8 de jun. de 2007

Livros

Ralph J. Hofmann

A Biblioteca Anna Amalia de Weimar pegou fogo em 2004 Essa foi a biblioteca que Goethe dirigiu por 35. O incêndio destruiu ou danificou 112.000 livros e 700 partituras raras.
O total das obras a ali guardadas era de mais de um milhão de obras, donde a tragédia foi menor do que poderia ter sido. As autoridades já estão reconstruindo os danos físicos e mais de 40.000 obras já retornaram da restauração central. Muitas estão sendo restauradas ainda, e novos processos estão sendo desenvolvidos a cada dia para resolver problemas específicos. Cinqüenta mil obras terão de ser adquiridas de colecionadores para, se possível, reconstituir a biblioteca. Isto está sendo feito, inclusive com generosos donativos de bibliófilos, ou mesmo de gente simples, que examinou o que tinha em casa e encontrou obras significativas. Há até o caso da doação do filho de um veterano americano da segunda guerra mundial que trouxe um livro de viagens de 1727 que seu pai adquirira ao fim da guerra em 1945.
A informação acima está na The Economist de 20 de janeiro deste ano, que acabei por ler apenas esta semana. Por coincidência esta semana li alguma coisa sobre a Livraria Cultura que foi fundada originalmente por senhoras que criaram uma biblioteca de locação de livros com os livros que haviam conseguido trazer quando deixaram a Europa nos anos 30, fugidos das leis anti-semitas de Hitler.
Imigrantes levam livros, procuram revistas do seu país natal. . Sempre há os mais educados entre eles. Muitos carregaram pelo menos bíblias que liam e reliam. As histórias do velho oeste estão cheias de relatos de vaqueiros que recebiam uma bíblia de bolso de suas mães antes de partir para novos horizontes deixando para trás regiões onde não mais havia terras livres para serem colonizadas. Muitos dos migrantes internos dos Estados Unidos levavam livros que passavam de mão em mão.
O Brasil teve colonos de muitas origens. Citamos sempre os alemães e os italianos, que fizeram emigrações tanto urbanas como desbravaram as florestas. Mas ainda há os japoneses, poloneses, letões, ucranianos, libaneses. O que é feito dos livros que carregavam consigo?
Os imigrantes chegados nas imigrações dos dois terços finais do século XX já encontraram um Brasil urbano, com comunicações que de razoáveis se tornaram excelentes, com redes de distribuição e formas de adquirir livros em seus idiomas natais. Mas provavelmente o interior do Brasil abriga obras, se não valiosas, pelo menos obras que contam uma história intelectual das pessoas que vieram ao Brasil, uma memória nacional, um compêndio dos interesses dos povos que aqui vieram.
Há municípios que criaram centros de documentação, colecionam documentos e livros, mas principalmente documentos, atas antigas de associações, passaportes de origem e outros documentos bastante formais.
Hoje, com os recursos da informática deveria haver um esforço, encabeçado por bibliófilos, que visasse localizar esses livros, talvez corriqueiros na época da chegada dos imigrantes que vieram para o que era o hinterland brasileiro para mapear onde estão quais livros. É uma proposta que num primeiro momento não visa a criação de uma biblioteca, mas que permite em dado momento que se crie um arquivo nacional de obras com sua localização, uma obra para os engajados, não para o poder público que fatalmente acaba por desprezar tudo menos as oras de grande valor, livros únicos, edições especiais.
É uma proposta de resgate do corriqueiro da história.

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