14 de jun. de 2007

Os bichos papões

Por Ralph J. Hofmann

Na década de sessenta dois livros tiveram um impacto acachapante sobre o Brasil. Um foi o “Ano 2.000” da dupla Kahn & Wiener que entre considerações futurológicas tecnológicas criou simulações que previam um Brasil extremamente atrasado em termos de PIB e de condições humanas. O outro apresentava uma economia americana monolítica que deixaria definhando as indústrias do resto do mundo, era “O Desafio Americano” de Jean-Jacques Servan Schreiber.
Passaram-se quatro décadas e, talvez em parte devido a estes livros, o mundo decididamente não é o descrito em nenhum dos dois livros.
Empresas americanas continuam adquirindo unidades fora de seu país, mas também passaram a sub-contratar de empresas no exterior. A própria IBM vendeu seu negócio de PCs integralmente aos chineses da LENOVO. Supermercados franceses concorrem em território americano. Um australiano controla alguns dos maiores jornais e televisões dos Estados Unidos. Os japoneses foram donos do Rockefeller Center e depois o venderam de volta.
Siderúrgicas americanas são adquiridas e administradas segundo uma cartilha escrita em Porto Alegre e no Rio de Janeiro. O PIB per capita do Brasil no ano 2.000 foi mais do dobro do previsto por Kahn & Wiener, isto após uma década de estagnação.
Os chineses hoje percorrem o mundo buscando ativos que complementem sua produção própria.
Na área tecnológica poucas das previsões de Kahn & Wiener se realizaram. Seu enfoque se concentrou muito em grandes itens e pouco nos produtos de consumo. Nestes, suas previsões foram ultrapassadas de longe, inclusive no que tange a capacidade de grandes parcelas da população conseguir usar corriqueiramente produtos de alto conteúdo tecnológico como PCs e telefones celulares.
Servan Schreiber posteriormente previu o Japão como o novo monolito. Quando isto estava por ocorrer surgiram inicialmente os “Tigres Asiáticos” e depois a economia chinesa. Em véspera dos anos 90 fraquezas inerentes ao sistema social e econômico do Japão vieram provar que apesar de fortes não eram efetivamente “super homens”. Tinham suas limitações quanto à flexibilidade de raciocínio econômico e bancário, que os fizeram demorar mais de 15 anos para superarem as crises causadas pelos débitos do terceiro mundo nos anos 80 e 90.
O PIB per capita brasileiro, que deveria ser pífio comportou-se conforme previu Mario Henrique Simonsen em seu Brasil 2001. Como Kahn & Wiener partiram de um modelo que não considerou a tendência à queda da taxa de crescimento populacional do Brasil, teve um comportamento bastante melhor, apesar de ser afetado por sucessivas crises externas e internas. Efetivamente Simonsen se preocupou com outros fatores de desenvolvimento de uma nação, para os quais previa que podíamos obter taxas muito melhores que as previstas por K & W.
Contudo 2.000 era apenas um ano de referência. Ao ser publicado “O Ano 2.000”, faltava apenas 33 anos para essa data. Agora chegamos a 40 anos da publicação. Ainda é possível que em função dos altos impostos combinados com altos juros e má aplicação de verbas, quando não seja a mera colocação de verbas nos orçamentos para posterior corte por contingenciamento não consigamos, em termos corrigidos, escapar da triste sina que nos foi reservada naquela obra quando ela completar em 2017 os cinqüenta anos.
O volume de dinheiro desviado pela corrupção neste país parece ser suficiente para evitar cortes de verbas de orçamento. Portanto, os crimes que envolvem superfaturas, concorrências fajutas, e outros desvios tais como uso indevido pelo MST de valores destinados aos assentados são imensuravelmente mais sérios do avaliado pelo povo que os assiste sem ir à rua e exigir a cabeça dos criminosos absolvidos pela Suprema Corte, protegidos pelo executivo e pelo parlamento e se configuram como muito mais “hediondos” do que pareçam ser.
Os que se locupletam com receitas da corrupção são ladrões e assassinos das esperanças reais deste povo, e deste país estacionado na função de “O País do Futuro”, termo cunhado por Stephan Zweig, consolo constante dos brasileiros ante o futuro que está logo à frente, mas nunca consegue ser atingido.

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