O governo Lula pretende limitar o direito de greve dos funcionários públicos que atuam em serviços tidos como essenciais – casos do INSS e dos controladores de vôo, exemplificou o ministro do Planejamento. Segundo declarações de Paulo Bernardo publicadas na Folha de S. Paulo, as paralisações dos servidores devem ser usadas para pressionar a União, mas não para “desgraçar a população”. Não menos enfática foi o mea culpa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Há abusos em greves, não apenas no setor público, mas em outras categorias. Agora cada um de nós paga um preço pelos exageros que cometemos. Seja no governo, seja no movimento sindical.” É curioso que, enquanto Lula intitula as posições que ele e o PT defendiam em passado não muito distante de “exageros”, Bernardo rotula de “besteiras” as críticas que os defensores dessas mesmas posições fazem agora à intenção governamental de disciplinar as greves. “Nós” apenas exagerávamos. “Eles” não passam de umas bestas. Lula repetiu, assim, seu malabarismo retórico e ideológico de dezembro, quando, na confraternização de fim de ano do Clube Militar, qualificou de problemáticos os sexagenários que mantêm seus ideais de esquerda. O sensato velhinho também mudou sua maneira de encarar Bush e os Estados Unidos, conforme notou o analista político Clóvis Rossi: “...a visita de George Walker Bush a São Paulo e, dentro de três semanas, a do próprio Lula a Washington, acabam representando a descida do muro por parte do presidente brasileiro, para ficar do lado do que seus antigos aliados do Fórum Social chamam de globalização corporativa”. Vale ressalvar que, bem vistas as coisas, tem de haver mesmo algum limite às greves em serviços públicos essenciais, igualar esquerdismo com juvenilismo não passa de um clichê reacionário e a identificação com o país-símbolo do capitalismo e com seu presidente truculento e desmoralizado é um grave erro. Mas, o que há de comum nesses três casos é a impudência com que Lula queima as bandeiras do passado. Faz lembrar o ditador Figueiredo, pedindo que o esquecessem. Na mesma linha, Lula poderia muito bem afirmar: “Esqueçam o que eu dizia antes, vale só o que eu digo hoje.” Enganam-se, entretanto, os que chamam Lula de “incoerente” e até de “aburguesado” ou “vendido”. Ele continua o que sempre foi: pragmático e amoral. Adota as teses mais apropriadas para a defesa dos seus interesses em cada momento e as descarta assim que perdem a serventia. Não é de esquerda nem direita, democrata nem autoritário, a favor do socialismo ou do capitalismo. Será sempre, unicamente, aquilo que mais convier para si próprio. O chocante é tão poucos haverem percebido que, sob o apelido moluscóide, o que havia era um camaleão – ou, pior ainda, um parasita que se adapta a todos os ambientes e situações, utilizando-se de qualquer organismo para dele extrair a energia vital, de forma a fortalecer-se enquanto o parasitado se torna exangue (caso do PT). Como atenuante, havia aquele velho sonho marxista de que o operariado industrial assumisse a vanguarda da revolução. A esquerda festiva vibrou quando surgiu um metalúrgico, barbudo como Marx, que parecia corporificar essa esperança. Viu apenas aquilo que queria ver. E agora se recrimina amargamente por ter deixado de perceber o óbvio. E houve também os que, como Zé Dirceu, captaram de imediato as gritantes limitações do Lula, mas pensaram que, exatamente por isso, poderiam servir-se dele como cavalo de Tróia para chegarem ao poder. Quem cavalga um tigre acaba sendo devorado pela fera, diz um provérbio chinês. Para a esquerda, o saldo acabou sendo desastroso: forneceu à direita o líder popular que ela seria incapaz de criar sozinha e é identificada pelo cidadão comum com a podridão e os desatinos do governo Lula. Além de haver contribuído para um dos maiores estelionatos eleitorais da História, ao ajudar a eleger um homem que nega hoje quase tudo que pregava antes de chegar ao poder – esquecido de que foi em nome do seu suposto compromisso com essas posições que os partidários continuaram apoiando-o fervorosamente, mesmo depois das derrotas na eleição para o governo de São Paulo e em três pleitos presidenciais consecutivos.
Um comentário:
Molusco, camaleão ou parasita?
Celso Lungaretti (*)
O governo Lula pretende limitar o direito de greve dos funcionários públicos que atuam em serviços tidos como essenciais – casos do INSS e dos controladores de vôo, exemplificou o ministro do Planejamento. Segundo declarações de Paulo Bernardo publicadas na Folha de S. Paulo, as paralisações dos servidores devem ser usadas para pressionar a União, mas não para “desgraçar a população”.
Não menos enfática foi o mea culpa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Há abusos em greves, não apenas no setor público, mas em outras categorias. Agora cada um de nós paga um preço pelos exageros que cometemos. Seja no governo, seja no movimento sindical.”
É curioso que, enquanto Lula intitula as posições que ele e o PT defendiam em passado não muito distante de “exageros”, Bernardo rotula de “besteiras” as críticas que os defensores dessas mesmas posições fazem agora à intenção governamental de disciplinar as greves. “Nós” apenas exagerávamos. “Eles” não passam de umas bestas.
Lula repetiu, assim, seu malabarismo retórico e ideológico de dezembro, quando, na confraternização de fim de ano do Clube Militar, qualificou de problemáticos os sexagenários que mantêm seus ideais de esquerda.
O sensato velhinho também mudou sua maneira de encarar Bush e os Estados Unidos, conforme notou o analista político Clóvis Rossi: “...a visita de George Walker Bush a São Paulo e, dentro de três semanas, a do próprio Lula a Washington, acabam representando a descida do muro por parte do presidente brasileiro, para ficar do lado do que seus antigos aliados do Fórum Social chamam de globalização corporativa”.
Vale ressalvar que, bem vistas as coisas, tem de haver mesmo algum limite às greves em serviços públicos essenciais, igualar esquerdismo com juvenilismo não passa de um clichê reacionário e a identificação com o país-símbolo do capitalismo e com seu presidente truculento e desmoralizado é um grave erro.
Mas, o que há de comum nesses três casos é a impudência com que Lula queima as bandeiras do passado. Faz lembrar o ditador Figueiredo, pedindo que o esquecessem.
Na mesma linha, Lula poderia muito bem afirmar: “Esqueçam o que eu dizia antes, vale só o que eu digo hoje.”
Enganam-se, entretanto, os que chamam Lula de “incoerente” e até de “aburguesado” ou “vendido”. Ele continua o que sempre foi: pragmático e amoral. Adota as teses mais apropriadas para a defesa dos seus interesses em cada momento e as descarta assim que perdem a serventia.
Não é de esquerda nem direita, democrata nem autoritário, a favor do socialismo ou do capitalismo. Será sempre, unicamente, aquilo que mais convier para si próprio.
O chocante é tão poucos haverem percebido que, sob o apelido moluscóide, o que havia era um camaleão – ou, pior ainda, um parasita que se adapta a todos os ambientes e situações, utilizando-se de qualquer organismo para dele extrair a energia vital, de forma a fortalecer-se enquanto o parasitado se torna exangue (caso do PT).
Como atenuante, havia aquele velho sonho marxista de que o operariado industrial assumisse a vanguarda da revolução. A esquerda festiva vibrou quando surgiu um metalúrgico, barbudo como Marx, que parecia corporificar essa esperança. Viu apenas aquilo que queria ver. E agora se recrimina amargamente por ter deixado de perceber o óbvio.
E houve também os que, como Zé Dirceu, captaram de imediato as gritantes limitações do Lula, mas pensaram que, exatamente por isso, poderiam servir-se dele como cavalo de Tróia para chegarem ao poder. Quem cavalga um tigre acaba sendo devorado pela fera, diz um provérbio chinês.
Para a esquerda, o saldo acabou sendo desastroso: forneceu à direita o líder popular que ela seria incapaz de criar sozinha e é identificada pelo cidadão comum com a podridão e os desatinos do governo Lula.
Além de haver contribuído para um dos maiores estelionatos eleitorais da História, ao ajudar a eleger um homem que nega hoje quase tudo que pregava antes de chegar ao poder – esquecido de que foi em nome do seu suposto compromisso com essas posições que os partidários continuaram apoiando-o fervorosamente, mesmo depois das derrotas na eleição para o governo de São Paulo e em três pleitos presidenciais consecutivos.
(*) Celso Lungaretti - é jornalista e escritor.
no Cláudio Humberto
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