28 de mar. de 2007

The Buck

Ocasionalmente temos de voltar o relógio e reler o que escrevemos tempos atrás. No caso, reli a crônica abaixo, de outubro de 2005. Na minha cabeça esta crônica sempre se chamou “The Buck”, devido ao quadrinho de Truman. Pois bem, na releitura continuamos encontrando um presidente que não assume. Se há apagão aéreo, em última instância a culpa é do Presidente. E ao confirmar um inepto no ministério não é mais sequer uma culpa passiva. Há momento em que a passividade, de tão odiosa passa a ser uma culpa ativa. E isso não se restringe aos apagões aéreos. Um presidente que de fato atingiu o segundo mandato, deveria agora estar agindo com mais desenvoltura, impondo sua vontade pára fazer aquilo que o país necessita.
Ao não fazê-lo mostra que está no cargo a passeio, não a trabalho.
R.J.H.

Perdulários
Por Ralph J. Hofmann

“The Buck stops here.”
(Frase em quadrinho na mesa do Pres. Harry Truman)
“The Buck stops here” é um dito popular americano. Significa que no jogo do empurra das responsabilidades não há mais a quem empurrar. O Presidente Truman, homem modesto, simples, mas extremamente arguto, ao assumir a presidência após a morte do Roosevelt, ao colocar uma placa com este texto dizia. Eu assumo, eu sou responsável , se vocês errarem sou eu quem paga o pato.
Que saudades de um líder destes. Principalmente ante um presidente que diz que foi traído, que é culpa do seu antecessor, e cuja atuação se resume às bravatas.
Na verdade o que estamos vendo é o fim da fortuna de um grupo de perdulários. Ao assumirem o governo tinham vários tipos de ativos à sua disposição, prontos para renderem dividendos. Oito anos de administração sábia da economia. Quinze anos de construção de um fundo de comércio pelo empresariado privado, que procurara mercados alternativos no exterior para escapar das idas e vindas do mercado interno. Vinte e cinco anos de reputação de probos e íntegros aquinhoados por repetidas campanhas em que eram os moralistas, os puros.
Um governo é normalmente eleito para zelar pelos melhores interesses do povo. No caso do Brasil isso sempre pressupôs o domínio da democracia. Nenhum dos presidentes militares duvidava que fosse um guardião da democracia. Apenas não confiava no povo para eleger líderes que não fossem populistas ou dedicados a transformar o Brasil numa República Democrática Popular. Com isto erraram na dose. Muitos anos no poder findaram por transformá-los em caudilhos. Castelo Branco já percebia essa possibilidade em 1964. Mas ao menos eles mesmos perceberam o que ocorria em dado momento e tivemos uma transição tipicamente brasileira, pacífica.
A verdade é que uma boa parte das pessoas que cercam o Sr. Presidente não tem este objetivo. Vê o poder como uma forma de perenizar-se no poder ao molde das nomenklaturas da URSS, clonadas em todos os seus satélites.
Entronizados no governo, sabedores que de fato os oito anos de FHC/Malan haviam preparado uma arrancada para o futuro, passaram a administrar as políticas sãs do precedente. E mais, ansiosos por mostrar serviço passaram a ser mais radicalmente férreos na contenção de qualquer quebra de ortodoxia ante o que haviam herdado.
No primeiro ano se beneficiaram dos retrocessos causados pelo temor interno e externo ante a iminência do PT no governo. A taxa do dólar reagiu, outros indicadores reagiram e dentro de seis meses o país voltara ao ponto em que estivera seis meses antes de se tornar óbvio que o PT venceria as eleições. Isto permitiu ao Sr. Presidente correr mundo arrotando competência. Vejam, estávamos meramente de volta aos níveis de doze a dezoito meses antes. E isso foi apresentado ao povo e ao mundo como uma grande vitória. Detenham-se um instante para imaginar o que teria sido se em 2002 os indicadores fossem de uma vitória do Serra ou de outro qualquer que não o PT.
Neste momento voltamos aos anos 70. Só faltou batizar o fenômeno de Brasil Grande. As condições dos mercados mundiais se tornaram positivas, o longo trabalho de sapa dos exportadores deslanchou e a economia .....não cresceu. O comércio exterior simplesmente deslocou o mercado interno nas receitas das empresas. Certamente as empresas prefeririam ter o mercado externo além do mercado interno. Mas os salários não crescem, pois o governo não gera dinheiro para pagar seus empregados e os pensionistas. Os juros não caem significativamente, o que ainda seria administrável, e os altos impostos causam uma inelasticidade de preços ao consumidor junto com os juros.
E a todas essas, com a probidade fiscal o governo determina orçamentos de mentira. Aloca dinheiro em orçamento e depois não o distribui.
Mas qual uma chusma de playboyzinhos mimoseia-se com aviões, perdão a devedores internacionais e outros regalos. Em troca do que? Nada. Uma possibilidade, de antemão impossível de um assento permanente no conselho de segurança. Um arroto bem alto nos conselhos do mundo.
Não enfrenta ninguém em questões comerciais, como a Argentina inadimplente em suas obrigações no âmbito do Mercosul, a China ante a chicana da rejeição de soja contratada. As vitórias do OMC são coisas iniciadas pelo governo anterior e pelos empresários interessados e ainda pelos funcionários de carreira do Itamaraty, de longa data engajados nessa lide.
Espera ocorrerem os desastres para tratar de saná-los. O que seriam algumas centenas de milhões em prevenção, em defesa do gado e da agricultura comparados com a perda de três bilhões de exportação de carne, e a conseqüente inadimplência dos produtores e desemprego dos peões. Não o dinheiro alocado fica no caixa do tesouro. “Pound foolish penny wise”( Gasta os reais e economiza os centavos).
Essencialmente estamos ante um governo a deriva. Temos um ministro da fazenda que provou ser um bom administrador do processo de estabilização que recebeu. Mas um homem sem imaginação para dar um salto à frente. Um governo que dilapidou certos centros de excelência em ministérios, em bancos de fomento e mesmo sua própria reputação.
Pai rico, filho nobre neto pobre.
Nos anos setenta, na Faculdade de Economia, dizíamos que se a economia do Brasil fosse o desfile das Escolas de Samba o Hélio Beltrão e o Roberto Campos seriam a Riotur. O Delfim seria a Escola de Samba desfilando.
Estou vendo o Lula e o Palocci cobertos de lentejoulas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nunca antes neste País...

Félix Maier

Lula sofre da "síndrome da criação". As coisas boas que existem no Brasil, desde a histórica viagem de Cabral ao País, foi Lula que criou. As coisas ruins que existem no Brasil, no entanto, não passam de uma "herança maldita" deixada por FHC e os governos anteriores. Não demora muito e Lula dirá que ajudou Noé a construir a arca...

No entanto, o presidente tem razão, algumas vezes, em repetir a jaculatória lulista "nunca antes neste País". Vejamos alguns exemplos:

- Nunca antes neste País se roubou tanto. Os desvios de dinheiro público, no primeiro mandato de Lula, somam R$ 4 bilhões! Fizeram a festa os mensaleiros, os transportadores de dólares no avião e na cueca, os sanguessugas, além da bem-vinda chegada dos dólares de Cuba e das FARC.

- Nunca antes neste País a Presidência da República gastou tanto. No primeiro mandato do Grande Guia, foram R$ 4,6 bilhões! Mais do que o orçamento de muitos petistérios para o mesmo período, como o do Desenvolvimento. Além das mordomias palacianas para o presidente, sua família e a militância petista, no Torto ou no Alvorada, o PAC (Plano de Ajuda aos Companheiros) teve incremento exponencial com as diárias pagas ao presidente e demais ajudantes (no exterior, em dólares) - além dos cartões de crédito/débito institucionais. Nem por nada que Lula ficou milionário na presidência, pulando seu patrimônio de R$ 400 mil para mais de R$ 800 mil em apenas 3 anos de mandato.

- Nunca antes neste País a impunidade foi tão grande. Basta lembrar os deputados mensaleiros inocentados em plenário pelos próprios colegas, muitos dos quais se reelegeram.

- Nunca antes neste País os impostos foram tão altos. E a CPMF, que deveria acabar neste ano, deverá se eternizar para todo o sempre, per omnia saecula saeculorum, amen!

- Nunca antes neste País um filho de presidente se tornou rico em tão pouco tempo: Lulinha teve uma injeção de R$ 15 milhões da Telemar em uma firma de fundo de quintal. Isso é que é saber multiplicar os talentos de que fala a Bíblia...

- Nunca antes neste País se promoveu um ataque frontal ao Estado de direito democrático como o perpetrado pelo PT, que criou mais de 20.000 novos cargos para tomar conta de toda a máquina federal. Com isso, com o pagamento do "dízimo" petista, que é obrigação de todo filiado do partido alçado a cargo público, o PT se tornou um partido bilionário, se preparando monetariamente para continuar os desmandos no País por mais uns 20 anos.

- Nunca antes neste País se consumiu tanta droga como agora. Com a descriminalização das drogas promovida pelo governo Lula, tratando o viciado como "doente" e não mais como "financiador" do traficante, a tendência é o Brasil se tornar um país de drogados. Como a Holanda dos cannabis-coffee.

- Nunca antes neste País havia furacões e tornados. Depois que Lula assumiu o poder, eles apareceram, a exemplo do Catarina, que destruiu centenas de casas no Sul de Santa Catarina. Não chegou a ser um Katrina, que arrasou Nova Orleans, EUA, mas fez um estrago "nunca antes visto neste País". Só pode ser culpa do Lula, sem dúvida...