25 de mai. de 2008

Invasões Bárbaras

Por Eduardo Mahon

As invasões bárbaras não foram a causa da derrocada romana. Foram apenas um último suspiro de sintomas que se exibiam nas finanças, na sociedade, no militarismo. Ainda assim, foram os bárbaros capazes de derribar o maior império até então conhecido, num golpe fatal. Portanto, as invasões são sentidas como suficientes para aniquilar a hegemonia, apenas quando o sistema interno já está falido o suficiente para não se defender. E nós com isso?!
O Estado de Mato Grosso, mal se recuperando da transformação que os últimos trinta anos de migração impactaram a economia e a sociedade regional, tem um novo desafio: promover uma nova integração com o capital internacional que vê nas potencialidades estaduais uma fonte de lucratividade. Não se trata de emprestar colorido de xenofobia, até porque não fossem a imigração e fluxos migratórios internos, não teríamos sequer uma parcela das vantagens sociais e econômicas gozadas atualmente.
Uma terceira onda avança em Mato Grosso. A primeira, dos bandeirantes, foi responsável por assentar as nossas raízes, fincando uma forma alienígena de sociedade que, ao longo dos séculos, tornou-se ela mesma tradicional. As formas de produção, apropriação do espaço público e privado, desenvolvimento urbano, estão estampadas no resto de história que ainda não tombou nas cidades mato-grossenses. Essa gente de fora capitaneou a ocupação local, inaugurando formas típicas de pensar, agir e sentir.
A segunda onda foi a dos migrantes sulistas de forma geral. Gaúchos, paranaenses, catarinenses, cariocas e paulistas, constituíram uma base até então omitida na geografia política mato-grossense. Até que, passados mais de trinta anos, não há como ignorar a potência produtiva querendo verbalizar para o Estado, chegando a querer controlá-lo no centro nervoso, o governo. Esse povo trabalhador vingou na adversidade, mudou o centro gravitacional político e financeiro: são novos rostos, novos nomes, novas práticas. São ainda mirados de soslaio, mas é questão de tempo a fusão integral.
Finalmente, a terceira onda. São belgas, argentinos, chineses, americanos, espanhóis, portugueses, canadenses, enfim, é o mundo inteiro que mira Mato Grosso como um alvo. Não se trata de um fato necessariamente negativo. Ao contrário – pode ser uma oportunidade, se pensada estrategicamente, com alguma inteligência governamental. Os nichos econômicos que excitam as transações internacionais em Mato Grosso, a geração de energia como interessante retorno financeiro; o agronegócio como tomada de posição geopolítica; a preservação do potencial ambiental, como forma de investimento de retorno em médio prazo; a exploração sustentável do patrimônio ambiental e coleta do patrimônio genético brasileiro, enfim, todos esses valores latentes no Estado de Mato Grosso não podem ser simplesmente abertos, sem qualquer estratégia regional.
Houvesse uma noção de planejamento de médio e longo prazo, o investimento estrangeiro que aporta no meio mato-grossense não seria exclusivista e sim agregado aos valores regionais, como alavanca de desenvolvimento estratégico, sob a batuta estadual e nacional. São bárbaros investimentos que bem poderiam ser conjugados com necessidades mato-grossenses, não só fomentando o aspecto eminentemente financeiro, mas colhendo oportunidades financeiras a fim de aumentar o padrão de vida, de cultura, de educação, de autonomia de nosso povo. Interesses partilhados, numa relação de mutualismo, numa expressão que resuma toda a idéia.
Até então, a discussão gravitava em torno de estranhamentos internos, mas sempre nacionais. A terceira onda será mais difícil de surfar, porque não se trata de interesse brasileiro no qual governos distribuem benesses aos desbravadores: trata-se de uma invasão financeira com o único objetivo de lucratividade. Dificilmente haverá o interesse de desenvolvimento e progresso na área explorada, tal qual fizeram com muita competência os paus-rodados, hoje paus-fincados e amanhã, tchapa-e-cruz. É preciso compreender que temos uma enorme importância estratégica nos próximos cinqüenta anos, seja como fonte de energia, de alimentos, de matriz genética, de carbono, de água, de minério, numa palavra – de valores essenciais e extremamente raros aos mercados internacionais. Essa nova onda não pode virar um tsunami; deve ser controlada com políticas públicas adequadas, sob pena de sofrermos invasões bárbaras.

3 comentários:

Anônimo disse...

Cara Adriana, de certeza que o Brairo não tem estatura política nem intelectual, ética ou administrativa para fazer frente à terceira "onda" populacional de MT...

ma gu disse...

Alô, Adriana.

Novamente, Rô se antecipou. 'No problema', como diria o exterminador do futuro. Repetindo algumas palavras do articulista, "pode ser uma oportunidade, se pensada estrategicamente, com alguma inteligência governamental", seria necessário que isso existisse em MT. Pelo que temos visto, isso é produto não encontrável no Estado. Mau para vocês...

Anônimo disse...

E para não sair da Roma antiga, imaginem se Nero tivesse motossera.
Creso, perto de Blairo, é mais pobre que Jó.