21 de abr. de 2007

Artigo de Dora Kramer

Leia este trecho do artigo de hoje de Dora Kramer no Estadão. Mais um absurdo dos tantos no nosso país louco e permissivo com o crime.
"um dos acusados pela PF de receber mesada da máfia dos bingos no Rio é o policial Miguel Laíno, lotado (requisitado, portanto) no gabinete do presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Picciani, a quem o governador do Estado, Sérgio Cabral Filho, fez o recente favor de conseguir que o PMDB indicasse o filho e sócio nos negócios da família, deputado federal Leonardo Picciani, para presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, a mais importante da Casa."

Leia abaixo o texto completo.


De caso com a máfia
DORA KRAMER, dora.kramer@grupoestado.com.br

A respeito das relações da política do Rio de Janeiro com máfias de jogatina, as muitas fotografias, reportagens e notas publicadas em jornais mostrando candidatos a todos os postos - incluindo o de governador - ao lado de bicheiros, hoje bingueiros, contam a história de um caso antigo.

Do tempo em que a sociedade carioca - e mesmo a nacional - aceitava a promiscuidade e até se orgulhava dela, como sinal de democracia social. Isso foi antes de a então juíza Denise Frossard “estourar a banca”, mandando banqueiros do bicho para a prisão, a primeira vez que o poder público tratou aqueles senhores como criminosos.

O resultado foi o que se vê agora na Operação Furacão e em algumas ações anteriores da PF: a exposição da contaminação do Estado pelo mundo da transgressão, cujos integrantes transitam com naturalidade e habitam nichos importantes de poder.

Exemplo: um dos acusados pela PF de receber mesada da máfia dos bingos no Rio é o policial Miguel Laíno, lotado (requisitado, portanto) no gabinete do presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Picciani, a quem o governador do Estado, Sérgio Cabral Filho, fez o recente favor de conseguir que o PMDB indicasse o filho e sócio nos negócios da família, deputado federal Leonardo Picciani, para presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, a mais importante da Casa.

A declaração do ministro da Justiça, Tarso Genro, de que não se surpreenderá se a PF descobrir parlamentares envolvidos no esquema de venda de sentenças judiciais, a despeito de inadequadamente informal e institucionalmente imprópria, aponta para fatos novos a serem acrescentados à fornida lista de congressistas com problemas legais.

É importante considerar, contudo, que os envolvidos com máfias por causa de financiamento de campanhas não são os únicos a andar à margem da lei. Em situação marginal encontra-se também a grande maioria cujas eleições são patrocinadas por dinheiro de caixa 2, de origem não declarada e, em princípio, suspeita.

Passado o impacto dos escândalos mais recentes e distante o período de eleições, nunca mais se falou no assunto de conteúdo tão infrator quanto o objeto das investigações da Operação Furacão. A semelhança está na tolerância à prática do caixa 2, tanto quanto foi durante longo tempo aceita a convivência pública, e em alguns casos reuniões em palácios de governo (o Guanabara, por exemplo), entre políticos e bandidos.

O resultado da complacência para com delitos aparentemente menores frente aos horrores da violência urbana e da corrupção institucionalizada está aí, na lamentável demonstração da infiltração da marginalidade no aparelho de Estado a partir de episódios socialmente tolerados, vistos não como crimes, mas como “traços” culturais de um povo ameno e sestroso que para tudo arranja um jeito.

Um comentário:

Abreu disse...

Adriana,

E por falar "nessas coisas", não lhe parece 'interessante' o fato de que FOTOGRAFIAS das pilhas de dinheiros apreendidos nestas últimas investidas da gloriosa Polícia Federal estejam circulando livremente em todos os veículos de mídia?

Curioso, não? Agora pode, mas na época do dossiê fajuto antitucanos não podia!

Que nojo, não?