16 de jun. de 2007

Pra Debaixo do Tapete

Por Fabiana Sanmartini

Após 45dias de ocupação do Complexo do Alemão. Que só ontem deixou em Vila Cruzeiro 4 pessoas mortas e 3 feridas ( de acordo com a rádio CBN), no mesmo complexo, a estas somam-se as mais de 20 mortas e 70 feridas anteriormente. E isso é falando com otimismo! Observando a falta de aulas, de profissionais de saúde que atendem a essa comunidade, não pude deixar de notar algumas coisas que divido com vocês a seguir.
Realmente acho que algo deve e tem que ser feito urgentemente. Vivemos sitiados, prisioneiros das nossas casas. Com medo até de chegar até a janela e encontrar com uma bala perdida ou achada.
Pergunto-me o que já foi resolvido. Ok, morreu o chefe do tráfico do Parque União. Sim mais ainda hoje pela manhã o popular caveirão derrubou o “murro da vergonha”, este se localizava na Rua Antônio Astragésilo na Favela Fazendinha, onde o “poder paralelo” se entrincheirava e escrevia deboches contra os policiais. E não foi diferente hoje, após sua derrubada, os bandidos dançavam e exibiam sua armas num frenesi desafiador.
Fica parecendo à população que realmente paralela é a força policial, que como um afogado se debatendo a espera o socorro, invade as comunidades sem a menor organização, preparo ou armas compatíveis. Quando a polícia vai subir, os bandidos já sabem. As barricadas deles são mais eficientes que as da polícia. As armas não podemos sequer comparar e o salário...?, o dos policias parece mesada de criança. Nem a força nacional e nem o comando especial dão conta da organização do crime.
Como é que fica o cidadão que trabalha, tem filhos na escola e mora nestas comunidades? Mudar-se nem sempre é possível, ir para a casa de um familiar é praticamente impossível, uma vez que em sua grande maioria são oriundos do nordeste. Ficam as crianças ficam sem escola e a mercê do apelo do tráfico, que é cada vez maior. Sem informação não conseguimos mostrar quem são os mocinhos e os bandidos. Não se formam cidadãos assim, sob o governo do medo, já que o governo não governa.
Não é o bastante varrer a sujeira a permissividade para baixo do tapete. O monte é alto e vai aparecer como já esta aparecendo. Não dá para fingir que esta seguro para o Pan-Americano pois o mundo está acompanhando estarrecido a inferioridade estratégica das forças nacionais. Já pensaram se o que estivesse em jogo fosse a nossa soberania? Íamos com toda certeza voltar a ser colônia.
Mas porque foi mesmo que começou essa invasão? Ah, lembrei por causa de dois policiais mortos!
Ora, façam-nos um favor, já morreram mais de 70, foram baleadas crianças. Tenham um mínimo de respeito por quem é trabalhador e vive nesta comunidade. A vida não é uma partida de “WAR”, aquele jogo de tabuleiro, o que esta em jogo é muito mais do que vencer a partida. Não acredito que o melhor horário para as incursões da polícia seja no horário em que se sai para trabalhar ou ir à escola. Por favor, tenham um mínimo de respeito à vida!
É de matar a declaração do subsecretário de planejamento operacional as secretaria de segurança pública “Conseguimos, no primeiro dia, ocupar todos os acessos aos morros e favelas do Alemão e da Penha, realizando pequenas incursões. Neste segundo dia, planejamos invadir e ocupar vários morros. A estratégia que estabelecemos está dando resultado, pois além de apreendemos duas armas e um recuperar um carro roubado, fizemos o índice de criminalidade baixar nos oito bairros das áreas do Alemão e da Vila Cruzeiro” É um título enorme para quem não aprendeu proporção, eles estão ganhando, caso o subsecretário ainda não tenha notado. Baixou a criminalidade porque as pessoas não estão saindo à rua. E me faça um especial obséquio, não se esqueça de colocar nas estatísticas todos os trabalhadores mortos e feridos, inclusive as crianças.
Vamos lá, depois de todo o alvoroço por conta da atrocidade cometida contra o menino João Hélio Fernandes, que foi arrastado fora do carro por quilômetros, onde estão os bandidos? Se não são as mobilizações populares cairia em esquecimento. E a Gabriela, aquela baleada no metrô do Rio? A Tijuca e Madureira continuam um barril de pólvora. Se os pais não encontrassem força pra gritar, teriam caído em esquecimento. Faz-me lembrar do samba de Carvalhinho e Julio Moreno que dizia:
...”. Madureira chorou, Madureira chorou de dor...Gente modesta,Gente boa do subúrbio, Que só comete distúrbio,Se alguém os menosprezar, Aquela gente que mora na zona norte...”
Eu fico na torcida para que o subúrbio volte a ser lugar de samba, de bamba.
REAGE BRASIL!

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