23 de jul. de 2007

Medalha, Medalha, Medalha

Por Ralph J. Hofmann

A palavra medalha repetida constantemente conforme acima, é inspirada pelo cachorro do meliante Dick Vigarista, que no decorrer de uma corrida maluca sempre exige medalhas por sua participação nas tentativas do vilão em sabotar os veículos dos concorrentes. É um cão cheio de schadenfreude, palavra alemã que descreve o divertimento ante a desgraça alheia.
Parece que o espírito do cão do Dick Vigarista incorporou nos gestores do Brasil. Fazem suas peraltices, ignoram seus deveres, amarram um barco com corda rota antes de chegar um furacão, roubam o cavalo de São Jorge antes do encontro com o dragão e atiram uma bigorna ao homem que está afogando no mar. Depois pedem medalha.
Aparentemente uma dessas medalhas já foi devolvida por quem a tenha recebido em ocasiões anteriores. Ação corretissima. Afinal, o que vale ter uma medalha distribuída a pessoas sem mérito. A maior utilidade está em devolve-la como gesto de repúdio. De dádiva passou a vil enfeite de lata. Sugiro que mais portadores dessa medalha a devolvam. O mais publicamente possível mas sem comentários. O ato em si basta.
Abaixo, os comentários de meu amigo Marcelo Aiquel, que cobrem oi assunto da maneira mais correta possível:

A MEDALHA DA VERGONHA

Em plena semana do Pan, quando os brasileiros tentaram (veja bem, eu disse “tentaram”) esquecer um pouco da tragédia de Congonhas torcendo pelos nossos bravos atletas, e, com natural constrangimento em função do pesar pelo acidente, festejar as medalhas merecida e dignamente conquistadas, nos deram uma bofetada na cara. Mais uma, aliás!
Conseguimos – como nação – nos orgulhar do progresso notável dos esportistas brasileiros. Afinal, nunca ganhamos tanto e com tamanha segurança de não foi apenas “por sorte”. Isto nos faz refletir que poderemos crescer ainda mais no campo do esporte, tão importante para seduzir os jovens e retirá-los das ruas e das drogas. O exemplo de um Thiago Pereira, João Derly, Diogo Silva, entre outros vencedores, seguramente há de motivar centenas de adolescentes a seguir o caminho do esporte em detrimento da vida infeliz da marginalidade. Só isto já vale como esperança de um futuro melhor para o nosso país.
Mas, ao mesmo tempo, na mesma semana, e sem nenhum pudor, o governo patrocinou um evento comemorativo (não sei exatamente o que se poderia comemorar diante da ainda recentíssima tragédia de Congonhas), onde o Comandante da Aeronáutica condecora com a medalha de Santos Dumont às pessoas que prestaram “relevantes serviços à aviação brasileira”.
E, para assombro de todos, perfila-se – impávido e garboso – para receber tal honraria o “ilustre” Presidente da ANAC (Agência Nacional de Aviação Comercial), que, dissimulando naturalidade, não só a aceita como sorri quando o pedaço de lata lhe é incrustado na lapela.
Ora, além da cerimônia oficial (chancelada pelo governo) ser indiscutivelmente intempestiva e despropositada, em razão do luto das duas centenas de famílias diretamente envolvidas no acidente, o “ilustre” condecorado deveria ter – no mínimo – a decência de não participar do ato, eis que ocupa (ou faz de conta que ocupa, o que me parece mais plausível) o cargo de responsável principal pelos destinos da aviação comercial brasileira.
Mas, vou mais adiante: qual o “relevante serviço” teria prestado este senhor à aviação brasileira? Ao que se saiba, é notório o desserviço que a Agência que dirige vem prestando ao país, à aviação, e ao povo brasileiro. Desde a sua fundação, aliás com este mesmo “ilustre Presidente” no cargo.
Ao contrário das verdadeiras medalhas do Pan, esta é a medalha da vergonha! Ou, quem sabe, a medalha do “sem vergonha”, pois se o referido cidadão a tivesse entre seus atributos pessoais, certamente não participaria da festividade num momento tão lamentável na história da aviação comercial brasileira.
Mas, como o comandante da ANAC já demonstrou que mesmo uma condecoração imerecida (por ser sua gestão pífia e ridícula) é mais importante do que realmente esforçar-se para resolver – em parte que seja – o caos aéreo brasileiro, quem sabe ele não aceita outro convite: desfilar pelos saguões dos aeroportos ostentando a sua medalha na lapela para “descobrir” o que as pessoas acham do seu trabalho (?!?) à frente da ANAC?
Senhor Zuanazzi, demonstre pelo menos vergonha de receber a medalha da vergonha!
Marcelo Aiquel

2 comentários:

Anônimo disse...

Quando penso que nada pior pode acontecer, esse governo me surpreende, e a cada dia se supera, dando prova de que pode ser ainda mais incompetente e inoportuno.

Mas enfim, de um governo que condecorou alguém como Severino Cavalcante vocês esperavam o que ?

Não se surpreendam se daqui a pouco Lula receber uma medalha de "Melhor Presidente da História Desse País".

Meus aplausos aos que devolveram a medalha Santos Dummont.

Essa condecoração ao presidente da ANAC, ainda mais num momento desses, três dias após a maior tragédia da aviação brasileira, mancha o nome do pai da aviação.

Anônimo disse...

... ou melhor dizendo... mancha o nome da medalha, pois a concedem a pessoas indignas da honraria.