18 de jul. de 2007

Crônica de uma tragédia anunciada!

Por Pedro Oliveira - Jornalista e presidente do Instituto Cidadão.

O Brasil foi sacudido por mais uma tragédia no setor de aviação com o desastre envolvendo o Airbus da TAM no qual morreram mais de 200 pessoas. Este passa a ser o maior acidente aéreo ocorrido no Brasil, superando a queda do Boeing da Gol na qual morreram 154.Agora sim, acabou de vez a credibilidade no sistema de aviação brasileiro. O medo de voar passa a se transformar em pânico e ninguém tem mais qualquer confiança em chegar ao seu destino ao entrar em uma aeronave. De quem a culpa? Mais uma vez ninguém ficará sabendo e apenas as famílias enlutadas carregarão para sempre a marca de uma tragédia que tragou os seus entes queridos.
Em um país sem governo, com um Congresso apodrecido, CPIs de faz de conta e um presidente irresponsável e arrogante nada poderá acontecer, mesmo diante de uma tragédia de proporções inaceitáveis. Se não temos governo, se não temos justiça, se nos falta políticos de vergonha, o que esperar uma sociedade atônita, perplexa e afrontada por uma corja de facínoras que fingem comandar a Nação?
O acidente ocorrido com o avião da TAM estava previsto e anunciado. Assim nos mostraram as gravações das conversas entre a torre de controle e os pilotos. As autoridades responsáveis pelo setor fazem show de pirotecnia e nada resolvem. A começar pelo ministro da Defesa, Waldir Pires, que de nada sabe e a ninguém dá ordens, pois não é obedecido, passando pelas autoridades da Aeronáutica e chegando ao presidente da República, que a cada episódio salta com bravatas e verborragias de greve de sindicato, mentindo descaradamente como é a sua prática doentia. Vai dizer novamente, se já não o disse que “quero tudo apurado com o maior rigor e dentro de prazo estabelecido”. Não haverá rigor, nem prazo, nem apuração rigorosa, pois lhe faltam autoridade e moral para determinar.
Vejam a diferença de estilos e responsabilidade. No momento imediato em que soube do acidente o presidente argentino Néstor Kirchner, fez um pronunciamento pela imprensa do seu país e telefonou ao senhor Luiz Inácio, prestando sua solidariedade às famílias das vitimas. Aqui o Planalto armou um show de segunda categoria, falou em nome do governo um porta voz com um texto medíocre, pois pelo adiantado da hora talvez o presidente não tivesse condições de faze-lo, todos sabem porque. Luto oficial de três dias em memória das vitimas é ação ridícula e ofensiva. Um outro presidente teria seguido para São Paulo imediatamente, com seus principais ministros, para estar ao lado das famílias e ver de perto a tragédia que a inércia do governo pode ter provocado. Teve medo de vaias? Receio das reações dos familiares? Ou é pura irresponsabilidade?
O governador José Serra, visivelmente transtornado e chocado lá esteve e falou com cada um dos familiares no aeroporto de Congonhas. Teve a coragem de ir e afirmou: “Todos temos muito que lamentar, o que chorar. Estamos de luto, este acidente foi uma tragédia anunciada”. Levou toda a sua equipe e passou horas acompanhando o trabalho dos bombeiros e a remoção dos corpos. É assim que se faz, é assim que se governa.

O acidente pode ser considerado um ato criminoso.

Os controladores de tráfego aéreo da torre de Congonhas disseram ter pedido o fechamento da pista principal durante as chuvas. O alerta teria ocorrido depois que um avião da Pantanal derrapou na mesma pista que o da TAM.Oficiais da Força Aérea e autoridades da Infraero negaram o pedido por entender que não havia perigo."Os operadores da torre avisaram que a pista principal deveria ser fechada porque estava sem o "grooving" [ranhuras que garantiriam o escoamento da água e uma maior aderência dos pneus ao solo], mas ninguém no governo quer saber de nada", reclamou Sérgio Oliveira, presidente da Federação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo.
A brilhante colega Eliane Cantanhêde, da Folha de São Paulo,bem descreve a indignação nacional e a inércia de um governo irresponsável e de um presidente despreparado que quer apenas distância dos problemas do país. “O que explodiu não foi só o Airbus da TAM. Foi também o resquício de credibilidade que ainda sobrava do sistema de vôo no país e a capacidade de o governo, no seu conjunto de órgãos responsáveis, gerir a situação. O que há é o caos. Junto com a dor, a perplexidade e a sensação de que não tem mais conserto. Desculpe, mas o que todo mundo agora se pergunta é: "Quando vai ser o próximo?"

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