17 de mar. de 2007

Coisa morta

Por Adriana Vandoni

Hoje o mundo discute o aquecimento global e ecologeiros sonham em decretar uma moratória para Mato Grosso, o vilão da vez. É aquela história de sempre: se está gerando riqueza, tem o dedo do mal, do demônio, e o demônio é o lucro do capitalista. Enquanto isso, pesquisadores menos neuróticos buscam formas de expandir a produção brasileira e preservar o meio ambiente usando a natureza de forma racional e inteligente. Isso quer dizer sustentável, uma palavra que está a um passo do desuso em função do seu uso em vão. Mas existe e é possível. O problema é a imagem. Mato Grosso passou a ser o destruidor do pulmão do mundo, o umbigo infeccionado do universo.
Mas faz por merecer. O governador do estado, que já é visto com desconfiança no mundo verde, de acordo com um site local, disse à um jornalista da BBC de Londres que quando sobrevoa a Floresta Amazônica tem a impressão de estar diante de uma “coisa morta”. Pelamordedeus! Ele pode até achar isso, mas dizer para um jornal internacional! Por favor! Coisa viva seria soja?, ou pés de dólar?
Por essas e outras, Mato Grosso já foi agraciado com alguns edificantes troféus como a "Motoserra de ouro", prêmio entregue ao governador pela mulher-samambaia, ou seja, de grande relevância. Este ano recebeu o troféu Caranguejo ao extinguir a polícia ambiental. Mas pelo visto, a coisa não para por aí. Ainda têm muito por fazer.
Desta vez a coisa veio em forma de projeto de Lei. O líder do governo na Assembléia elaborou projeto de lei propondo a realização de um plebiscito para saber a opinião da população mato-grossense sobre a permanência ou a exclusão de Mato Grosso na Amazônia Legal. Eu achei ótima, aliás, estava escrevendo sobre o etanol quando recebi essa notícia fantástica. Lembrei-me do folclórico ex-governo de Minas Gerais, Newton Cardoso, que comentou com um assessor sua indignação pelo fato de paulistas ganharem mais na loteria esportiva que os mineiros. O assessor respondeu: - é a Lei da Probabilidade, governador. Este de bate pronto ordenou: - Pois então providencie uma emenda à Constituição do estado derrubando essa tal Lei prejudicial aos mineiros.
Acredito na boa intenção do líder do governo ao elaborar essa proposta, mas há de se explicar alguns fatores. Em primeiro lugar, óbvio, a Amazônia não é apenas um traçado de divisão política, mas um Bioma e isso quer dizer um conjunto de seres vivos de uma determinada região, cuja vegetação tem bastante similaridade e continuidade, com um clima mais ou menos uniforme, tendo uma história comum em sua formação. Logo, sua diversidade biológica também é muito parecida.
Estabelecido esse pequeno detalhe ambiental, vamos ao aspecto político. Quando foi criada a Amazônia Legal, de onde o parlamentar quer tirar o estado, expandiu-se os limites para englobar também as áreas de transição entre cerrado e a floresta amazônica, o objetivo era estimular o desenvolvimento. Sem dúvida alguma grande parte das empresas agropecuárias, hotéis e indústrias, enfim, nada disso existiria não fossem financiamentos da SUDAM, inclusive algumas empresas do governador que em décadas passadas utilizou a SUDAM para formar seu patrimônio atual. Agora os outros não podem mais? “Buuuunitiiiiiinho”! Quantos milhões deixarão de ser destinados ao estado caso esta lei prospere?
Sabe como eu chamo uma idéia dessas? Falta do que fazer! E como batata quando encontra solo fértil até racha, o "dono da casa" do alto de sua sabedoria, sentenciou: "É a oportunidade de escolher o melhor para o Estado, e nada mais viável do que o plebiscito". Êta povo que está gostando de plebiscito. Vamos consultar a população para saber se ela deseja mais transparência dos recursos da Assembléia? Seria "a oportunidade de escolher o melhor para o Estado"!
Tanta coisa para ser mudada, adequada, criada neste estado, porque cargas d'água resolver sair da SUDAM, enquanto o nordeste reclama a reativação da SUDENE. Tenho algumas sugestões mais interessantes para quem anda assim, meio sem ter o que fazer. Poderiam alterar a Lei de Murphy ou a intragável Lei da Gravidade. Essa daria muitos votos! Homens e mulheres na idade em que as coisas começam a cair, porque um dia caem mesmo, seriam eleitores cativos. Tão mais simples, deputado! E sem prejuízo econômico, apenas para os cirurgiões plásticos e fabricantes do remédio azulzinho.
Façamos o seguinte: o deputado pára com isso, e eu desisto do meu estudo de implantar uma cúpula em Cuiabá. É, uma cúpula, uma redoma, para climatizar toda a capital, porque deve ser este calor danado que faz surgir tanta idéia de jerico.

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