1 de mai. de 2007

A arma secreta dos tucanos

Fernanda Odilla da equipe do Correio

PSDB contrata ex-senador Antero Paes de Barros (MT) para assessorar partido nas investigações sobre o caos aéreo e irregularidades na Infraero. Partidos da base aliada adiam indicações para as comissões

(Leia abaixo a matéria completa)

A arma do PSDB para bombardear o governo nas CPIs do Apagão Aéreo na Câmara e no Senado tem experiência parlamentar e uma coleção de comissões no currículo. Os tucanos contrataram o ex-senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), titular de cinco CPIs em seis anos, para assessorá-los nas investigações no Congresso sobre o caos aéreo e as denúncias de corrupção na Infraero. Os trabalhos na Câmara começam na quinta-feira. No senado, em meados de maio.
Paes de Barros já fez uma lista de assessores considerados essenciais para abrir a caixa preta da aviação no Brasil. A idéia é reunir parte da equipe da CPI do Banestado, presidida por ele entre 2003 e 2004, para apurar o envolvimento de autoridades federais e estaduais em um esquema de remessa ilegal superior a US$ 30 bilhões para o exterior (veja Memória abaixo).

Infraero

O PSDB não quer fazer feio nas duas CPIs criadas para apurar uma série de fatos considerados suspeitos pela oposição. O objeto das investigações incluiria os repetidos atrasos nos aeroportos, as condições de trabalho dos controladores de vôo, a compra da Varig pela Gol e licitações e contratos milionários assinados pela Infraero. Os tucanos também querem se diferenciar da oposição barulhenta do Democratas, que pretende gastar toda a munição contra a gestão do deputado petista Carlos Wilson (PE), presidente da estatal entre 2003 e março de 2006.
No Senado, a tropa do PSDB é composta por Sérgio Guerra (PE) e Mário Couto (PA). Eles farão uma parceria com os democratas Antônio Carlos Magalhães (BA), José Agripino (RN) e Demóstenes Torres (GO). Senadores tucanos já pensam na dobradinha com a Câmara para minar as tentativas da base do governo em barrar requerimentos e diligências.
Espera-se que o senador Sérgio Guerra atue em parceria com o deputado federal Gustavo Fruet (PA), um dos três tucanos indicados para compor a CPI na Câmara. Monitorados por informações de Antero Paes de Barros, os dois funcionarão como o “cérebro” do PSDB nas comissões, encarregados de montar as estratégias de ataque. No Senado, Mário Couto será o “homem de impacto”, expressão usada por um tucano para definir a atuação do paraense. Vanderlei Macris (SP) e Zenaldo Coutinho (PA) cumpririam, na Câmara, esse papel de trazer a público as acusações mais contundentes.

Munição

Antero Paes de Barros vai ditar o tom e a linha de trabalho dos tucanos nas duas CPIs. Suplentes na comissão no Senado, Tasso Jereissati (CE), presidente do PSDB, e Arthur Virgílio (AM), líder em exercício da legenda, também ficarão encarregados de municiar os titulares das CPIs com novos documentos e informações.
Os senadores instalam a comissão na segunda quinzena de maio, mas amanhã já começam as conversas para definir a estratégia e a linha de atuação na Casa. Também preparam o discurso contra eventuais críticas à escolha de Antero Paes de Barros como assessor especial da CPI do Apagão Aéreo. Durante a CPI do Banestado, Paes de Barros foi acusado pela base aliada de envolvimento com o empresário João Arcanjo Ribeiro, o comendador Arcanjo, investigado pela CPI por evasão de divisas. Em defesa do ex-senador, tucanos vão argumentar que tudo foi uma armação.

Só no último minuto

Até ontem, pouca gente sabia da contratação do ex-senador Antero Paes de Barros para auxiliar o PSDB nas CPIs do Apagão Aéreo. Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva encaram a escolha mais como uma forma de assegurar um trabalho a Paes de Barros, derrotado por Blairo Maggi (PPS) no primeiro turno da última eleição para o governo de Mato Grosso, do que a escolha de uma arma para atacar o governo.
Os colegas de oposição dos tucanos também não acreditam que o novo assessor da CPI será o telhado de vidro da vez. “O PSDB não cometeria a burrice de dar um tiro no próprio pé”, avalia o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), que disse desconhecer a contratação de Paes de Barros.
Enquanto PSDB e DEM escolhem as armas e traçam as estratégias para a CPI do Apagão Aéreo, a base aliada no Congresso deixa para a última hora a escalação dos defensores do governo. Reuniões marcadas para amanhã, quando vence o prazo para os líderes indicarem os integrantes da comissão, vão definir os nomes dos governistas. “Não estou com pressa, não é questão de vida ou morte”, afirma o líder do PT na Câmara, Luiz Sérgio (RJ).
O petista revela que a tendência do partido é escalar parlamentares com experiência comprovada. Ele pondera que atuações em CPIs em assembléias legislativas ou câmaras municiais podem compensar o fato de determinado deputado estar no primeiro mandato. As indicações de Luiz Sérgio passarão pelo crivo dos vice-líderes do PT, mas devem mesclar novatos e parlamentares que acumulam legislaturas na Câmara.

Fidelidade

O PMDB também deixou para amanhã a definição dos titulares e suplentes da CPI. Mas o critério de escolha, de acordo com o líder Henrique Eduardo Alves (RN), será diferente do PT. “Lealdade ao partido, fidelidade e liderança são pré-requisitos”, disse Alves. Ele ainda está em Nova York, onde integrantes da cúpula do partido se encontraram com Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos, durante o Fórum de Desenvolvimento Sustentável, organizado por uma organização não-governamental. (FO)

Nenhum comentário: