16 de mar. de 2007

O Eterno Bufão

Dora Kramer (Jornal Cruzeiro do Sul) faz um perfil agudo e correto de Collor e seu discurso, sem esquecer a fina ironia que caracteriza seu estilo. É algo para ler, guardar e dessa forma não esquecer a deletéria figura do bufão.(G.S.)

AOS FATOS
O senador Fernando Collor de Mello apresentou, em seu primeiro discurso da tribuna, sua versão sobre o processo de afastamento da Presidência da República, de que foi alvo 15 anos atrás. Atribuiu o episódio ao radicalismo e à intolerância gerais. Mas não explicou por que, então, renunciou e não enfrentou o processo de impeachment durante o qual poderia derrubar, uma a uma, as acusações.
Sendo a principal delas (com prova documental), a de que tinha suas despesas pessoais pagas pelo ex-tesoureiro de sua campanha, Paulo César Farias, preso por comandar um esquema de coleta de propinas na administração pública.
Citou, como exemplo de isenção e inocência, a falta de mobilização de sua base para barrar a CPI do PC ou mesmo atrapalhar as investigações na Polícia Federal. Deixou de lado, mais uma vez os fatos. Tentou, sim, interferir no processo. Mas só quando era tarde, pois inicialmente a soberba o fez incorrer no erro de cálculo fatal de imaginar que a CPI não daria em nada.
Ontem, porém, no discurso de estréia, deu uma demonstração de força na recuperação. Recebeu reverências dos ex-aliados e tratamento respeitoso dos ex-adversários.
No mais, apresentou-se o mesmo de sempre: um ás na arte do marketing pessoal, que não dispensou voz embargada, a iminência da lágrima estudada, a postura marcial, o linguajar elaborado e o poder retórico de convencimento.
Mostrou-se cordial na forma, mas no conteúdo, a agressividade de sempre estava lá. Contida, mas presente, como que a esperar que o País e o Congresso depois de tudo ainda lhe peçam desculpas.
O tempo passou, o Brasil mudou, mas Fernando Collor de Mello continua o mesmo. Obstinado, tentará a remissão por meio de vôos mais altos na política.

Nenhum comentário: