19 de mar. de 2007

As entrelinhas

Por Laurence Bittencourt Leite, jornalista.

É da natureza da alma feminina se sentir amedrontada ante as dificuldades do dia-a-dia. Freud mostrou que a natureza feminina poderia ser descrita num misto de timidez, vergonha, ruborização e culpa, mas principalmente por um eterno infantil. O incrível é que esse eterno infantil é que mexe com os homens.
Mas é possível presenciar esses caracteres em homens? Também. Pessoas que se recolhem do mundo, tido como ameaçador. Que se negam a enfrentar os problemas. O estranho, aquilo que parece diferente, que a criancinha sente lá no inicio do seu crescimento, é sentido como um monstro que parece que irar roubar o colinho da mamãe. O mundo doce. É o desejo infantil falando mais alto. Papai é o monstro que pertuba a relação incestuosa com mamãe. Logo, papai dançou, a autoridade paterna dançou, é melhor o colinho da mamãe. O fuxiquinho.
No Brasil vivemos esse tipo de situação permanentemente. O Brasil é um país infantil, porque nossas elites vivem nessas descrições que eu fiz agora. Não só a elite, claro. Mas a elite de um país serve para contrapor o infantil, como o pai em uma família assim também deve ser e fazer. A questão é que nossas elites não fazem esse papel. Eles se negam a assumir tal condição. E ai vem a pergunta: como esperar tal conduta se as nossas autoridades não são éticas? Aqui as ditas autoridades roubam, mas todas saem ilesas. Sempre foi assim? Respondam. E alguns querem empurrar goela abaixo, que as nossas autoridades são e tem autoridades. Não tem. Toda autoridade pressupõe o respeito e o não convívio com a falta de ética e moral. Não importa de onde ela surga ou nasça. Simplesmente manda apurar, pune os culpados. Aqui não. Aqui se convive com o roubo sem nenhum problema. E o mais grave: quem defende ou leva à frente uma conduta contrária, é tido como autoritário.
A questão é: como então querer prender o ladrão ou o criminoso que mata criancinhas? Não há possibilidade. Se as ditas “autoridades” não passam no quesito ético e moral, como defender o contrário? Nesse sentido eles são coerentes. Não podem se mostrar rigorosos, porque teriam que ser rigorosos consigo mesmo. Por isso nesse país, o comum é vermos a defesa do bandido, e a acusação ao policial. Não há a valorização da ética, ainda que muitos policiais sejam não éticos. Somos ou não um país infantil? Certamente. Certamente.
Basta ver o caso PT. O PT é o caso mais estarrecedor e “atual”. Lembram Lula depois de toda sujeira? Em seu cinismo verdadeiro, ele disse “o PT fez aquilo que todos fazem”. Pronto. Está resolvido a parada. Conseguiu um salvo-conduto. Se todos fazem o mesmo, porque responsabilizar o PT? Não importa o passado. Não importa os discursos inflamados do PT e de Lula por mais de vinte anos. Não. Nada disso importa. O que importa é que o PT apenas foi igual. E se foi igual está tudo resolvido. Mas e a autoridade? Há autoridade? Ora, para que a lei? Somos o país do carnaval, do jeitinho.
Dizem que todo país tem os políticos que merece. Parece que no nosso caso, é uma condenação ao fogo eterno. Há um determinismo condenatório na frase. Mas qual fogo eterno? Heráclito, tido por alguns como o obscuro, dizia que tudo muda. Parmênides ao contrário, dizia que tudo é permanente. Em qual desses mundos vivemos? Na mudança, ou no permanente? A escolha parece que já foi feita há muito tempo. Basta saber ler as “entrelinhas”.

Nenhum comentário: