18 de jul. de 2007

Vaias

Por Peter Wilm Rosenfeld

“No Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio”. (Nelson Rodrigues)

Sobre as vaias de que foi alvo o Presidente da República na solenidade de abertura dos Jogos Pan Americanos muito já foi escrito, em todos os jornais e revistas do Brasil e do exterior; externando toda a sorte de razões para o acontecido.
Alguns, afirmando que a vaia não era dirigida ao Presidente, mas sim, alternativamente ao Governador Sérgio Cabral ou ao Prefeito César Maia.
Outros dizendo que se devia ao evento em si; ou aos atletas americanos que, efetivamente, também foram vaiados (imerecidamente, em minha opinião).
Finalmente, alguns dizendo que o público não era representativo, pois lá só estavam os que se vestiam e alimentavam bem, e não o Zé Povo. Essa foi a maior das sandices que li sobre o assunto. As 90 mil pessoas que estavam no “Maraca” naquele princípio da noite eram muito representativas, sim. Havia de tudo, apesar do custo dos ingressos; desde o pobre do João Ninguém até o bebedor de Romanée Conti (perdão pela grafia. Nunca provei desse vinho...)
Vale qualquer argumento, mas a verdade é que o Presidente da República vestiu a carapuça, tanto assim que, pela primeira vez desde que os Jogos são realizados, não foi o mandatário do País anfitrião que os declarou abertos. E olhe que já estava em pé, com o microfone e o texto na mão, como foi mostrado pela televisão.
Mas, retirou-se em seguida do estádio, contrariado. Posteriormente declarou, em seu vernáculo perfeito: "A vaia e o aplauso são dois momentos de reação do ser humano. A única coisa que eu, particularmente, fico triste é que eu fui preparado para uma festa."
Penso que a vaia foi muito merecida. Ademais, há que lembrar que se 60% dos eleitores aprova a Presidência, há 40%, ou seja, algo como 48 milhões de brasileiros, que não a apóiam, muitos até criticando vigorosamente, pelas mais variadas e válidas razões, o Sr. Luis Inácio Lula da Silva. E, evidentemente, uma parcela desses 48 milhões estava no Maracanã.
Mais: os do andar de baixo (“apud” Elio Gaspari) não têm outra forma para externar sua contrariedade, sua revolta, se não vaiando, pois não têm acesso à internet e seu correio eletrônico nem tem o hábito de escrever para jornais (quando os lê e sabe escrever).
Logo, a vaia existiu, foi ouvida seis vezes distintas, e foi dirigida ao Presidente da República, que momentaneamente perdeu sua eventual compostura e se retirou do estádio.
A vaia deveria levar o Sr. Presidente a considerar as razões dessa manifestação tão forte, vinda da população.
Não será porque, até hoje, continua alegando que de nada sabia, com relação a todos os escândalos ocorridos e que continuam ocorrendo em seu governo ? Mas como não sabia, se até um seu ministro, que só recentemente foi nomeado (o aloprado súdito de Tio Sam e do Brasil, agora encarregado de prever nosso futuro distante na Sealopra – Secretaria de Planejamento a Longo Prazo, ou outro nome exótico que tenha) afirmou em discurso “que nunca tinha havido um governo tão corrupto no País” ?
Ou será porque ignora que toda a infra-estrutura do País (estradas, portos, controle do espaço aéreo, saúde, escolas públicas e tudo o mais) está em estado catastrófico, custando muitos milhões de reais de desperdício (e de vidas)?
Ou será porque ignora que a administração pública (exceto a receita federal) é de uma ineficiência atroz, e que “nunca antes nesse País” houve tantos funcionários públicos em greve simultaneamente? E que desses cerca de 100.000 grevistas muitos deveriam estar no Maracanã?
O que o Presidente deveria fazer é abandonar a soberba, aceitar que os 60% de apoio popular que tem são devidos, em grande parte aos programas de distribuição de dinheiro à rodo, sem a contrapartida de trabalho (programas que, diga-se de passagem, têm mais furos do que queijo suíço), e pôr-se, ele próprio, a trabalhar com seriedade.

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