Fabiana

Prezada Sra.
Penso entender suas preocupações no sentido de preservar as pessoas de bem que vivem nesses guetos. A maioria das pessoas que aí vivem, ou sobrevivem, o fazem enfrentando uma vida que é reconhecidamente dura. E não é de hoje que convivem com o que há de pior na miséria humana que é a miséria moral. Estão afastadas de tudo aquilo que é necessário para dar estabilidade a uma família. Casamento estável, emprego com salário dígno, escola para os filhos, etc. Mas o fato é que o Estado não somente se afastou desses guetos como permitiu que ali a lei do mais forte, ou do mais violento e criminoso se tornasse o poder local. Sabemos todos como reage um homem de bem. Ele não adota a violência, a força como uma forma de sobreviver. A preservação de sua própria vida e a de seus familiares não permite que ele se exponha enfrentando essa violenta realidade. E passa a colaborar com o crime na medida em que não em a quem recorrer. Quem se arriscaria a contar com a segurança do Estado? Quando a Sra. com razão aponta a quantidade ridícula de armas apreendidas nas blitz tem que levar em consideração que uma parte das forças de segurança recebem mais do crime do que recebe na sua folha de pagamento. A quantidade de policiais que estão a serviço do crime é um fato em todo o Brasil. Quando ocorre uma blitz o pessoal do crime sabe com antecedência e é quase certo que uma certa quantidade de armas é apreendida para dar satisfações à sociedade. Mesmo levando em consideração o ridículo que isso representa. A quantidade de políticos que chega às nossas casas legislativas, câmaras e até o senado e que são financiados pelo crime já é do conhecimento de qualquer cidadão bem informado. Estão nos jornais e revistas. Como fazer para acabar com o crime organizado diante de uma sociedade que se caracteriza por ser desorganizada? Quem nos representa de fato e que faz parte de qualquer governo, seja ele federal, estadual ou municipal?
O Estado vive para si mesmo e se associa a qualquer instituição que lhe permita manter-se permanentemente. O que o cidadão comum tem como direito é trabalhar para pagar a conta que nos vem através dos impostos. Qualquer pessoa que tenha meios hoje em dia tem que levar seus filhos para escolas particulares, contratar serviços de segurança, planos de saúde e se contentar com estradas esburacadas, portos que são de baixa produção, aeroportos que estão em estado de permanente cáos. Tudo isso não chega à Brasília, Pasárgada dos políticos. Com isso o chamado tecido social vai se esgarçando e o que observamos é uma sociedade que se torna mais e mais permissiva. Fico pensando como é que jovens, para se divertirem, colocam fogo e matam uma pessoa. Não importa se é índido, mendigo, azul, vermelho. É barbárie. No entanto, o Judiciário - sempre me pergunto se temos efetivamente o que chamamos Poder Judiciário - protela, protege os que são amigos do Rei. Existem cidadãos que efetivamente são imunes às leis desse país. E quando se pensa que elas atingirão os criminosos perigosos, a imprensa nos mostra folhas corridas de crimes que tem mais de cem metros de comprimento e o seu proprietário está solto, com menos obrigações do que o idiota que trabalha e tem seu código de ética para lhe orientar seus atos.
Uma autêntica desmoralização dos valores. Fico imaginar como é possível que intelectuais, pensadores, possam crer que se possa, à moda do Frankstein, construir um corpo social inteligente, saudável, utilizando membros atrofiados, órgãos que estão comprometidos e que fazem parte do tronco, e uma cabeça que é efetivamene a de um débil mental. Pois é assim que vejo o Brasil sendo construído. Tenho fé que eu esteja absolutamente enganado, que não estou enxergando corretamente a nação que está sendo construída e eu estou completamente desinformado.
Portanto, minha cara Sra., penso ser muito difícil não se cometer abusos na tentativa de se diminuir a ação da criminalidade. De uma certa forma contribuímos para que as coisas chegassem a esse ponto. Por omissão, por falsos discursos que comodamente aceitamos, desde que não precisemos nada fazer, e assim por diante.
Reverter esse processo demandará muitas gerações, na suposição de que algumas delas o queiram.
Com apreço
Léo
Uma autêntica desmoralização dos valores. Fico imaginar como é possível que intelectuais, pensadores, possam crer que se possa, à moda do Frankstein, construir um corpo social inteligente, saudável, utilizando membros atrofiados, órgãos que estão comprometidos e que fazem parte do tronco, e uma cabeça que é efetivamene a de um débil mental. Pois é assim que vejo o Brasil sendo construído. Tenho fé que eu esteja absolutamente enganado, que não estou enxergando corretamente a nação que está sendo construída e eu estou completamente desinformado.
Portanto, minha cara Sra., penso ser muito difícil não se cometer abusos na tentativa de se diminuir a ação da criminalidade. De uma certa forma contribuímos para que as coisas chegassem a esse ponto. Por omissão, por falsos discursos que comodamente aceitamos, desde que não precisemos nada fazer, e assim por diante.
Reverter esse processo demandará muitas gerações, na suposição de que algumas delas o queiram.
Com apreço
Léo
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