A Folha de SP entrevistou nesta segunda-feira, Carmem Caballero, 39 anos, professora, moradora de São José do Rio Preto. Carmem é filha de Maria Elizabete Silva Caballero, 65, e mãe de duas, Júlia, 14 e Maria Izabel, a Mimi (Maria Isabel), 10, as três eram passageiras do vôo da TAM que explodiu.
Leia abaixo a entrevista:Como a senhora ficou sabendo do acidente?
CARMEM CABALLERO - Vi na TV, mas não tinha certeza de que era o vôo delas. Estava tranqüila, não tive nenhum pressentimento. Acho que Deus estava me preparando para o pior. Fui procurar as reservas para ver o número de vôo. Primeiro, divulgaram um número errado, e fiquei aliviada. Quando corrigiram, e vi que era o mesmo, eu caí de joelhos, comecei a gritar, dizia que eu não acreditava. Meu marido teve que me segurar, mas eu só repetia: "Era o vôo delas, era o vôo delas...".
Qual foi a última vez que falou com as meninas?
CARMEM - Foi no sábado. Viajei domingo e só conversamos antes. Eu tinha ido assistir ao novo filme do Harry Potter, que elas adoravam, e ficaram me perguntando o que acontecia.
Para não estragar a surpresa, porque elas iam ver assim que chegassem, não contei muitos detalhes... Elas não vão poder mais ver. Nem ler o último livro. Lemos os outros seis juntas e discutimos várias vezes se Harry Potter ia morrer no final ou não. Júlia tinha certeza que sim, Mimi [Maria Izabel] dizia que não, que não era justo...
Vou comprar o último livro e ler em voz alta, assim pelo menos minhas filhas vão poder ouvir lá do céu...
Qual é o momento mais difícil do dia para a senhora?
CARMEM - É de manhãzinha. Agora não tenho ninguém mais para acordar cedinho... O quarto da Júlia, a mais velha, fica bem em frente ao meu... Não sei o que vou fazer com ele. Nós tínhamos planejado mudar a decoração e, enquanto ela estava viajando, eu já tinha escolhido algumas cores, os motivos...
Ela faz dança do ventre e queria uma decoração indiana. Íamos começar as mudanças nesta semana.
Tenho tanta saudade da voz delas, daquele falatório que ficava aqui em casa. Eu não tinha tempo para nada. E agora sei que era feliz daquele jeito. Tudo que eu fazia, elas iam junto, eram grandes companheiras, a gente brincava que eram meus carrapatozinhos. Agora, nada mais tem graça.
Além das suas filhas, sua mãe também estava no vôo...
CARMEM - Foi tudo junto. Fiquei órfã e sem minhas filhas. Perdi o amor materno e estou sofrendo por causa desse mesmo amor. Minha mãe não era melosa, de beijar, de abraçar, mas ela era atenciosa, prática, resolvia tudo. Era a alma da nossa família.
A senhora acompanhou os desdobramentos pela TV?
CARMEM - Não assisti a muita coisa, mas vi aqueles dois energúmenos fazendo aquele gesto [o assessor da presidência, Marco Aurélio Garcia, flagrado por câmeras ao lado do assessor Bruno Gaspar fazendo gestos obscenos após assistir à reportagem sobre defeito no avião da TAM]. Foi uma pouca vergonha e pior ainda foi o presidente Lula não ter sido homem o suficiente para demiti-los. Achei uma infâmia o Lula demorar tanto tempo para falar.
Como homem, ele devia ter entrado no ar cinco minutos depois para dar as condolências, naquela hora, eu não queria nenhuma explicação, só precisava de palavra de consolo, de solidariedade... Pensei em me mudar do Brasil, não pelas pessoas, mas pelos governantes.
Quem a senhora acha que é o responsável pelo acidente?
CARMEM - A última pessoa que eu responsabilizaria é o piloto. Acho que foi falha humana, mas dos altos escalões. Tem muito irresponsável dirigindo este país. Dá até vergonha.
Se pudesse, o que gostaria de dizer para elas agora?
CARMEM - Eu sempre falava que as amava muito. Elas sabiam disso, mas queria que você escrevesse, por favor, como uma última homenagem, que eu amo minhas filhas demais...
CARMEM CABALLERO - Vi na TV, mas não tinha certeza de que era o vôo delas. Estava tranqüila, não tive nenhum pressentimento. Acho que Deus estava me preparando para o pior. Fui procurar as reservas para ver o número de vôo. Primeiro, divulgaram um número errado, e fiquei aliviada. Quando corrigiram, e vi que era o mesmo, eu caí de joelhos, comecei a gritar, dizia que eu não acreditava. Meu marido teve que me segurar, mas eu só repetia: "Era o vôo delas, era o vôo delas...".
Qual foi a última vez que falou com as meninas?
CARMEM - Foi no sábado. Viajei domingo e só conversamos antes. Eu tinha ido assistir ao novo filme do Harry Potter, que elas adoravam, e ficaram me perguntando o que acontecia.
Para não estragar a surpresa, porque elas iam ver assim que chegassem, não contei muitos detalhes... Elas não vão poder mais ver. Nem ler o último livro. Lemos os outros seis juntas e discutimos várias vezes se Harry Potter ia morrer no final ou não. Júlia tinha certeza que sim, Mimi [Maria Izabel] dizia que não, que não era justo...
Vou comprar o último livro e ler em voz alta, assim pelo menos minhas filhas vão poder ouvir lá do céu...
Qual é o momento mais difícil do dia para a senhora?
CARMEM - É de manhãzinha. Agora não tenho ninguém mais para acordar cedinho... O quarto da Júlia, a mais velha, fica bem em frente ao meu... Não sei o que vou fazer com ele. Nós tínhamos planejado mudar a decoração e, enquanto ela estava viajando, eu já tinha escolhido algumas cores, os motivos...
Ela faz dança do ventre e queria uma decoração indiana. Íamos começar as mudanças nesta semana.
Tenho tanta saudade da voz delas, daquele falatório que ficava aqui em casa. Eu não tinha tempo para nada. E agora sei que era feliz daquele jeito. Tudo que eu fazia, elas iam junto, eram grandes companheiras, a gente brincava que eram meus carrapatozinhos. Agora, nada mais tem graça.
Além das suas filhas, sua mãe também estava no vôo...
CARMEM - Foi tudo junto. Fiquei órfã e sem minhas filhas. Perdi o amor materno e estou sofrendo por causa desse mesmo amor. Minha mãe não era melosa, de beijar, de abraçar, mas ela era atenciosa, prática, resolvia tudo. Era a alma da nossa família.
A senhora acompanhou os desdobramentos pela TV?
CARMEM - Não assisti a muita coisa, mas vi aqueles dois energúmenos fazendo aquele gesto [o assessor da presidência, Marco Aurélio Garcia, flagrado por câmeras ao lado do assessor Bruno Gaspar fazendo gestos obscenos após assistir à reportagem sobre defeito no avião da TAM]. Foi uma pouca vergonha e pior ainda foi o presidente Lula não ter sido homem o suficiente para demiti-los. Achei uma infâmia o Lula demorar tanto tempo para falar.
Como homem, ele devia ter entrado no ar cinco minutos depois para dar as condolências, naquela hora, eu não queria nenhuma explicação, só precisava de palavra de consolo, de solidariedade... Pensei em me mudar do Brasil, não pelas pessoas, mas pelos governantes.
Quem a senhora acha que é o responsável pelo acidente?
CARMEM - A última pessoa que eu responsabilizaria é o piloto. Acho que foi falha humana, mas dos altos escalões. Tem muito irresponsável dirigindo este país. Dá até vergonha.
Se pudesse, o que gostaria de dizer para elas agora?
CARMEM - Eu sempre falava que as amava muito. Elas sabiam disso, mas queria que você escrevesse, por favor, como uma última homenagem, que eu amo minhas filhas demais...
3 comentários:
Adri,
Não dá nem prá comentar. Nós, que somos mães, podemos imaginar muuuuuuuuuuuuuuuuuuito de leve o que esta senhora está sentindo. Eu já teria simplesmente me desfeito no ar, puff!
Digam o que disserem, esse "acidente" foi homicidio doloso, foi um genocídio. Não há outra qualificação.
Gostaria de achar palavras para consolar os familiares. Acontece que ainda não as inventaram. Não existem.
O criminoso é Lula e o PT. Essa canalha que devia estar fora do poder e preso. Ainda há tempo. Depende de todos nós.
Alô, Adriana
Poucos dias atrás, entrei na Record para ver o noticiário do começo da noite. Peguei-o no momento em que familiares das vítimas do acidente aéreo estavam sendo entrevistados, se não me engano, em um hotel. Uma senhora, não ouvi o nome, que perdeu uma filha, estava terminando de falar:
...por tudo isso, sr. Presidente, posso lhe assegurar que eu tenho VERGONHA de ser brasileira.
Tentei assistir de novo, no Jornal da Globo, mais tarde, para gravar. Vã esperança... A Globo, é claro, não exibiu!
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