13 de jun. de 2007

Há 20 Anos, a Primeira Marretada no Muro

Por Giulio Sanmartini

Michail Gorbaciov (76) em 1985 foi eleito Secretário Geral do Comitê do Partido, o encargo mais alto na hierarquia do comunismo na antiga União Soviética.
Dois anos depois enfrentava uma situação de desconforto seja na política externa com o presidente Estadunidense Ronald Reagan e na interna com velhos ortodoxos que insistiam em ignorar a catástrofe econômica em que vivia o país, a guerra com o Afeganistão, as denuncias do dissidentes e a necessidade de fazer revisões nos planos qüinqüenais.
Essa era há situação, quando no dia 28 de maio, uma população que demonstrava perplexidade mas também um dose de alegre ironia, viu pousar na praça Vermelha de Moscou monomotor Cessna desfraldando a bandeira da República Federal da Alemanha (Bundesrepublik Deutschland), a comumente chamada Alemanha Ocidental.
O piloto do pequeno avião chama-se Mathias Rust, é alemão e na época tinha somente 19 anos. Resolveu lançar-se nessa empreitada usando como pretexto uma manifestação de paz, todavia percebe-se hoje que o foi a intrepidez da juventude aliada ao desejo de aventura..
Mathias preparou-se cuidadosamente fazendo um intenso treinamento de vôos sobre o Atlântico. No dia 25 de maio de 1987, três dias antes de sua aventura viajou para Helsinki (Finlândia). Apresentou às autoridades um plano de vôo direcionado para a Suécia, assim decolou na direção oeste numa cota média de 600 metros, quando se viu em mar aberto inverteu a rota para sudeste. Passada um tempo viu as costas da Estônia, estava na metade de seu caminho, se ele voasse mais um pouco não poderia voltar e assim foi feito. Mas para chegar a Moscou ainda lhe faltavam 5 horas de viagem. Sua cota de vôo mostra que não tinha a intenção de evitar qualquer interceptação. Num determinado momento em que voava entre as nuvens, viu um veloz objeto argênteo, era um Mig da Pvo (Voyska protivovozdushnoy oborony o Voyska), Força de Defesa Aérea Soviética. Mathias, temeu por sua sorte lembrando o Jumbo coreano que havia sido abatido por invadir o espaço aéreo do país (na época de Andropov). O Mig colocou-se a seu lado, ele imaginou o piloto que o via sob o capacete, depois, inexplicavelmente desapareceu.
Passou mais tempo e encontrou-se na Parça Vermelha, tentou por três vezes a aterrissagem, temia ferir alguém, finalmente viu-se no chão e com o motor desligado, passaram-se 15 minutos quando ele resolveu saltar, foi circundado por uma multidão, estavam curiosos e uma pessoa, em inglês, lhe perguntou de onde vinha. Ele respondeu que de Helsinki, mas o outro queria saber por que da bandeira da Alemanha, nissouma lhe deu pão e sal, o gesto russo de boas-vindas, mas logo chegou a milícia de Moscou querendo saber se ele tinha visto de entrada.
Preso e interrogado, sem sofrer constrangimento algum , acabou condenado a 4 anos em um campo de trabalhos, todavia ficou somente 14 meses quando foi anistiado, mas tinha que deixar o território soviético.
Mathias dá seu depoimento como foi sua volta à Alemanha: “Tive muitos problemas, o assédio da mídia. Artigos hostis, que me classificavam de louco irresponsável que havia colocado em risco a paz.. Foi instaurado um processo onde era acusado de ameaças à paz e traição, mas este foi arquivado. Tenho ainda gravado na memória e nos olhos aqueles tremendos minutos em que o Mig, me voava ao lado”.
Matheus hoje com 39 anos, dois casamentos que não deram certo, pretende casar-se mais uma vez e ter filhos, trabalha no mercado acionário.
Talvez ele ainda não tenha a consciência de ter dado a primeira marretada para derrubar o Muro de Berlim.

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