23 de ago. de 2007

Governo Maggi em perspectiva

Por André Leite

Vamos relembrar alguns conceitos básicos. Um governador de estado é eleito para prover os habitantes com serviços básicos de qualidade como saúde, educação, segurança, infra-estrutura e promover ações universais que promovam o crescimento econômico do estado com o pleno emprego. Isso tudo, é claro, dentro da responsabilidade fiscal e dos mais altos padrões éticos. Afinal, dentro de um estado, o governador é o seu maior mandatário, é o seu exemplo, é o seu norte moral.
Blairo Maggi já está indo para seu sexto ano comandando o estado de Mato Grosso e cabe aqui uma avaliação isenta. Nada do trololó destes jornalistas que andam por aí com o seu personal genuflexório. Afinal, o que não falta no estado são jornais e revistas que rastejam de joelhos atrás de uma verbinha oficial. Naturalmente, em troca de um jornalismo manso e amestrado. Quem perde com isso é a população, que se não fosse o bravo Circuito MT (e o blog da Adriana Vandoni) andaria mais perdida que cego em tiroteio.
Na saúde, pelo que escuto dos médicos, temos acertos no varejo e erros no atacado. De um modo geral, as compras de medicamentos foram racionalizadas. O governo Maggi começou equipando bem as UTI’s e investindo em programas de atendimento com alta complexidade. Com a troca de secretário, parece que o governo estadual deixou de investir e voltou tudo para a mediocridade anterior. Já no atacado temos um ginásio esportivo que pouco será usado, mas um grande hospital geral não foi prioridade ainda para Maggi. Quando Cuiabá terá seu grande hospital geral? Será que os R$ 260 milhões do estranho perdão a dívida da CEMAT não fariam esse hospital?
A educação, pelos índices conseguidos por nossos estudantes em avaliações como o ENEM, mostra que qualitativamente o trabalho em sala de aula é pobre. Baixos salários, má capacitação profissional e até mesmo falta de infra-estrutura. Algumas escolas de maior visibilidade realmente foram reformadas, mas na “perifa” as condições continuam insalubres. Porém o maior erro é a falta de qualidade. Educação eficiente não necessita de prédios luxuosos, necessita é de professor bem formado e motivado. Com estes salários, que tipo de gente você acha que deseja ser professor? Melhores salários atraem as melhores mentes....Claro que Blairo pode responder. “Fácil é falar, difícil é arrumar o dinheiro”. Eu respondo; cortando verbas e despesas da Assembléia Legislativa (que pouco produz de prático), não dando esse perdão de ICMS para a CEMAT e racionalizando as altas despesas do judiciário, será que não sobrava um pouco para atrairmos melhores professores? Essa fatura de estudantes mal preparados (alguns analfabetos funcionais) será cobrada no futuro. O software que move o mundo é gente, e o nosso definitivamente não é dos melhores.
Na segurança, os índices crescentes de criminalidade falam por si. O episódio triste de Rondonópolis mostra que estamos mais para “Loucademia de Polícia” do que para qualquer outra coisa. Mais um item primordial em que até agora Blairo Maggi e sua propalada eficiência empresarial não mostraram serviço. Na infra-estrutura reside o ponto forte do governador Maggi, realmente poucos governantes fizeram tantas estradas como ele. Alguns adversários acusam que estas estradas beneficiam primordialmente os negócios do Grupo Amaggi. Sem querer entrar neste mérito, o fato foi que isso ele fez e que de uma forma ou de outra irá beneficiar o estado.
No quesito desenvolvimento do estado é que reside o segundo maior pecado de Maggi, em minha opinião. Trata-se de um governo setorialista que só faz e só olha pelo agro-negócio. O estado para ir em frente e ser menos dependente de crises sazonais, necessita de comércio e indústria fortes. Tudo é feito no sentido de onerar o comércio (multa abusiva para impostos em atrasos e não adesão ao supersimples), carga desproporcional (comércio paga 2/3 do ICMS tendo menos do que 1/3 do PIB estadual). Este inexplicável perdão de R$ 260 milhões para a CEMAT (quem ganhou com isso?) é o que eles estimam em perder de arrecadação, no primeiro momento caso adotem o supersimples. Posteriormente, o supersimples trará maior formalização de negócios, mais investimentos, mais emprego, mais renda, mais consumo e mais impostos. Porém, os assessores econômicos de Maggi têm a visão curta de “guarda-livros”, é uma gente que desconhece os rudimentos básicos de economia. Uma pós-graduação de qualidade em São Paulo ou no Rio de Janeiro seria um bom investimento para eles. Afinal, a responsabilidade fiscal (ponto positivo, por certo) deles é feita no lado do aumento de impostos e não na redução/racionalização de gastos.
Last, but not the least eu acredito que o pior de Maggi reside no quesito estadista. Eu que votei nele em 2002, acreditando que ele romperia com as oligarquias corruptas, que ele faria política no nível de um Fernando Gabeira, de um Pedro Simon, de um Jefferson Péres, acabei queimando a língua e o voto. O seu palanque de apoio nas últimas eleições tinha um padrão “Carandiru” (que me desculpem as exceções). É gente que foi presa, gente que foi processada por improbidade, gente que está envolvida nos mais diversos escândalos. Ele na época, alegou que “apoio não se recusa”. Eu discordo Governador, se o Fernandinho Beira Mar, ou para pegar um exemplo de colarinho branco, Renan Calheiros viessem me oferecer apoio, eu iria educadamente declinar. Certos valores são inegociáveis. Ele também demonstra não ter o espírito democrático dos estadistas. No recente episódio em que chamou algumas mulheres, que protestavam contra o caos que virou o governo Lula, de “mal-amadas”, ele demonstrou, além do machismo retrógrado, uma personalidade que não admite o contraditório (menino rico mimado?). Nós ainda teremos três anos de governo, tempo suficiente para uma pessoa humilde processar as críticas construtivas e mudar o que tem que ser mudado. Será que ele consegue? Estou torcendo para que sim!

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