21 de ago. de 2007

Pequeno burguês ou Grande burguês?

Por Laurence Bittencourt Leite, jornalista

Lula foi vaiado no Rio de Janeiro junto com o governador do Estado do Rio. Acusaram os manifestantes de serem “pequeno-burguês”. O palavreado pequeno-burguês nasce com as manifestações ditas socialistas, para criticar a classe média que não era, mas tinha aspiração de usufruir dos mesmos bens e benefícios materiais dos grande-burgueses. Mas fiquei imaginando, diante de tanta mordomia usufruída por ele, em que esfera ele estaria. Seria Lula um “grande-burguês?”. E o governador do Rio de Janeiro onde estaria nesse palavreado? Também na dos “grande-burgueses”? Afinal quem “mora” em dois Palácios no Rio de Janeiro é o próprio governador. Pago por quem? Deixa pra lá. Eles também disseram que se tratava de “minoria?”. Ué, e minoria não pode se manifestar? Lula quando se dizia “minoria” adorava protestar e odiava quem não permitia que ele se expressasse. Como a natureza muda.
Mas cabe a questão: se era mesmo “minoria”, porque a preocupação? Sinceramente, a cada dia fica mais claro para mim, que o golpismo que os petistas acusam e vêem nos outros, ou seja, a quem lhes faz críticas, na verdade esconde um desejo (ainda) enorme de levar esse país a um golpismo. Freud explica. A história também. Seria bom que não se materializasse.
Mas por que o PT não aceita críticas? Essa é a questão fundamental. O PT nesse sentido apenas obedece a mesma mentalidade autoritária e com vocação ditatorial na política desse país. Mas é bom perceber que um dia teríamos um movimento que ao iniciar parece a cada dia ganhar mais forças e que vem dando mostras de que é melhor ir às ruas e vaiar “como nunca se viu nesse país”, tantos abusos, absurdos e corrupções, como os ocorridos e perpetrados pelo governo do senhor Luiz Inácio Lula da Silva, do que cruzar os braços.
A acusação de golpismo do PT, claro, nada mais é do que um sentimento de exclusão (inconsciente) a quem possa se opor ou tomar-lhes o poder. Mas a questão suprema envolvendo Lula, na minha avaliação, nem chega a ser o próprio Lula, mas perceber que nos falta alternativa clara e confiável nesse país. Claro, porque diante de todos os escândalos envolvendo Lula, seu filho, seu partido, etc, etc, etc, ele já era para estar fora do poder e preso. A questão é que o nosso mundo político é um desmando, quase diria, absoluto, se bem que eu não saberia apontar onde estaria o relativo.
Mas espero e torço sinceramente que esse movimento iniciado em São Paulo, que passou por Cuiabá, que andou por Minas Gerais, que chegou ao Rio, e que voltou novamente a São Paulo, continue firme. E o próprio andar do movimento parece confirmar que no Brasil as coisas caminham lentas, mais caminham. A própria eleição de Lula é um desses fatos, ainda que lamentável, na minha avaliação. Mas, é a democracia, como se diz. Democracia diga-se, que os petistas nunca tiveram a menor vocação. Mas isso é outra história.
O certo é que o movimento “Cansei” parece, sim, estar se consolidando. De forma lenta, aos poucos, mas é inegável que a “vaia” vai pegando. O próprio Lula “fugiu” do Rio Grande do Sul para vir para o Nordeste em um momento complicado, o que mostra que Lula é um produto do marketing. Mas repito: qual a alternativa confiável e que mude a nossa história de “exportações” eternas sem termos e consolidarmos um mercado interno? O acumulo de reservas, a “ênfase” nas exportações sempre foi o nosso mote, seguido a risca por Delfin Neto e Cia. Nunca tivemos um mercado interno. Mas como tê-lo se 50% da população vive num patamar de miséria? Lula faz proselitismo com o dinheiro arrancado da classe média “pequeno-burguês”, mas não cria um ambiente onde as pessoas possam se sustentar sem necessitar da esmola e dependência do governo. Simplesmente eles não sabem criar, nem querem criar. Apenas explorar esse estado de coisas, colocando a culpa, incrivelmente em quem financia os “Bolsas famílias”. Nesse sentido Lula é um charlatão, pois fazia discurso contrário, e agora vive das tripas forras da miséria, vivendo nababescamente, numa vida de “grande-burguês”.
Acusar o movimento de “elite branca” é fazer o jogo nazi-fascista-petista, da vitima que não tolera crítica. A idéia do PT é de que apenas eles sabem governar, quando nada tem de novo. Muito ao contrário. Mas a idéia de censurar um movimento que apenas se inicia, mostra um dos nossos maiores paradoxos. Se o PT se diz democrático, porque a tentativa de censura? E mais: como se pode cobrar liberdade se quem a quer para si, se opõe a divergência? Há uma contradição na base, na própria raiz daquilo que se diz defender. A questão é como esperar essa “percepção” dessas pessoas? Mas ai seria pedir demais, penso eu.

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