25 de mai. de 2007

A Classe Muda

Por Ralph J. Hofmann

Mais uma vez estamos assistindo o país ser manipulado pela MST, como se fosse uma mera marionete. O governo e a oposição demonstram pusilanimidade em enfrentar esses movimentos, apesar de estarem completamente ao arrepio de direitos constitucionais. Na realidade são, à sua maneira, tão criminosos quanto os reis da droga e os seqüestradores em série. Fazem o país lembrar os faroestes de John Ford, em que um grupo de facínoras chega numa região e pelo roubo de gado ou pela violência contra fazendeiros pacíficos acaba por dominar a região. Sobram geralmente alguns pequenos donos de ferragem e armazém.
Leis temos muitas. Por lei não pode ser usada para reforma agrária uma propriedade invadida pela força. Isso corresponde a outra lei, pela lei brasileira um piquete de greve não pode invadir o recinto da empresa contra a qual está em greve. A lei é clara. E não é apenas uma lei brasileira. Em 1993 estive em uma planta na África do Sul, em que grevistas açulados por sindicalistas interessados em desestabilizar o novo governo haviam invadido a planta. O novo ministro do trabalho, oriundo dos movimentos contra o apartheid, recém indicado por Nelson Mandela não hesitou.s Pegou um megafone e anunciou aos grevistas de que se não evacuassem a fábrica e se postassem a não menos de 5 metros da propriedade mandaria a polícia entrar e soltar os cachorros policiais. Os grevistas saíram e um negociador do ministério sentou e ouviu as partes. Cortou assim, já nos primeiros meses do novo governo, uma tendência a que se estabelecesse o caos nas relações entre os empreendedores e as pessoas que desejavam obter um naco do poder por ações ilegais populistas.
Mas aqui as leis não são aplicadas se forem algo inconvenientes. Semanas atrás lemos o lamento de uma senhora que dizia que ela e o marido haviam dedicado trinta anos de sua vida desenvolvendo uma propriedade da família para que fosse frutífera. Reservaram uma grande percentagem do local como reserva natural. Como fizeram isto há trinta anos não lhes ocorreu registrar o fato formalmente, já que o faziam mesmo antes de haver incentivo para tal. Como resultado sua terra foi considerada abaixo de produtividade e foi escolhida para reforma agrária. A família perde seu ganha pão de trinta anos. Supondo que tivessem 22 anos quando passaram a administrar a fazenda, hoje estão com 52 anos e desempregados, quiçá sem lugar para morar. É a própria reedição da história da formiga e da cigarra, aquela em que a cigarra no inverno exige a partilha da comida armazenada pelas formigas. Esse casal deveria ter comprado apartamentos na praia para alugar no verão em lugar de trocar seus tratores e colheitadeiras e melhorar suas pastagens.
Nessas horas a lei é cega. Contudo na hora de soltar um amigo do governo como o Sr. Bruno Maranhão ela enxerga o suficiente para identificar o grupo de pressão a que este pertence e recuar. Pela antiga justiça soviética Maranhão estaria já hoje na Sibéria. Pela justiça ainda vigente hoje em Cuba estaria na Isla de Los Pinos.
Mas a verdade é que os políticos são profissionais, os lideres de movimentos sem terra são profissionais, os líderes sindicalistas são profissionais. Lula deve seu treinamento como sindicalista, entre outras fontes a cursos de sindicalismo ministrados nos Estados Unidos.
E o pagador da conta? A classe média. A classe média consiste de antigos colegas de SENAI do Lula que progrediram profissionalmente, passando por pessoas que tiveram uma idéia sobre uma loja ou uma borracharia melhor, até profissionais liberais ou não de qualquer espécie. Há pessoas que nem mesmo se enquadram nessa categoria. O porteiro de dia que é sapateiro à noite e assim mantém sua família e educa seus filhos, ou o trabalhador dedicado que se sobressai.
Esse não tem organizador. Contribui com imposto sindical mas ninguém o representa. Mantém este país com seus impostos e mantém este país produtivo com seu trabalho. Em muitos países é conhecido por maioria silenciosa. Aqui deve ser conhecido como maioria muda.
Experimente conversar com quase qualquer pessoa que lhe estiver prestando serviços, ao menos na Região Sul do país. Do motorista de taxia ao chaveiro ao garçom. Dificilmente estará a favor de nada do que ocorre. Seja de qual partido forem estarão contra a facilidade com que seus parlamentares encontram conveniências em apoiar o governo. Chocam-se com os quarenta mil ladrões nas ilhargas do governo.
Os universitários sérios, aqueles que passam cinco a sete anos estudando, mas que ingressaram na universidade com grande empatia pelo atual governo, hoje em seus primeiros empregos, vendo as barreiras ao progresso das empresas onde se engajam não encontram mais argumentos mitigantes do comportamento das lideranças do país. Se antes criticavam o PSDB por antipatizarem com as políticas de FHC, hoje o criticam por não enxergarem um único líder do PSDB que se comporte como oposição séria. Concluíram que salvo o DEM, a quem tinham ojeriza como PFL ninguém se opõe realmente, ninguém tenta chamar o governo à moralidade.
Hoje a classe média, os profissionais liberais, os remediados que souberam cuidar de sua vida e melhora-la, os pequenos donos de lojas e oficinas precisam abrir seus pulmões e condenar a estrutura política que aí está, e exigir o cumprimento da lei contra os exércitos ilegais do MST, com seus sargentos castelhanos ocultos no meio da massa. Seja pelo estudo, seja pela competência inata são a classe que entende os mecanismos de divulgação do século XXI. Pela sua situação na pirâmide social conhecem tanto os desvalidos quanto os ricos. É preciso que dentre eles surjam novos líderes, mas que esses novos líderes surjam para uma nova estrutura política e não para os feudos dinástico-políticos de hoje.

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