30 de ago. de 2007

O líder e o humor

Por Ralph J. Hofmann

Lá por 1966 conheci uma pessoa que tinha certa intimidade com membros da família do General Costa e Silva, na época presidente.
Não creio ter havido nenhum presidente desta fase do Brasil sobre quem mais se contavam piadas. Castelo Branco era um sujeito sério, Médici, sisudo, Geisel, distante e Figueiredo, bem, era Figueiredo.
Mas Costa e Silva era de fato um sujeito que se prestava a piadas. Havia histórias sobre seu amor ao turfe, havia histórias sobre sua falta de inteligência e assim por diante.
Por exemplo, tem aquela do: “Fulano, sei o que é Petrobrás, Radiobras e outras, mas o que faz esta Emobras que tem placas em todos os lugares do Brasil que visito?” A resposta: "Em obras meu General".
Não tenho hoje a menor idéia de como era realmente intelectualmente o General. Sei que o exército não era pródigo em promoções para pessoas que não tivessem certo QI. Mas em um sentido, pelo que me contou esta pessoa ligada por amizade ao filho do General, percebi que tinha um excelente senso de humor. Aparentemente ele fazia questão de colecionar todas as “piadas de Costa e Silva” que surgissem.
Perguntado sobre a razão disso comentou que lera em algum lugar que enquanto se fabricam piadas sobre o governante as coisas ainda vão bem. Quando cessam as piadas, ou as pessoas não se atrevem a contá-las abertamente, aí é que o barril está a ponto de explodir.
Anos depois, eu estava na FISA, Feira Internacional de Santiago, no Chile. Pinochet estava por passar pelo nosso stand. Os vendedores ligados a nós estavam aí perto contando piadas sobre o Pinochet, apenas sobre o Pinochet, sobre nenhum outro general da junta militar.
Eu conversava com um chileno distinto, de porte militar, com aparência mais britânica ou escocesa do que hispânica. Aparecera no stand e se detivera, rindo das piadas. Do espanhol passamos a falar inglês. O dele era fluente, e com sotaque escocês. Depois de um tempo identificou-se como oficial da Armada chilena. Era descendente de uma daquelas famílias de oficiais navais ingleses que tem tanta presença na história das Américas. Perguntei se devia pedir à turma que parasse de contar este tipo de piada. Ele respondeu que não. Disse o mesmo que havia dito Costa e Silva. O regime sabia que as piadas eram salutares. Reduziam a pressão.
E aí vamos nós para Lula e o “Bêbado e o Equilibrista”. Não pense Lula que Churchill não foi alvo de piadas. Seu hábito de tomar champanhe no café da manhã e uma garrafa de conhaque à noite não era desconhecido. Mas a estatura do homem era tal que isto não queria dizer nada. A rainha-mãe da Inglaterra tomava uma garrafa de gim por dia. Ainda assim era o membro mais amado da família real.
O problema de Lula é outro. Quem se importaria com a 51 se Lula presidisse o país com firmeza. Poderia tomar tanto quanto quisesse. Talvez se nos seus comparecimentos em público não tivesse rompantes absurdos, desdizendo discursos de anos anteriores também. Talvez se não fanfarronasse tanto sobre seus feitos e não feitos isso também não quisesse dizer nada. Pode até ser que na maior parte destes quase cinco anos ele tenha limitado seu consumo. Mas pelo que diz freqüentemente é mais gentil dizer que andou bebendo do que dizer que ele é mal intencionado, que quer iludir os que o escutam. As piadas evitam o desespero.

Um comentário:

Anônimo disse...

Algumas outras piadas sobre a figura.
Na Escócia, recusou-se a tomar uísque nacional.
Na França, perguntou como se dizia “petits pois” em francês.
Voltou de Cuba, dizendo que sua mulher tinha vindo de “Cuba lançando moda”.
Mas, só o fato de ter concluído, com louvor, diversos cursos militares, não concorre com outro conhecido apedeuta, em matéria de ignorância.