4 de jul. de 2007

Retratos

Por Adriana Vandoni

Telma olhou pra mim e de supetão disse: - Adriana, você ficou com a organização da exposição fotográfica, tá bom? - Eu? - É.
E assim recebi o convite/intimação para organizar uma exposição fotográfica sobre Dante de Oliveira, que será aberta no dia 05 de julho na Assembléia Legislativa de Mato Grosso. A exposição faz parte da programação de homenagens pelo primeiro ano de morte de Dante. Na hora nem pensei, por não ter noção de como fazer uma exposição fotográfica, não sabia se isso era bom ou ruim, apenas aceitei. No fundo até pensei: ah, moleza!
Quanto engano, meu Deus!
Não sabia por onde começar. Não tinha idéia. Em equipe decidimos o tema e o formato da exposição. A intenção primeira era fazer uma retrospectiva da trajetória do administrador Dante de Oliveira, retratando suas obras, suas realizações, seus governos, mas durante o processo de escolha das fotos, que ocupou a nossa equipe por manhãs e tardes inteiras, tive a impressão de que a exposição escolheu o seu caminho, pois foi nessa busca que nossos planos mudaram.
Aqui neste ponto eu preciso contar uma particularidade dos bastidores. Eu fiquei com as chaves do arquivo, mas ficava enrolando pra ir sozinha, até que contei para a arquiteta:
- Cassia, eu não vou sozinha no arquivo nem a pau. Me pelo de medo.
- Mas medo de que?, disse Cassia dando gargalhadas.
- Medo de medo, oras.
Daí fomos, eu e Cássia, numa manhã de sábado pro arquivo. Lá por meio dia, depois de uma manhã toda abrindo e fechando gavetas, envelopes e álbuns, nós estávamos cansadas e já sem assunto para conversar, entramos em um silêncio absoluto. Nisso começou um barulho que eu não conseguia saber de onde vinha. Olhei assustada para a Cassia que me disse com um sorriso no canto da boca: “- Hum, esse deve ser Dante perguntando o que essas duas estão fuçando as coisas dele”. Olhei de um lado, do outro, olhei pra cima! Ai, meu Jesus, era só o que faltava! Calma, Dante, nós já estamos saindo! Vombora Cassia! Eu estava tão assustada que nem percebi que o barulho vinha do meu celular, de dentro da minha bolsa, só pensava em sair de lá.
Reunido o material, percebi que tínhamos em mãos não apenas fotografias, mas fragmentos de momentos uma vida que marcou muitas vidas. Posso dizer que conheci Dante através das tantas imagens que vi, até por não ter convivido com ele durante seus governos, me surpreendi. Vi um Dante de Oliveira mais vivo que nunca, presente e agente de muitos acontecimentos da nossa história. Desde os tempos de discursos ao lado do seu fusquinha, numa época em que os mais velhos comentavam: - Já tá o filho do Dr. Paraná lá na Praça fazendo discurso. Da ousadia ainda juvenil de ter chegado ao Congresso propondo o que ninguém tinha a audácia de propor. Da coragem de modernizar a forma de gestão pública no estado, o que fez com que, em um momento de recessão mundial, Mato Grosso crescesse mais que a média nacional. Lamentável ver hoje, em um momento de bonança mundial, o estado a caminho da estagnação.
Mas o que mais me encantou foram os momentos de Dante com a população, o carinho de um abraço a um idoso, o sorriso com as crianças. Impressionante a quantidade de fotos dele cercado de crianças. São imagens bonitas de se ver. Dante gostava de gente, isso é marcante nas imagens que vimos.
Se tivesse hoje que definir a existência dele com uma só palavra eu usaria OUSADIA. Ficou claro pra mim que Dante ousou mudar o estabelecido. Ousou trilhar um caminho velho e antigo com novos olhares e novas atitudes.
Ele ousou reorganizar o estabelecido, mudar as ordens das coisas, modernizar. Mas infelizmente ele ousou partir cedo e nos deixou como legado a tarefa de mostrar à população de Mato Grosso o valor da determinação, a preciosidade da liberdade e o princípio do respeito ao ser humano.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adriana,
Meticuloso e exigente como era, Dante certamente apoiaria seu nome para organizar a exposição em sua memória. Vai ficar ótima, à altura desse personagem de nossa história, que infelizmente parece não ter em Mato Grosso o prestígio e o respeito que tem dos brasileiros de outros estados.
Sucesso na exposição.
Chacon