15 de ago. de 2007

Carta aberta ao exmo. Sr. Ministro da Justiça Dr. Tarso Genro

Meu caro Tarso

Perdoe-me a intimidade, mas como te conheci ainda guri e, na época, podíamos tutearmo-nos, mantenho a mesma forma de tratamento, sem que isto represente a mais mínima centelha de desrespeito.Por ocasião da prisão e deportação dos atletas cubanos me vieram à lembrança algumas imagens do passado.
Lembra quando em plena Redentora, tu e o Renan Kurtz foram presos na chácara da tia Zelinda, por que os julgavam terríveis subversivos?
Lembra como foi ruim ficar preso, ainda que em um quartel, num quarto com a porta chaveada (Em verdade não lembro se isto foi o que ocorreu também contigo, mas foi o que ocorreu com o Renan.)?
Lembro da filhinha do Renan, perguntando a mãe. "Mãe, porque o pai tá de castigo neste quarto fechado?"
Será que isto também não ocorreu contigo?
Lembra do exílio em Rivera, lindeira com a minha Sant'Anna do Livramento?
De dar aquela caminhadinha por la calle Sarandi, até o Largo do Internacional, e não poder ultrapassar aquela linha imaginária, que se chamava linha divisória, para não correr o risco de entrar em território brasileiro e ser preso?
Será que nesta hora o peito não doía um pouquinho de saudades de Santa Maria, tão perto, mas inacessível.
Lembra como seria fácil para os castianos (modo como nos referíamos aos uruguaios) te jogar no Brasil, nos braços de um DOPS qualquer? Certamente até algum mimo eles receberiam.
Mas eles não fizeram. Podiam ter feito. Mas não fizeram.
E agora, sob a tua égide, os cubanos são mandados de volta para Cuba.
Claro, deve haver um mecanismo legal que justifica isto, sempre existe um mecanismo legal para justificar alguma coisa.
Imagino que deves haver sentido o coração se confranger. Não posso imaginar que tenhas perdido a alma a tal ponto que este episódio todo não te tocasse em nada.
Espero mais, que tenhas, pelo menos nos bastidores, longe dos olhos do público, lutado para que eles não fossem cair nas mãos dos carrascos. É o mínimo que posso esperar de ti, um homem que já passou por tais agruras.
Não quero imaginar que um homem, a quem já admirei, tenha caído tanto. Se insensibilizado tanto.
Se puderes, se não for pedir demais, me responde. Para dizer que as coisas não são o que parecem.
Para que eu possa manter algum lampejo de esperança no Homem Público, tão desacreditado nos dias de hoje.

Um abraço,

Carlos Eduardo Carrion Vidal de Oliveira
Porto Alegre 11 de agosto de 07.

4 comentários:

Anônimo disse...

SIMPLESMENTE "SIMPLES" E MARAVILHOSO TAL DEPOIMENTO.

ma gu disse...

Caro Hofmann

Agradecemos a postagem da carta aberta. Foi muito bom saber que, um dia, a figura já foi impoluta. Mas sabemos que, para manter a hombridade, "hay que tener cojones", e esse artigo está muito em falta nestes tempos bicudos em que os petralhas encamparam o poder. Duvido que ele se ao trabalho de responder. O poder costuma deslumbrar os olhos. Estamos cheios de exemplos por aí...

Anônimo disse...

Como se vê, sr. Carlos Vidal, para o Ministro da Justiça, que passou o q passou, um regime esquerdista pode tudo. Até mesmo fazer o que um regime de direita fez com ele. Contanto q eles estejam no comando. Não se iluda, meu caro, pois é esse o caminho que está se desenhando para "ESTEPAIZ". Basta ler o Olavo de carvalho no JB de hj.

Acreucho disse...

Infelizmente, não conseguimos mais reconhecer nosso conterrâneo, enebriado com as tortuosas avenidas e com o colorido das luzes do poder.