeditou o brado retumbante do "ninguém segura este país", lema enigmático da ditadura militar que não esclarece quem pretendia segurar o Brasil.
Se em boca fechada não entra mosca, da goela escancarada podem escapar involuntárias tolices. Das quais, deve-se presumir o arrependimento do deslumbrado presidente no topo da popularidade e com o reconhecimento internacional, carimbado pela Standard & Poor´s, do grau de investimento, que acena com um período de prosperidade com a atração de capitais estrangeiros.
Se o estoque de sentenças está desfalcado pelo excesso de uso, cutucando os escassos neurônios, sempre se encontra o cascalho amontoado no canto. Lembro a curta máxima do saudoso Paulo Francis: Quem não lê, não pensa. Ou, lá fundo, no buraco da memória, o provérbio de áspera advertência: Elogio em boca própria é vitupério. Vitupério é um substantivo feio, que soa como xingamento. E é quase: insulto, injúria, ato vergonhoso, infame ou criminoso.
Convenhamos que não é caso para tanto. E que se resolve com juízo, modéstia e bom senso.

2 comentários:

Anônimo disse...

Maravilhoso texto, como sempre, escolhido pelo Giulio e equipe. De fato, é a leitura que nos remete à construção cultural da humanidde. Sem uma reflexão permeada de intrtextualidade e interdiscursividde, assistimos as desfile de uma parte mais anmal do ser humano, onde moram os referentes dos palavrões: merda, cu, puta etc (olhe o Lulesco nos meus escritos). Por outro lado, acima do baixo ventre, temos as emoções, já mais nobres, pois suscitam a solidariedade, o afeto, mesmo que isso possa cair num populismo. O populismo lulesco é chulo, agride até a quem tem coração, imagine quem tem mente. É a contracultura, a subcultura, a infracultura e dela só aproveita o comer, beber, fornicar, se vangloriar. Daí a figura da mãe das tetas e do pai dos pobres, para que o povo infira uma relação sexual de onde nascerá o filho das trevas, o filho do caos, que veio para locupletá-los nos seus instintos de vagabundagem com comida animal, não a comida que nutre para dar saúde e realização.

ma gu disse...

Alô, Giulio e Rô.

Vilas Boas na maciota. Mais uma para o 'prazer de ler'. Como quase sempre, no domingo.

Ensanchou-me a produção de um novo epíteto:
"duende vituperante"
E um ataque de riso quando, no último parágrafo, recomenda ao dito juízo, modéstia e bom senso. Pode? Ahahahahahahahahahahahahahha
hahahahahahahhahahahahahhaah.

Bom mesmo foi lembrar o saudoso Francis, que disse minha frase preferida:
Se Lula chegar ao poder, o país vai virar uma grande bosta!

Se não acreditam em mim, vão lá, na bosto, digo, biografia do duende, na http://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Inacio Lula_da_Silva